Nós e o
neoliberalismo
O
neoliberalismo através de uma verdadeira revolução silenciosa com a qual
conseguiu a proeza de modificar a linguagem e o pensamento das pessoas tornou-se
o senso comum da nossa época, isto é, o modo de ser e de pensar que a maioria
das pessoas assume como correto, sem mais indagações.
Desse modo,
todos nós, se não fizermos um escrutínio crítico, contante, difícil, para o qual
muitas vezes nos falta tempo e competência, assumimos uma forma neoliberal de
pensar o mundo e a vida. Vemos tudo e avaliamos tudo em termos neoliberais.
Como
foi isto possível?! Ainda não percebi completamente. Bem sei que a elite neoliberal
tem os cordelinhos nas mãos, domina a informação, as técnicas, a comunicação social,
e agora, o que é extremamente importante e muito poucos perceberam (estou a
pensar na esquerda que está convencida que já sabe o que precisa de saber) domina
as redes sociais, preocupando-se em construir perfis falsos para disseminar o
que lhe convém e para orientar a opinião pública no mesmo sentido.
Além
disso, dá-nos brinquedos para nos distrairmos: telemóveis cada vez mais
sofisticados, programas recreativos que nos embrutecem, pornografia e sexo
virtual e, entretanto, vai navegando, comendo-nos as papas na cabeça.
A
coisa é toda muito bem feita e, embora lamente, tenho de reconhecer que a elite
neoliberal se revela muito mais inteligente do que a esquerda que se julga bem-pensante.
Um exemplo, qual o cidadão comum que alguma vez pensou que ao recorrer à Uber
para se fazer transportar aqui ou ali estava afinal a minar os interesses dos
trabalhadores e alimentar o sistema neoliberal, sistema esse que até é capaz de
criticar em conversas com os amigos? E quem, mesmo tendo já adquirido essa perceção,
é capaz de resistir a um serviço mais barato?
A
questão é mesmo bicuda, porque, como escreveu Pierre Bourdieu, quando o dominado
assimila o quadro de valores do dominante deixa de ter instrumentos para se
revoltar contra a dominação e torna-se cúmplice desta.
O dignóstico é claro, límpido, concordo com praticamente tudo. Acrescentaria selfies com vestidos bonitos, com glamour, em Ibiza, reis e rainhas aqui e acolá, uniformes, tanques, o ronaldo do futebol (sempre gostaria de saber o que Marx pensaria do futebol moderno), a radical alteração causada nas mentes pelos telefones estúpidos (o que é uma autêntica revolução mental, para pior, conquanto aparentemente na comunidade científica ninguém se dê ao trabalho de a estudar ou quem assim o desejasse fazer rapidamente seria um alvo e tornado irrelevante: no funds for saboteurs). E agora, então, faz-se o quê?, usam-se as armas do inimigo e assim passamos a ser inimigos de todos, inclusive de nós próprios? Não sei. Sei é que tento viver de acordo com determinados princípios e sei que a minha vida é curta e sei que é bom vivê-la com algum despreendimento.
ResponderEliminar