terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Sexualidade e cultura


Quanto mais não seja, por uma questão cultural, a relação heterossexual continua a ser uma relação de domínio/submissão; é assim que é percebida e é assim que é referida através do tipo de linguagem usada para a exprimir que, como bem sabemos, é uma linguagem de violência, de domínio e de humilhação; por isso é que é utilizada quando se quer insultar/agredir alguém. 


Se calhar não é pois por acaso que mulheres solteiras (desacompanhadas e autosuficientes), divorciadas ou viúvas são normalmente muito mais assertivas, livres e autónomas, o que pode estar relacionado com o facto de não terem um macho/guardião que as coloca na sombra. Penso que um homem, a partir do momento em que tem relações sexuais com uma mulher, sobretudo se não forem apenas casuais, começa lenta e paulatinamente a sentir que pode/deve controlá-la e a controlá-la efetivamente, não só nos seus passos, mas até no seu pensamento e então lá se vai a reciprocidade e o respeito que devia caraterizar a relação. Este percurso é quase inevitável e poucos conseguem resistir a esse apelo em que as fronteiras entre o natural e o cultural se encontram esbatidas. Portanto parece haver ligação entre a secundarização e inferiorização das mulheres e o modelo de sexualidade prevalecente.

(A utilização da linguagem sexual para insultar pessoas é tão óbvio que deveria merecer a atenção dos estudiosos da linguagem, mas de facto não conheço nenhum estudo sobre o assunto.)

2 comentários:

  1. Adília, o que você diz é verdade . Ocorre que , não raro , a gente também vê mulheres querendo controlar os passos de seus parceiros , porque temem a traição . Portanto , gostaria de , humildemente , pedir a sua opinião para que você diga até onde essa insegurança e desejo de controle ou domínio é uma questão individual ou da natureza do ser humano e quando isso passa a ser uma subjugação de um gênero sobre o outro , porque , sinceramente , a linha que separa essas duas coisas , às vezes , parece ser tênue .
    Desde já , agradeço pela sua atenção .

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  2. Caro Alexandre
    se calhar a tendencia para dominar é da ordem do instinto, só que a parte masculina da humanidade até ao presente tem tido mais força e oportunidade para satisfazer essa drive. è preciso uma pessoa reconstruir-se se quiser controlar a tendência dominadora.
    abraço, Adília

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