domingo, 30 de junho de 2013

A vulnerabilidade das mulheres na Turquia
Há sempre algo de arriscado mas ao mesmo tempo de verdadeiro ao proclamar que as mulheres são particularmente vulneráveis. A proclamação pode ser tomada como significando que as mulheres têm uma vulnerabilidade definidora e imutável, e esse tipo de argumento pavimenta o caminho para a proteção paternalista. […]
E no entanto há boas razões para argumentar pela vulnerabilidade diferencial das mulheres, elas sofrem desproporcionalmente de pobreza e de literacia, duas dimensões muito importantes para qualquer análise global da condição das mulheres.
As mulheres têm estado extremamente ativas nos protestos do passado mês como se pode ver nas imagens tomadas no parque Gezi, na praça de Taksim em Istanbul, Kizilay or no parque Kuglu em Ankara, Eskisehir, Antalya, apenas para nomear alguns locais em que a polícia atacou os manifestantes. […]
A vulnerabilidade nos dois sentidos acima identificados tem estado sempre muito presente. A degradação da situação das mulheres na Turquia, desde que o A.K.P. tomou o poder, tem sido um dos principais temas na retaguarda dos protestos: aumento na violência doméstica, movimentações para ilegalizar o aborto (e as cesarianas!), relaxe nos esforços para assegurar que todas as raparigas frequentem as escolas. E obviamente isto colocou o governo na posição de emitir editais paternalistas: “Mães, levem os vossos filhos para casa”, ao qual as mulheres no parque Gezi responderam fazendo uma cadeia humana para proteger os jovens no seu interior.
Certamente que, mesmo na perspetiva dos manifestantes, é difícil evitar todos os preconceitos de género, e as mulheres são ainda referidas com muita frequência como mães, tias, irmãs, mais do que como manifestantes. Mas, fundamentalmente, as pessoas lá são pessoas que querem ter alguma coisa a dizer sobre o modo como devem ser governadas, e que querem proteger os seus espaços verdes e, apesar de tudo, as barricadas parecem bem mais equilibradas em termos de representação de género, do que pareciam no quadro de Delacroix do século XIX em França.”

Texto publicado no blog Feminist Philosophers, em 29 de Junho de 2013, (tradução de Adília)