A misoginia só pode ser inteiramente entendida se for entendida enquanto fenómeno político; perde conteúdo quando reduzida ao domínio de relações individuais porque, mais uma vez, estamos perante uma situação em que é o macro fenómeno que permite elucidar o micro fenómeno, não o contrário.
Assim como os conflitos laborais são conflitos de classe - não se trata do fulano B, trabalhador individual, ter alguma coisa contra o fulano A (dono da empresa) - também a misoginia tem de ser entendida no mesmo sentido; na misoginia também não é um indivíduo C que odeia em geral as mulheres (as mulheres enquanto classe); mas é o sistema social e político que está todo ‘armadilhado’ para desvalorizar as mulheres em geral, as mulheres enquanto classe.
O sistema funciona de modo a mascarar formas não institucionais de dominação dos homens sobre as mulheres, funciona de modo a tornar as mulheres deferentes e submissas em relação aos homens, sem que elas mesmas se dêem conta dessa subserviência. Consegue ainda mostrar as relações entre homens e mulheres como amigáveis e como relações entre iguais.
A hostilidade só é patenteada em determinadas situações, na maioria dos casos há apenas opiniões menos favoráveis às capacidades das mulheres, pelo menos em domínios preponderantemente masculinos. Todavia, alguma atenção à publicidade e ao entretenimento, por exemplo, mostra como são mantidos os estereótipos e permite compreender por que é que, quando ‘o leite azeda’, o ódio aparece em todo o seu esplendor.