Antony Gidden escreveu em The Transformation of Intimacy que "a
intimidade pode ser opressiva... se for encarada como uma exigência de constante
proximidade emocional." Esta afirmação sugere-me algumas considerações que
quero partilhar com quem me lê.
Em relação
à intimidade, considerada hoje uma componente imprescindível do amor, o que se
passa é que os homens, por questões educacionais e culturais, não têm grande
dificuldade em revelar experiências sexuais ou desejos “proibidos”;
por vezes, até parece que têm prazer nessas revelações - uma espécie de maneira
indireta, embora nem sempre consciente, de se valorizarem. Em flagrante contraste,
as mulheres têm sempre a sensação de que poderão ser “punidas” pelos parceiros
e, por isso, mesmo se não mentem objetivamente, têm tendência a omitir ou a só
responder quando questionadas e sempre, e em qualquer dos casos, experimentam
desconforto e insegurança nessa situação. Os parceiros poderiam atenuar esse
desconforto, se nunca lhes cobrassem nada, mas normalmente não é isso que
ocorre e a intimidade acaba por funcionar como mais um mecanismo que permite aos
homens, de alguma maneira, controlarem as mulheres.
É
permitido, é suposto, que os homens tenham um passado; já as mulheres, mesmo
nos dias de hoje, se o têm, precisam de se explicar, de se justificar. Não nos
iludamos, as mentalidades continuam persistentemente conservadoras e até
reacionárias em relação a este e a muitos outros tópicos. Basta lembrar os
exemplos, sobejamente conhecidos, de violência doméstica, os maus tratos e assassínios
passionais; mas é preciso perceber que a violência doméstica pode assumir
formas muito mais subtis e aqui a exigência de intimidade pode ser uma delas.