VAMOS FALAR DE REDES SOCIAIS!
As
redes sociais são uma forma nova de comunicação social que surgiu e se
desenvolveu com a internet e que, pelo menos aparentemente, é democrática: todo
e qualquer um pode entrar e pronunciar-se sobre o assunto/tema que está sendo
debatido. Têm ainda a particularidade de não pressupor mediatização, isto é, as
pessoas entram diretamente e podem comunicar – pôr em comum - o que bem
entenderem.
Utopia
ou distopia, eis a questão! Para quem participa, pelo menos para muitos, esta
nova forma de comunicação significa a realização de uma espécie de utopia, tanto
mais surpreendente quanto nunca se imaginaram com tal possibilidade e o seu
protagonismo dá-lhes uma sensação de poder que nunca tiveram, ficando ainda com
a convicção de que aqui consegue eliminar-se a função eventualmente manipuladora
do mediador.
Todavia,
se na comunicação tradicional mediatizada se corre o risco de se ser manipulado
pelos ‘donos’ do ‘meio’, aqui, correm-se outros riscos porventura ainda mais
embrutecedores e perigosos Citemos alguns.
- Um dos riscos deste tipo novo de comunicação consiste na proliferação de notícias falsas e na dificuldade a partir daí de se distinguir o verdadeiro do falso.
- Um outro, muito referido porque equivale a uma enorme multiplicidade de experiências reais, está na proliferação de falas de ódio, que afastam muitas pessoas destas verdadeiras arenas dos novos tempos com todas as consequências negativas para a lucidez do debate.
- Um terceiro, que não costuma ser devidamente denunciado consiste na ausência de discurso argumentativo e de apresentação de factos que o corroborem, o que representa um empobrecimento real da comunicação na qual o argumento é substituído pela falácia ad hominem quando não pelo insulto mais soez.
Tudo
isto contribui para que muitas pessoas se recusem terminantemente a participar
nesta nova forma de comunicação porque o chorrilho de asneiras e insultos flui
com tal velocidade que é de facto difícil baixar ao nível e não ficar
seriamente incomodado. Esta reação embora compreensível é contraproducente
porque quanto mais acentuada for a ausência de pessoas com conhecimento e
capacidade argumentativa mais perigosa se torna esta nova forma de comunicação
pois aqui, muito ‘democraticamente’, todos são emissores e recetores em
simultâneo por mais incompetentes que se revelem.
Defender
que há democracia porque todos podem participar, porque há liberdade de
expressão de pensamento é não perceber que a democracia é muito mais exigente: tem de pressupor
informação e conhecimento, boa fé, vontade de ouvir e de entender o ponto de
vista do outro; saber defender aquilo que se acredita corresponder a verdade,
saber dialogar que é a antítese de insultar. Ora nada disto parece estar
presente nas redes sociais. Diria mesmo que este novo tipo de comunicação
social não só não representa qualquer progresso em relaçao aos media que
conhecemos como traz perigos acrescidos para a própria democracia e suas
instituições. Se entendermos a democracia como um procedimento que visa chegar
a decisões que vão ao encontro dos interesses razoáveis – dotados de
razoabilidade – do maior número de pessoas, consenso esse obtido através do diálogo
e da argumentação, na qual se espera que vença a posição que apresenta melhores
argumentos, que vença quem convence, então temos de concluir que tal não será
alcançado através das redes sociais.
Ficam-me
muitas duvidas, mas uma é particularmente perturbadora: isto acontece em função
da natureza deste nova tecnologia de comunicação ou porque ela é
intencionalmente construída para produzir estes efeitos?
P.S
Como se pode deduzir, o meu conhecimento do tema é nitidamente insuficiente,
assim convido quem ler e puder a enviar textos que acrescentem informação e o esclareçam
melhor; poderei publicá-los no blog, identificando os autores.
Quase parece a questão do ovo e da galinha. Penso que no início houve apenas um fenómeno natural impossível de conter e que foi acontecendo, porque o mercado da tecnologia precisava de meios de expansão e os gigantes da informação perceberam bem o alcance desta forma de comunicação. Acaso ou necessidade, acho que foi mais o primeiro. Depois é que o acaso foi transformado em necessidade e mesmo compulsão. Eu amadureci com o nascimento da internet, apanhei ainda o barco, não sem ter primeiro cometido o erro de pensar que a distância é uma forma de proximidade. Entre outros erros. Mas adquiri uma certa cidadania digital que, infelizmente, não existe em todos os utilizadores. Pelo contrário, dir-se-ia que a internet no geral acorda o pior de cada pessoa. Isto, claro, sem contar com o grande número de pessoas que dela sabem tirar proveito para interagir, opinar honestamente, desenvolver negócios e encurtar o espaço. E, assim, mal ou bem, o mundo aproximou-se, globalizou-se, formou-se uma pangeia onde se espera que sejamos, ou onde somos já, iguais, massificados, pacificados e a alinhar pelo mesmo diapasão dos poderes estabelecidos. Em suma se tudo isto não foi arquitetado, pelo menos teve um aproveitamento verdadeiramente pernicioso, no sentido em que anula a ação individual para lhe impor o sentido único do seguidismo.
ResponderEliminarContributo tardio, espero ter respondido ao repto final.
Obrigada pelo seu contributo, que me aguçou a curiosidade para um questionamento mais fino que passo a formular na esperança de que possa, ou outras pessoas possam, responder:
ResponderEliminarQuem são os gigantes da informação? Tem nomes? pagam impostos pela ‘empresa’? Qual o mérito que tiveram, o que de bom fizeram à humanidade?
As redes sociais funcionam em plataformas digitais como por exemplo o Instagram, o Face Book, o Whts’up, o Twitter e outras. Estas plataformas têm donos que as gerem e administram direta ou indiretamente através de funcionários, correto? Que tipo de lucros, materiais e simbólicos, tiram os donos das plataformas?
Agora a questão de fundo: será que a própria forma como essas plataformas permitem a estruturação da rede social que nelas se aloja não empurra as pessoas para um comportamento comunicacional determinado? Por exemplo será que o facto de não haver mediação implica que não existam filtros e as pessoas acabem por não se censurar e dizerem as maiores bacoradas imagináveis? Será que não permite facilmente a criação de perfis falsos para manipular por exemplo potencial eleitorado?
A s redes sociais têm regras? Quem escrutina essas regras quanto à sua legitimidade e percebe se estão ou não a ser observadas; essas regras são conhecidas dos utentes?
Eu sei que são questões complexas, será que conhece (conhecem) algum artigo claro e elucidativo sobre este assunto que me possa sugerir?
De quem é a Internet, é só de privados? O que é que os Estados fornecem para ela funcionar? Infraestruturas materiais?
Como é que supostamente pode exercer a sua cidadania digital, que direitos pode exigir e a quem os pode exigir? Eu não faço a mínima ideia.
Porque é que ate agora só a extrema direita terá percebido o potencial político das redes sociais, porque é que a esquerda continua surda e muda? Ignorância ou moralismo com a pretensão de não se sujar, não mete as mãos na massa. Se calhar as duas coisas, ambas péssimas.