domingo, 26 de outubro de 2014

Amor e Intimidade

Antony Gidden escreveu em The Transformation of Intimacy que "a intimidade pode ser opressiva... se for encarada como uma exigência de constante proximidade emocional." Esta afirmação sugere-me algumas considerações que quero partilhar com quem me lê.

Em relação à intimidade, considerada hoje uma componente imprescindível do amor, o que se passa é que os homens, por questões educacionais e culturais, não têm grande dificuldade em revelar experiências sexuais ou desejos “proibidos”; por vezes, até parece que têm prazer nessas revelações - uma espécie de maneira indireta, embora nem sempre consciente, de se valorizarem. Em flagrante contraste, as mulheres têm sempre a sensação de que poderão ser “punidas” pelos parceiros e, por isso, mesmo se não mentem objetivamente, têm tendência a omitir ou a só responder quando questionadas e sempre, e em qualquer dos casos, experimentam desconforto e insegurança nessa situação. Os parceiros poderiam atenuar esse desconforto, se nunca lhes cobrassem nada, mas normalmente não é isso que ocorre e a intimidade acaba por funcionar como mais um mecanismo que permite aos homens, de alguma maneira, controlarem as mulheres.

É permitido, é suposto, que os homens tenham um passado; já as mulheres, mesmo nos dias de hoje, se o têm, precisam de se explicar, de se justificar. Não nos iludamos, as mentalidades continuam persistentemente conservadoras e até reacionárias em relação a este e a muitos outros tópicos. Basta lembrar os exemplos, sobejamente conhecidos, de violência doméstica, os maus tratos e assassínios passionais; mas é preciso perceber que a violência doméstica pode assumir formas muito mais subtis e aqui a exigência de intimidade pode ser uma delas.