domingo, 4 de setembro de 2011

Marx e a questão das mulheres

Embora haja entre marxismo e feminismo uma certa tensão, não podemos deixar de reconhecer que Marx foi uma voz sensível à injustiça com que as mulheres eram (e em muitos aspectos continuam a ser) tratadas. O marxismo é acima de tudo um humanismo - o ser humano está no centro do pensamento marxista. Marx aposta na criatividade do ser humano e na sua capacidade de moldar o mundo exterior e, apesar de reconhecer que os seres humanos estão sempre condicionados pela sociedade em que vivem e pela classe social a que pertencem, acredita que têm potencial para se libertarem.
Marx rejeitou a discriminação contra as mulheres e denunciou a legislação que as proibia de disporem dos seus próprios bens sem a intervenção e o consentimento dos maridos. Acreditava que eram possíveis novas relações entre homens e mulheres desde que se verificassem transformações profundas nas relações de produção e na forma de organização do trabalho. Em várias ocasiões teve oportunidade de mostrar a sua solidariedade para com as mulheres.
Quando, em 1853, a conhecida novelista Lady Bulwer-Lytton tentou publicar as suas ideias políticas - que não coincidiam com as do seu ilustre marido - não só não o conseguiu como foi internada num asilo para alienados mentais; nessa altura Marx publicou um artigo em que a defendia e condenava o sexismo.
Quando escrevia sobre problemas dos trabalhadores não se limitava a referir a situação dos operários; com frequência reportava a situação de mulheres e mesmo de meninas injustamente tratadas, como aconteceu, por exemplo, com o caso de uma menina de nove anos que, tendo caída exausta no chão da fábrica, foi em seguida acordada e obrigada a retomar o trabalho.
Diferentemente de muitos intelectuais de esquerda - caso flagrante do misógino Proudhon - Marx entendia que a verdadeira revolução social só seria conseguida se pudesse contar com a emancipação das mulheres. Esta atitude de Marx é tanto mais de admirar se pensarmos que, mesmo no século XX, o chauvinismo masculino foi uma constante nos movimentos revolucionários liderados pelas elites de esquerda.
Por último, mas não menos importante, Marx criticou a família patriarcal, mostrando como esta reproduzia, ao nível da unidade familiar, as relações de opressão existentes na sociedade mais vasta: a mulher era a escrava e o marido o senhor, o marido era o burguês e a mulher o proletário.

5 comentários:

  1. Beleza! Estava precisando desta reflexão. Beijo do Rio de Janeiro, Ana

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  2. Oi, Ana
    Obrigada pelo comentário. Continue a aparecer por aqui, é sempre benvinda.
    Beijo, Adília

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  3. Tenho impressão que o Engels era bem mais sensível a questão das mulheres. Nunca fui muito interessado em biografias, mas alguns já me contaram fatos da vida dos autores que sinalizavam isso. Até onde posso ver a obra mais crítica ao patriarcado é assinada por Engels.

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  4. Oi, Thiago
    De facto a reflexão mais sistemática foi feita por Engels em "A origem da família, da propriedade privada e do estado" e já tive oportunidade de lembrar o seu contributo aqui no blog; mas Marx também revelou sensibilidade para o problema como tive ocasião de referir.
    Adília

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  5. Vc está certa. Ainda nao entendi por que mutias mulheres e homens vêem tudo isso de forma diferente. Ainda nos anos 80, quando eu estudei MARX durante o curso de Economia, já sabia disso. Mas nunca é tarde revisar por que tem gente que nao consegue fixar as idéias.

    Acho que te encontrei lá Denise e vim te visitar,. Gostei de seus pontos de vista. Se brincar, a cópia do que eu penso sobre aMARCHA DAS VADIAS E AFINS...
    DIAS FELIZES

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