domingo, 30 de novembro de 2014

Sexo anal - o que muitas mulheres pensam a respeito do assunto

Este post: Sexo Anal – o que muitas mulheres pensam a respeito do assunto está em linha de continuidade com um outro que publiquei em 10 de Setembro, com o título: Sexo anal – coerção e pornografia - e basicamente é constituído por um comentário que uma leitora Rosalinda Ramos escreveu a propósito e que me pareceu de tal modo lúcido e pertinente que decidi utilizá-lo, dando-lhe os devidos créditos. Sugiro que outr@s leitor@s deste blog o repliquem nos seus para fazer passar a mensagem. Aqui vai o comentário da Rosalinda Ramos, seguido de alguns considerandos meus:

“Penso que podemos extrair um outro significado deste verdadeiro culto ao sexo anal que atualmente vemos na midia, que inclusive vem pregando até a aceitação de um 'novo' padrão de beleza, o das mulheres curvilíneas, como a celebridade americana Kim Kardashia.
Durante as décadas em que o feminismo implementou várias conquistas de direitos para as mulheres, duas reacões do status quo patriarcal se tornaram evidentes: uma foi a imposição do corpo magro e a obcessão de obtê-lo através de dietas e exercícios, significando que as mulheres, enquanto ocupavam e reivindicavam mais espaço na sociedade, deveriam ter esse mesmo espaço reduzido no seu corpo; e a outra reação foi a pornografia que se tornou mainstream e impôs um modelo de sexualidade aviltante para as mulheres, reduzidas a buracos e submetidas a todo tipo de humilhações e torturas, sendo a submissão seu traço naturalizado.
O sexo anal me parece não só uma maneira mais contundente de naturalizar a submissão, como também a dor, o sofrimento. Explico: se não se tomar cuidados e às vezes, até tomando, a prática sexual anal deriva em dor e também em ferimentos, então o estímulo a essa prática significa que as mulheres tem que se submeter ao sofrimento para o prazer masculino (submissão + masoquismo) para com isso, moldar o psiquismo feminino a internalizar que os homens sempre mandam e as mulheres sempre obedecem, mesmo que isso lhes cause desconforto, que é claro, deve ser ignorado, pois o que o homem quer deve ser sempre mais importante para a mulher. Outro significado é desvalorizar o órgão sexual feminino, sempre invisibilizado e tratado como esquisito e possuindo odores estranhos.
O culto ao sexo anal se presta a muitos significados, preconizando a submissão e o masoquismo nas mulheres, o sadismo nos homens e a inadequação do órgão sexual feminino ao ato sexual por não ser tão apertado quanto o ânus. Inclusive existem práticas na pornografia mainstream que servem até ao racismo sexista, pois colocam em cena homens negros de grandes pénis penetrando mulheres brancas com violência no ânus....
Hoje sexo anal virou uma obrigação e tenho certeza que a maioria das mulheres o têm praticado sob coação,  para atender às expectativas sádicas dos homens que querem “arrombar” (uma expressão muito usada para se referir ao ato sexual no ânus, por causa da dificuldade de penetração), as mulheres, para exercerem seu poder, mostrar o lugar de submissão que elas devem internalizar, e manter as divisões sexuais patriarcais intocáveis.”

Este comentário, em minha opinião, é um contributo valioso para se perceber a mensagem que tenho tentado passar de que o modelo de sexualidade é aprendido e de que aquele que continua a ser dominante, apesar de todas as conquistas obtidas pelas mulheres, é o modelo domínio/ submissão. A adoção deste modelo pelas mulheres, quase inevitável dado o contexto, deixa marcas indeléveis na estrutura do seu psiquismo e tem consequências desastrosas a todos os níveis, nomeadamente a nível da sua autonomia sexual, tornando-as coniventes com formas de opressão que agora tem de ser mais sofisticadas, pois não podem ser abertamente declaradas.

Por tudo isto, considero que a tão propalada revolução sexual, que teria libertado homens e mulheres das peias do puritanismo, foi completamente curto-circuitada pela pornografia mainstream e não passa de mais uma balela com que se enganam @s tol@s e se mantém o statu quo, mudando alguma coisa para ver se se consegue que tudo fique na mesma. Acontece, que tanto quanto temos visto, esta estratégia resulta, pelo menos no curto prazo.