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Considerando como as comunidades, e nestas as próprias famílias, funcionaram e funcionam enquanto mecanismos opressores e repressores dos elementos femininos, insistir nos direitos do indivíduo, defender que a identidade do indivíduo não é anulável pela sua pertença a uma comunidade, representa um valor inestimável, uma conquista da humanidade e para as mulheres algo de que não podem desistir sob pena de se regressar à idade das trevas. O conceito de direitos do indivíduo revelou-se assim um instrumento poderoso na luta das mulheres contra a opressão de que têm sido vítimas e permitiu-lhes reivindicar com sucesso o direito a tomarem decisões acerca da sua própria vida.
Por outro lado, a linguagem dos direitos é uma que todos compreendem, não requer explicações adicionais e permite que se percebam rapidamente as injustiças de que as mulheres têm sido o alvo preferencial, pois que se os seres racionais merecem respeito e reconhecimento dos seus direitos, então, se as mulheres são seres racionais, elas também merecem o mesmo respeito e reconhecimento dos mesmo direitos e, se tal não acontece, algo está errado e é moralmente repreensível. Como se pode ver, uma argumentação clara, consistente e … irrespondível.
Por último, mas não menos importante, o pensamento liberal repousa no conceito de indivíduo enquanto capaz não só de razão, mas também de reflexão e de auto-reflexão e não puramente determinado por forças biológicas e sociais que escapem completamente ao seu controlo. Este conceito é importante pois que, se aceitássemos, como pretende a sociobiologia, a noção de que o indivíduo é determinado, então poderíamos perguntar onde é que, nesse contexto, fica a ética, pois deixaríamos de poder julgar os comportamentos como certos ou errados, e nesse caso a opressão das mulheres surgiria como algo inevitável e não susceptível de apreciação moral.
Por todas estas razões, penso que o pensamento liberal continua a ser um aliado poderoso do feminismo.
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