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Assim, mesmo se muitas coisas não foram conseguidas e se o sistema patriarcal ainda se mantém em muitos aspectos, pelo menos o feminismo conseguiu que as mulheres, na grande maioria, interiorizassem sentimentos positivos e adquirissem a consciência de que lhes são devidos os mesmos direitos, liberdades e oportunidades que os homens gozam; regressar ao passado e ao recato do lar doméstico, sem participação na vida colectiva e no mundo do trabalho, parece hoje completamente fora de questão; ora, se lembrarmos que ainda na década de cinquenta do século XX esse era o modelo e o ideal proposto para as mulheres, percebemos bem como os tempos mudaram e como o feminismo contribuiu de forma decisiva para essa mudança.
Há, todavia, um outro aspecto, esse sim mais preocupante, o das mulheres que rejeitam a própria emancipação e que costumamos designar de antifeministas. Mas aqui temos dois grupos e dois estilos, o daquelas que, embora preguem os valores da domesticidade, são tudo menos domésticas e fazem carreiras profissionais, normalmente bem sucedidas, dizendo mal das feministas, e as que sofreram uma tal lavagem ao cérebro que não são capazes de se emanciparem e continuam a viver nas gaiolas douradas que o sistema lhes faculta. Têm medo da mudança e acham sempre preferível o statu quo.
Este segundo grupo, bem mais numeroso, é constituído por mulheres que são enquadradas por uma religião e por um entendimento conservador, literal e fundamentalista dessa religião; pensam que o papel que Deus lhes destinou foi o de serem um apêndice dos seus próprios maridos e que a sua função na vida é gerar e cuidar das crianças que Deus «lhes der». O paradoxo é que estas mulheres vão usar o voto e até as liberdades concretas que as feministas conquistaram para lutar contra instrumentos libertadores, sejam por exemplo o direito à contracepção, ao aborto, ao divórcio, bem como o acesso ao mundo do trabalho socialmente produtivo, e ainda por cima combatem as feministas com todo o ódio que os seus corações e mentes limitadas são capazes de abrigar, não percebendo sequer que a liberdade que gozam de se pronunciarem e de serem ouvidas nos media resultou das reivindicações feministas.
Estas mulheres continuam reféns do modelo que o século XIX lhes propôs e designam-se a si mesmas de «verdadeiras mulheres», isto é, mulheres obedientes aos desígnios de Deus, que é uma outra maneira de dizer, aos seus maridos, eles próprios intérpretes e intermediários da vontade divina. Em 2008, nos Estados Unidos, ocorreu um mega evento, The True Women Conference onde cerca de três mil «verdadeiras mulheres», apostadas em defender a sociedade patriarcal, afirmaram a necessidade de se cultivarem «virtudes tais como pureza, modéstia, submissão, mansidão e amor», uma espécie de retorno a uma moral entendida em termos sexuais e servis, na qual a virtude feminina se restringe à obediência e ao correcto comportamento sexual, mas que promove o fanatismo, a intolerância e o ódio contra quem se lhe opõe, ignorando completamente que a bondade e o rigor ético não passam decididamente por aí. Podemos dizer que estas são mulheres misóginas porque se atribuem a si mesmas pouco valor e se desprezam, pois só um ser que se despreza e que tem uma auto-imagem negativa abdica da liberdade, da autonomia e da capacidade para controlar a sua própria vida.
Este segundo grupo, bem mais numeroso, é constituído por mulheres que são enquadradas por uma religião e por um entendimento conservador, literal e fundamentalista dessa religião; pensam que o papel que Deus lhes destinou foi o de serem um apêndice dos seus próprios maridos e que a sua função na vida é gerar e cuidar das crianças que Deus «lhes der». O paradoxo é que estas mulheres vão usar o voto e até as liberdades concretas que as feministas conquistaram para lutar contra instrumentos libertadores, sejam por exemplo o direito à contracepção, ao aborto, ao divórcio, bem como o acesso ao mundo do trabalho socialmente produtivo, e ainda por cima combatem as feministas com todo o ódio que os seus corações e mentes limitadas são capazes de abrigar, não percebendo sequer que a liberdade que gozam de se pronunciarem e de serem ouvidas nos media resultou das reivindicações feministas.
Estas mulheres continuam reféns do modelo que o século XIX lhes propôs e designam-se a si mesmas de «verdadeiras mulheres», isto é, mulheres obedientes aos desígnios de Deus, que é uma outra maneira de dizer, aos seus maridos, eles próprios intérpretes e intermediários da vontade divina. Em 2008, nos Estados Unidos, ocorreu um mega evento, The True Women Conference onde cerca de três mil «verdadeiras mulheres», apostadas em defender a sociedade patriarcal, afirmaram a necessidade de se cultivarem «virtudes tais como pureza, modéstia, submissão, mansidão e amor», uma espécie de retorno a uma moral entendida em termos sexuais e servis, na qual a virtude feminina se restringe à obediência e ao correcto comportamento sexual, mas que promove o fanatismo, a intolerância e o ódio contra quem se lhe opõe, ignorando completamente que a bondade e o rigor ético não passam decididamente por aí. Podemos dizer que estas são mulheres misóginas porque se atribuem a si mesmas pouco valor e se desprezam, pois só um ser que se despreza e que tem uma auto-imagem negativa abdica da liberdade, da autonomia e da capacidade para controlar a sua própria vida.
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