Este post: Sexo Anal – o que muitas mulheres pensam a respeito do assunto está
em linha de continuidade com um outro que publiquei em 10 de Setembro, com o
título: Sexo anal – coerção e pornografia - e basicamente é constituído por um
comentário que uma leitora Rosalinda Ramos escreveu a propósito e que me
pareceu de tal modo lúcido e pertinente que decidi utilizá-lo, dando-lhe os
devidos créditos. Sugiro que outr@s leitor@s deste blog o repliquem nos seus
para fazer passar a mensagem. Aqui vai o comentário da Rosalinda Ramos, seguido
de alguns considerandos meus:
“Penso que podemos extrair um outro
significado deste verdadeiro culto ao sexo anal que atualmente vemos na midia, que inclusive vem pregando até a
aceitação de um 'novo' padrão de beleza, o das mulheres curvilíneas, como a
celebridade americana Kim Kardashia.
Durante as décadas em que o
feminismo implementou várias conquistas de direitos para as mulheres, duas reacões
do status quo patriarcal se tornaram evidentes: uma foi a imposição do corpo
magro e a obcessão de obtê-lo através de dietas e exercícios, significando que
as mulheres, enquanto ocupavam e reivindicavam mais espaço na sociedade,
deveriam ter esse mesmo espaço reduzido no seu corpo; e a outra reação foi a
pornografia que se tornou mainstream e impôs um modelo de sexualidade aviltante
para as mulheres, reduzidas a buracos e submetidas a todo tipo de humilhações e
torturas, sendo a submissão seu traço naturalizado.
O sexo anal me parece não só uma
maneira mais contundente de naturalizar a submissão, como também a dor, o
sofrimento. Explico: se não se tomar cuidados e às vezes, até tomando, a prática
sexual anal deriva em dor e também em ferimentos, então o estímulo a essa prática
significa que as mulheres tem que se submeter ao sofrimento para o prazer masculino
(submissão + masoquismo) para com isso, moldar o psiquismo feminino a
internalizar que os homens sempre mandam e as mulheres sempre obedecem, mesmo
que isso lhes cause desconforto, que é claro, deve ser ignorado, pois o que o
homem quer deve ser sempre mais importante para a mulher. Outro significado é
desvalorizar o órgão sexual feminino, sempre invisibilizado e tratado como
esquisito e possuindo odores estranhos.
O culto ao sexo anal se presta a
muitos significados, preconizando a submissão e o masoquismo nas mulheres, o sadismo
nos homens e a inadequação do órgão sexual feminino ao ato sexual por não ser tão
apertado quanto o ânus. Inclusive existem práticas na pornografia mainstream
que servem até ao racismo sexista, pois colocam em cena homens negros de
grandes pénis penetrando mulheres brancas com violência no ânus....
Hoje sexo anal virou uma obrigação e
tenho certeza que a maioria das mulheres o têm praticado sob coação, para atender às expectativas sádicas dos
homens que querem “arrombar” (uma expressão muito usada para se referir ao ato
sexual no ânus, por causa da dificuldade de penetração), as mulheres, para
exercerem seu poder, mostrar o lugar de submissão que elas devem internalizar,
e manter as divisões sexuais patriarcais intocáveis.”
Este comentário, em minha opinião, é
um contributo valioso para se perceber a mensagem que tenho tentado passar de
que o modelo de sexualidade é aprendido e de que aquele que continua a ser
dominante, apesar de todas as conquistas obtidas pelas mulheres, é o modelo domínio/ submissão.
A adoção deste modelo pelas mulheres, quase inevitável dado o contexto, deixa
marcas indeléveis na estrutura do seu psiquismo e tem consequências desastrosas
a todos os níveis, nomeadamente a nível da sua autonomia sexual, tornando-as
coniventes com formas de opressão que agora tem de ser mais sofisticadas, pois não
podem ser abertamente declaradas.
Por tudo isto, considero que a tão
propalada revolução sexual, que teria libertado homens e mulheres das peias do
puritanismo, foi completamente curto-circuitada pela pornografia mainstream e
não passa de mais uma balela com que se enganam @s tol@s e se mantém o statu
quo, mudando alguma coisa para ver se se consegue que tudo fique na mesma.
Acontece, que tanto quanto temos visto, esta estratégia resulta, pelo menos no
curto prazo.