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De qualquer modo já avançamos um pouco, e esse pouco é significativo, se lembrarmos que ainda nos fins do século XVIII, Kant podia estabelecer e defender, sem se sentir minimamente perturbado, a necessidade das mulheres serem dominadas pelos homens:
«A natureza requer, explicou Kant, que a espécie se propague. Para esse propósito, é necessária a união entre homens e mulheres, uma união na qual é requerida diferença para assegurar uma adaptação coesa. Para que tal união seja estável, uma das pessoas tem de submeter-se à outra e, correspondentemente, uma deve ser superior à outra de modo a dominar ou governar» (Kant, Antropologia, citado por Andrea Nye in Feminism and Modern Philosophy.)
Deste modo, a filosofia pela voz de um dos seus mais autorizados pensadores deu expressão a um preconceito corrente na época e ainda hoje largamente difundido - Kant não se limitou a exprimir o preconceito, também o reforçou, acrescentando-lhe justificação, fornecendo-lhe o racional. Não passou pela cabeça de Kant que a união entre homem e mulher pudesse ser fundada na cooperação; a relação de domínio/ submissão é por ele vista como inevitável, porque fundada na natureza, e desejável, porque necessária para a perpetuação da espécie.
Afinal a misoginia sempre tem as suas virtudes!!
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