
«No momento em que as mulheres começam a tomar parte na elaboração do mundo, esse mundo é ainda um mundo que pertence aos homens; eles não têm qualquer dúvida acerca disso; elas têm poucas. Recusar ser o Outro, recusar a cumplicidade com o homem, isso para elas seria renunciar a todas as vantagens que a aliança com a casta superior lhes pode conferir. O homem-suserano protegerá materialmente a mulher-vassala e encarregar-se-á de justificar a sua existência; com o risco económico ela evita o risco metafísico de uma liberdade que deve inventar os seus fins, sem apelo. De facto, paralelamente à pretensão de todo o indivíduo a afirmar-se como sujeito, que é uma pretensão ética, há também nele a tentação de fugir à sua liberdade e de se constituir como coisa: é um caminho nefasto porque passivo, alienado, perdido, em que se torna presa de vontades estranhas, anulado na sua transcendência, frustrado de todo o valor. Mas é um caminho fácil: evita-se assim a angústia e a tensão da existência autenticamente assumida. O homem que constitui a mulher como um Outro encontrará pois nela profundas cumplicidades.»
Simone de Beauvoir, Le Deuxième Sexe.
Acho essa passagem do Segundo Sexo muito relevante. Num curso que ministrei sobre o pensamento de Beauvoir tive uma experiência interessante com uma das alunas mais velhas e de mentalidade pequena que só no último dia de aula resolveu encarar a verdade dessas palavras.
ResponderEliminarParabéns pelo blog!
Obrigada pela visita; como deve ter visto já fiz link com o seu blog que me parece bem interessante.
ResponderEliminarabraço, adília