quinta-feira, 31 de maio de 2012

Vibradores, dildos e estupidez humana

Em Outubro de 2009, no Estado do Alabama, foi aprovada uma lei que proíbe a venda de dildos, de vibradores e de qualquer outro instrumento designado para estimular os órgãos genitais humanos.
Esta lei toma como suporte a alegação de que o Supremo Tribunal dos Estados Unidos não estabelece como principio constitucional a liberdade sexual, que poderia  ser uma espécie de análogo da liberdade de discurso ou da liberdade de religião, essas sim consignadas constitucionalmente.
Reconhece-se que a liberdade sexual não é um direito porque não está consignada na constituição; mas, ao mesmo tempo que se proibe a venda destes instrumentos sexuais para uso privado e sem qualquer aparente contraindicação, toleram-se níveis inconcebíveis de pornografia hard score, com base na liberdade de discurso constitucionalmente estabelecida. Quer dizer, a pornografia é um discurso e não se pode proibi-lo porque isso atentaria contra a liberdade de expressão do pensamento. Não está mal apanhado, não senhor! Mas fica a impressão de que incidentes deste tipo são bem o espelho de um país onde andam de braço dado poder tecnológico e estupidez humana.

 A proibição invoca a “moralidade pública e assim veicula a mensagem de que usar dildos e vibradores é imoral. Mas se perguntarmos porque é que é imoral, a única resposta que encontramos é de natureza religiosa: é imoral porque vai contra princípios religiosos, nomeadamente aquele que, com Tomás de Aquino no século XIII,  o Cristianismo defendeu de que o prazer sexual, se não estiver ao serviço da procriação, é imoral porque contraria o desígnio de Deus; quer dizer o prazer sexual é um pecado se não visar, ou no mínimo permitir, a procriação porque no plano divino é esse o uso que o sexo deve ter.
Ora o que é espantoso é que, num país onde a governação repousa na separação entre Estado e Igreja, continua a ser a Igreja e as crenças religiosas a definirem o que é moral e imoral e os legisladores desistem da sua autonomia e  submetem a legislação às crenças religiosas.

Também no século XIX, nos Estados Unidos, cristãos evangélicos e charlatães da medicina alertavam para a degradação que a prática da masturbação acarretava e avisavam os pais de que deviam estar atentos pois de outra maneira os filhos estariam sujeitos a debilidades, violência e confinamento em asilos para loucos, e as filhas estariam sujeitas a doenças terríveis, vícios de fornicação e até prostituição. Quer dizer a masturbação era um pecado porque contrariava o desígnio divino e para dissuadir as pessoas de se lhe entregarem reforçava-se com o perigo que implicava.
Felizmente ainda não se lembraram de interditar a venda de contracetivos porque aí a justificação é que se trata de liberdade reprodutiva e não sexual. Também a conduta homossexual privada não é proibida, com base no direito a não ser discriminado. Mas se as pessoas se descuidarem, num movimento continuo e consistente, as forças da reação são capazes de lá chegar. É que o obscurantismo não só não desaparece como tem tendência a reforçar-se e se não dermos atenção é exatamente isso que acontece. As ervas daninhas não precisam de ser cultivadas, crescem espontaneamente.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Sexo, pecado e morte

A associação, sexo pecado e morte foi estabelecida pelos teólogos católicos da Idade média; independentemente das motivações, esta estratégia serviu para reprimir o sexo e controlar o amor erótico.

Agostinho de Hipona, no século IV, lançou os alicerces da estratégia e construi a primeira tentativa teológica de ligar elementos aparentemente tão diferentes; a conexão prevaleceu durante séculos na doutrinação cristã e ainda hoje encontra pontos de ancoragem na doutrina oficial da Igreja Católica bem como em igrejas fundamentalistas protestantes.
Agostinho elaborou uma interpretação sexualizada da história do pecado original; na sua versão, a serpente tentou sexualmente Eva e esta por sua vez conseguiu que Adão tivesse relações sexuais com ela, à revelia e contrariamente ao plano de Deus, que os castigou condenando a sua prole à mortalidade; sexo, pecado e morte estariam assim intimamente ligados: o sexo foi uma transgressão, representou desobediência a Deus, um pecado capital, e a punição foi a morte.

Com esta interpretação do pecado original, o sexo passava a estar na origem de todos os males e de todos os pecados e, em simultâneo, Eva passava a ser aquela que tinha tentado o homem e o tinha desviado da reta conduta.
A partir daí, a atitude de hostilidade em relação a sexualidade tornava-se a nota dominante do cristianismo; mas como a pulsão sexual era demasiado forte para ser suprimida, a solução encontrada pela igreja para tolerar o intolerável foi regular o sexo e procurar contê-lo nos limites do casamento monogâmico, orientado exclusivamente para a procriação.


sexta-feira, 25 de maio de 2012

Estetizar a maternidade precoce e a prostituição - ou de como reativar o velho ideal de feminilidade


Publico hoje o texto de Mona Cholllet que explica muito bem como se continua a esperar que as mulheres sejam santas ou putas, cumprindo em qualquer dos casos uma 'importante função social'.

“Nos últimos meses, parece que os cineastas franceses assumiram a missão de mostrar às jovens das classes médias e populares como superar o destino que as espera: estudos inúteis, ou nenhum estudo, seguidos de uma longa vida de trabalho ingrato por um salário irrisório. Contudo, trata-se menos de encorajá-las a fazer uma leitura política de sua situação que de afirmar a existência de ricos e pobres hoje, ontem e amanhã. A pobreza é tratada como um dado estável da história da humanidade – ou mais ou menos estável, pois ninguém tem dúvida de que, recentemente, os mais pobres estão se tornando mais pobres, e os mais ricos, mais ricos. Isso faz suspeitar que haja certos mecanismos políticos operando nesse cenário, mas repeti-los pode revelar um populismo de mau gosto, sobretudo se você for uma linda jovem, que horror! Ademais, por quê mergulhar em reflexões extenuantes se a natureza deu-lhe todo o necessário – um corpo jovem, sedutor e saudável – para superar essa situação?

Em dezembro, estreou na França o filme 17 filles [17 meninas], de Delphine e Muriel Coulin. Inspirado na história real de 18 estudantes norte-americanas que engravidaram ao mesmo tempo em 2008, foi transposto para o universo francês da cidade de Lorient e interpreta o acontecimento de maneira fortemente idealizada. As diretoras apresentaram a gravidez adolescente como uma rebelião romântica contra o universo opressivo de pais e professores, e colocaram em cena atrizes magras e lindas, filmadas com beleza e fascinação.

Afirmar o caráter “subversivo” da maternidade precoce implica ocultar as campanhas de prevenção existentes há anos nos Estados Unidos e, em menor medida, na Europa. Após o filme norte-americano Juno, de 2007, as transmissões de Teen mom (Mãe adolescente) e 16 and pregnant (16 anos e grávida), na MTV; 16 ans et bientôt maman (16 anos e logo mamãe), no M6; ou Clem, maman trop tôt! (Clem, mamãe muito cedo) e Ados et déjà mamans (Adolescentes e já mães), no TF1, são testemunhas da estetização desse problema social. Na França, em 2011, o videoclipe da canção Aurélie, de Colonel Reyel, teve 23 milhões de visitas no YouTube e fez a alegria daqueles que se opõem à interrupção voluntária da gravidez (IVG): “Aurélie tem apenas 16 anos e espera um bebê/ Seus amigos e parentes aconselham o aborto/ Ela não está de acordo, ela quer fazer as coisas diferentes/ Ela diz que está pronta para ser chamada de ‘mamãe’”.

Apesar dessa atmosfera cultural, por enquanto os números seguem estáveis: na França, são registrados alguns milhares de maternidades precoces por ano – dez vezes menos que nos Estados Unidos. Por outro lado, o lar representa uma ocupação atrativa para mulheres de todas as idades perante os baixos salários e meias jornadas do mercado de trabalho; para as mulheres de hoje, assim como para as da década de 1970, emprego não é sinônimo de independência financeira.

Depois da mãe precoce, aparece a prostituta. Em fevereiro, estreou Elles [Elas], de Malgoska Szumowska, filme de ficção sobre a prostituição estudantil, um fenômeno em expansão a ponto de algumas faculdades lançarem campanhas internas de prevenção. Uma das heroínas paga aluguel, está fazendo cursinho e não tem tempo de estudar porque chega esgotada do trabalho em um restaurante de fast-food; a outra desembarca de sua Polônia natal e depara com o preço do aluguel de um quarto em Paris. Por acaso, as duas percebem que homens endinheirados podem repartir um pouco de suas fortunas em troca de momentos de cumplicidade carnal e intimidade. Em definitivo, o mundo não parece tão ruim.

Ambas são convocadas para uma pesquisa da revista Elle e entrevistadas por uma jornalista (Juliette Binoche) cheia de preconceitos, que não conhece o prazer erótico. O filme perpetua as representações misóginas inerentes à prostituição: o burguês frustrado é um ser sensível e triste, com esposa e filhos; a burguesa frustrada, por outro lado, é uma sombra brutalizada, uma criatura grotesca. Única responsável por seu fracasso, falta com seus deveres mais sagrados. Diante de suas interlocutoras, a jornalista percebe que ela “não compreende bem o tema sobre o qual as jovens falam sem dificuldade: dar prazer”. Note-se: dar, e não receber.

As cenas com os clientes são cheias de humanidade tocante, excessos charmosos, transgressões quentes e canções de amor com violão. Ao mesmo tempo, quando lançava sua própria linha de lingerie, a ex-prostituta de luxo Zahia Dehar, que em 2009 foi o “presente de aniversário” do jogador de futebol Franck Ribéry, era manchete do Next, suplemento de moda do Libération (4 fev. 2012). O estilista Karl Lagerfeld acreditava que ela se inscrevia “na linha de cortesãs francesas”, uma “tradição puramente nacional que o mundo inteiro admirou e copiou”. A jornalista ex-prostituta entendia sua história como um “imenso respiro” em uma sociedade “condenada à era dos herdeiros”: não, o elevador social não está bloqueado…

Se nem todas as mulheres se deixam seduzir por esse “conto moderno” (título do perfil da ex-prostituta), todas são convidadas com uma insistência particular a comportar-se como objeto mais que sujeito. Os critérios estéticos e as roupas que definem a qualidade “sexy” são sugeridos desde a mais tenra idade, e em geral com grande adesão: a moda e a beleza representam, ao mesmo tempo, a passagem para a ascensão social e a entrada em um universo de sonhos.

Assim, a crise e a falta de perspectivas individuais e coletivas parecem reativar a feminilidade mais arcaica, percebida como uma saída em uma sociedade dura, competitiva, implacável – seja no recolhimento do lar ou na busca por um lugar ao sol (a panóplia da mulher fatal). Lado mãe ou lado prostituta, essa feminilidade se define em função das necessidades e expectativas dos outros. Aquelas que se conformam com essa condição reprimem seus próprios desejos, opiniões e ambições íntimas. “Bem longe do ideal das lutadoras de outrora, das mulheres livres, das intelectuais e mulheres de poder, a feminilidade hoje parece responder a apenas um atributo – a sedução – e ter um único objetivo – a maternidade. Os homens e as crianças primeiro!”, escreve Maryse Vaillant,3 que enxerga uma persistente censura intelectual sobre a sexualidade de suas semelhantes. Em Next, Zahia conta que quando criança, na Argélia, era a “primeira aluna da classe”. Adorava matemática e sonhava em ser “piloto de avião”.

Exercer uma profissão por gosto, existir socialmente por outras competências além da maternidade, da sexualidade e da sedução, e conquistar a independência financeira dormindo apenas com quem se quer: ser mulher, sobretudo se não se nasce em berço de ouro, significa lutar. Mas, atualmente, nem isso parece ser um objetivo.”

Mona Cholllet é autora de Rêves de droite (Sonhos de direita), Paris, editora Zones, 2008.


terça-feira, 15 de maio de 2012

O Síndrome de Estocolmo na relação entre o proxeneta e a prostituta


Porque é que as jovens vítimas de trafico sexual não correm para a policia a denunciar quem as explora?
Withelma Ortiz, atualmente com 22 anos, traficada pela primeira vez quando tinha dez, constituiu um caso paradigmático que iremos referir, designando-a por T.

Com o pai biológico preso e a mãe em parte incerta, T foi adotada por famílias nas quais, como relata, sofreu abusos sexuais e psicológicos. Fugiu a esse meio, aliciada por um homem com promessas sedutoras. Durante cinco anos viveu com esse homem que a obrigou a prostituir-se e que se zangava e a tratava com extrema violência quando a receita não lhe parecia suficiente, mas que em seguida se arrependia, pedia desculpa e acariciava, uma agradável surpresa para quem apenas estava habituada a apanhar.
Quando o chulo foi preso por tráfico de drogas, T recusou testemunhar contra ele. Posteriormente arrependeu-se de o não ter feito, mas nós percebemos que ela foi apenas mais uma vítima do síndrome de Estocolmo.

O tipo de relação que T tinha com o seu chulo envolvia nítida manipulação psicológica muito comum nas situações de exploração sexual, nas quais jovens extremamente vulneráveis são vitimas fáceis de uma mistura de violência e ternura que as degradam para depois as enaltecerem e ficam presas aos seus chulos dos quais se sentem dependentes, num típico caso de afeto mal colocado.
Nestes casos, a conclusão que se pode tirar é que para raparigas e mulheres criadas em meios muito desfavorecidos, a dependência é profunda e, se uma jovem nunca foi apreciada nem teve manifestações de carinho, é muito difícil acusar aquele que, apesar de tudo, pareceu dar-lhe algum.

Em Nova Yorque, alguns anos atrás, ocorreu um incidente curioso que acaba por ter um significado equivalente. Várias mulheres, presas por prática de prostituição, todas oriundas da mesma região, tinham em comum uma tatuagem em diferentes partes do corpo com o nome King Koby. A investigação levou à detenção de Vincent George Sr. e Vincent George Jr., pai e filho, por tráfico sexual. A alcunha do filho era precisamente King Koby; mas as mulheres recusaram depor e recusaram mesmo reconhecer que tinham chulos, apesar de estes, concretamente, como se soube, lhes darem em retorno da “proteção” apenas uns miseráveis dólares para subsistirem.
Com as vítimas de violência doméstica passa-se um fenómeno equivalente. O problema aqui também se liga à dependência económica e emocional das vítimas, relativamente aos seus abusadores .




[1] Texto inspirado no artigo de NATALIE KITROEFF “Stockholm Syndrome in the Pimp-Victim Relationship”


quinta-feira, 3 de maio de 2012

Amor romântico e pornografia – afinal não tão distantes assim!

Não estranho que esta associação escandalize muito boa gente, mulheres incluídas. O amor romântico é quase sacralizado por muitas das pessoas que repudiam a pornografia, por isso preciso de me explicar rapidamente.

O amor romântico continua a ser o modelo dominante, apesar de todas as evoluções, e é instilado nas adolescentes e jovens mulheres através de novelas, filmes, seriados televisivos, música e revistas cor-de-rosa; a mensagem transmitida é que o amor é tudo na vida de uma mulher e que sem amor ela não é nada; procurar um homem; dedicar-se a fazê-lo feliz e tomar conta da sua prole passa a ser o seu projeto de vida, afinal, não tão diferente assim do projeto das esposas dos cidadãos atenienses do período clássico, há mais de dois mil e quinhentos anos, reclusas no gineceu. Hoje, meios modernos de controlo e de exercício do poder não exigem medida tão drástica.

Ao amado tudo a mulher deve sacrificar, nomeadamente o que é mais precioso, a sua subjetividade, a sua individualidade, a sua existência como entidade própria e autónoma, para passar a ser uma não entidade, a esposa do sr. x. O amor romântico prega a fusão de dois indivíduos num só, mas esquece que, dada a assimetria de poder ainda existente e sobejamente conhecida, essa nova entidade resultante da fusão é tendencial e geralmente masculina, quer dizer quem vai sacrificar a individualidade é a mulher, é ela que é convidada a desistir da sua subjetividade, dos seus projetos, para se acomodar aos projetos e necessidades do companheiro. É ela que é convidada a anular-se como sujeito; ora, quando uma pessoa se anula como sujeito, passa a ser percebida e a perceber-se como objeto, como instrumento ao serviço de outrem; o estatuto pode até ser privilegiado, a gaiola pode ser dourada, a adesão pode mascarar a violência simbólica exercida, mas a situação é essa e não há volta a dar-lhe.

Com o sexo, tal como é explorado pelos anúncios publicitários e pela pornografia main stream, passa-se algo equivalente embora com contornos diferentes; aí ocorre a objetificação pura e dura da mulher sem a pírula dourada do revestimento romântico. Assim como no amor a função da mulher é agradar ao amante, anulando-se, também no sexo a função da fêmea é agradar ao macho, assumindo que os desejos deste são os seus desejos, esquecendo a sua própria sexualidade para melhor se integrar numa sexualidade fálica e androcêntrica.
Amor romântico e pornografia cumprem assim, por meios diferentes, uma mesma função, a de objetificarem as mulheres, justificando o seu lugar secundário e subserviente na organização social.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Religiosas católicas - uma merecida homenagem!


Vem este post a propósito de um artigo publicado aqui por Nicholas D. Kristof, no qual o conhecido colunista rende as suas homenagens às religiosas católicas que, diferentemente da hierarquia, prestigiam a Instituição e revitalizam a mensagem do Evangelho.

Kristof lembra que, de certo modo, as religiosas foram as primeiras feministas da história, desempenhando profissões de prestígio, como enfermeiras, diretoras de hospitais, escolas, etc., em épocas em que a generalidade das mulheres nem sequer se atrevia a ultrapassar os limites domésticos rigorosamente prescritos.

Hoje, muitas religiosas, nas mais diversas partes do mundo, desafiam senhores da guerra, proxenetas e bandidos; pelo seu trabalho devotado aos setores mais carenciados das populações contrabalançam as ações pouco edificantes do alto clero que em flagrante contraste tentou esconder os abusos sexuais de crianças, precisamente os seres mais vulneráveis, de entre os vulneráveis.

Neste contexto não pode deixar de provocar perplexidade a atitude do atual papa que, parecendo ignorar esta dimensão do trabalho das religiosas, pela voz dos seus bispos, repreendeu recentemente as freiras norte-americanas acusando-as de se preocuparem demasiado com os pobres e de não darem a devida atenção ao problema do aborto e do casamento entre pessoas do mesmo sexo; isto é, estabeleceu prioridades mais do que duvidosas.

Kristof lembra que Cristo, na sua mensagem evangélica não se cansou de abominar a pobreza e de lutar pela justiça social e nunca se referiu explicitamente ao aborto ou à homosexualidade. Será que afinal as freiras católicas estão mais próximas do cristianismo na sua pureza original do que o papa Bento XVI? Pode bem acontecer!

Parece todavia que o tiro saiu pela culatra porque esta reprimenda teve efeitos inesperados: suscitou nos mais diversos lugares dos Estados Unidos uma onda de solidariedade para com as organizações de religiosas.

Mary E. Hunt, teóloga católica, exprimiu de forma veemente o seu repudio pela  repreensão papal: “Como se atrevem a perseguir 57 mil mulheres dedicadas cuja média de idade está bem acima do 70 e que trabalham incansavelmente em prol de um mundo mais justo? Como é que o mesmo homem que preside a uma igreja em desgraça devido a má conduta sexual e à cobertura dada pelos bispos se atreve a distrair-se dos seus próprios problemas, criando novos problemas às religiosas?”

As comunidades parecem ter percebido bem que as "irmãs" estão onde está a dor e o sofrimento: nas ruas, junto dos pobres, dos doentes e dos que morrem ao abandono e na solidão. É pois mais do que justa esta homenagem.