domingo, 15 de março de 2015

Sadomasoquismo e ética

Quando se defende que nada há de errado nas práticas sadomasoquistas desde que pressuponham consentimento e correspondam ao desejo da pessoa que vai estar no lugar de ‘vítima’, esquece-se que de facto essas práticas são eticamente condenáveis, pelo menos à luz de duas das mais consideradas teorias éticas, a utilitarista e a rawlsiana, pois estas duas teorias, embora divergentes em muitos aspetos, concordam na consideração de que “o bem é a satisfação de um desejo racional” e que qualquer comportamento eticamente valioso tem de perseguir o bem.

Se nós acordarmos em que o ser humano é um agente racional e é capaz de escolhas racionais, temos de aceitar que não é racional alguém desejar sofrer violência física ou violência simbólica, por exemplo, querer ser degradado e humilhado; portanto, as práticas sado masoquistas, independentemente do consentimento e do desejo, têm de ser avaliadas negativamente do ponto de vista ético.

Um outro aspeto tem a ver com o desejo e com o facto dele nem sempre ser racional porque pode acontecer que decorra de uma construção social, conseguida através de mecanismos subtis e com objetivos que nos escapam. Corremos sempre o risco de formarmos desejos que só aparentemente são nossos, se estivermos desatentos e não exercermos uma atitude crítica/racional. Ora, se temos desejos irracionais é nossa obrigação moral combatê-los em vez de tentar satisfazê-los sob a alegação de que são nossos, gostamos e não prejudicam ninguém, porque de facto prejudicam e nós somos a primeira vítima pois a nossa autoestima vai ser duramente atingida.