quarta-feira, 28 de outubro de 2015

SEXO E MORALIDADE


A história de Lucrécia, contada pelo historiador romano Tito Lívio, ilustra de modo flagrante a íntima ligação entre sexo e moralidade. Lucrécia, esposa de reconhecida virtude, foi violada por Tarquínio, o último rei de Roma, que exerceu pressão direta (força física) ou ameaçou matá-la e de seguida encenar o envolvimento dela com um escravo. Lucrécia acabou por se suicidar tendo proclamado: “como pode uma mulher viver bem se perdeu a sua castidade?” A família vingou-se e Traquínio viu-se obrigado a fugir.

Este acontecimento foi objeto de numerosas pinturas e narrativas dramáticas, e até mesmo de comentários filosóficos. Kant, pr exemplo, já em fins do século XVIII, um filosofo tão reto e irrepreensível teve o 'descaramento' de reprovar Lucrécia por não ter resistido antes de se sucidar.

A história de Lucrécia ilustra a ligação intima que a sociedade e também os seus mentores têm estabelecido entre comportamento sexual e valor ético da pessoa, sobretudo no que às mulheres diz respeito. Hoje temos dificuldade em ver, ou pelo menos em justificar, esta ligação que se manteve, pelo menos no nosso país, até aos fins do seculo XX e que execrava a mulher solteira não virgem ou a mulher casada adúltera, consideradas não dignas de respeito social e moral. Aqui no ocidente, particularmente nos países de tradição latina como Portugal, uma jovem que tivesse tido relações sexuais com o namorado era considerada desonrada; era assim que as pessoas se lhe referiam. A mulher honesta devia ser casta e tal significava ter relações só com o marido. Para a mulher a “pureza sexual” era condição sine qua non para ser considerada uma “pessoa” honesta.
 
 Ainda hoje, malgrado alguns avanços, esta mentalidade está presente bastando para tal lembrar o assassínio frequente de mulheres pelos seus companheiros.
Erradicar esta mentalidade é tarefa complicada, mas podemos sempre perguntar:
O que é que uma determinada prática sexual ou o que é que um determinado comportamento sexual têm a ver com a bondade ou maldade, com a generosidade ou com a lealdade ou com a probidade da pessoa humana?