- Para quebrar uma longa ausência, quero partilhar convosco este texto tão lúcido, de Pierre Bourdieu, sobre violência simbólica sofrida por tantos seres humanos neste nosso mundo, em que a injustiça é naturalizada e a violência se perpetua sem encontrar resistência:
“(..) jamais deixei de me espantar diante do que poderiamos chamar de 0 paradoxo da doxa: 0 fato de que a ordem do mundo, tal como está, com seus sentidos únicos e seus sentidos proibidos, em sentido próprio ou figurado, suas obrigações e suas sanções, seja grosso modo respeitada, que não haja um maior numero de transgressões ou subversões, delitos e “loucuras"; (…) ou o que é ainda mais surpreendente, que a ordem estabelecida, com suas relações de dominação, seus direitos e suas imunidades, seus privilégios e suas injustiças, salvo uns poucos acidentes históricos, perpetue-se apesar de tudo tão facilmente, e que condições de existência das mais intoleráveis possam permanentemente ser vistas como aceitáveis ou ate mesmo como naturais. Também sempre vi na dominação masculina, e no modo como é imposta e vivenciada, o exemplo por excelência desta submissão paradoxal, resultante daquilo que eu chama de violência simbólica, violência suave, insensível i invisível a suas próprias vitimas, que se exerce essencialmente pelas vias puramente simbólicas da comunicação e do conhecimento, ou, mais precisamente do desconhecimento e do reconhecimento ou, em ultima instancia, do sentimento.”
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