Bonnie Berry
em The Power of Looks. Social Stratification of Physical Appearance, publicado em
2008, criou o neologismo “Lookism” que não antevejo como se poderia traduzir
pelo que o mantenho no original com ligeira adaptação, o que não me parece
particularmente grave até porque a expressão look, enquanto aspeto e aparência,
já entrou no vocabulário português, em grande parte graças às revistas e
programas sobre moda e beleza.
Bonnie Berry
revela neste livro publicado em 2008, que nos Estados Unidos as despesas com
produtos e tratamentos de beleza ultrapassam as despesas com a educação ou com
os serviços sociais. Em sua opinião, este facto expressa por um lado a
vacuidade das sociedades atuais e por outro a atitude das pessoas que, não
tendo educação, procuram o caminho para a ascensão social através da beleza e
da aparência física.
Usar a aparência
ao invés de usar o cérebro para subir socialmente é lamentável, mas é uma
realidade. Há todavia, uma consequência ainda mais desastrosa da prevalência
deste padrão de comportamento; é que ele é gerador de preconceitos em relação
às pessoas cuja aparência física não se conforma com a norma de beleza
estabelecida; isto é, leva a discriminar as pessoas em função da sua aparência.
É a isto que se dá o nome de “lookismo”; por via dele, não são os
conhecimentos, cultura ou inteligência, muito menos a bondade, que tornam as
pessoas elegíveis para determinados lugares, mas é tão simplesmente a sua
aparência física.
O lookismo
contribui para criar ou aprofundar desigualdades sociais pois o acesso ao poder
económico e social fica dependente de circunstâncias que as pessoas não
controlam; como diria John Rawls, essas circunstâncias, em si mesmas, não são
justas nem injustas, mas já é injusto transformar contingências naturais em
impedimentos e obstáculos ao sucesso social. Não é justo nem injusto nascer-se
feio ou bonito, mas é injusto preferir para um determinado lugar uma pessoa
bonita em circunstâncias em que, eventualmente, a feia teria outros requisitos,
esses sim importantes, para um bom desempenho.
Que as pessoas
bonitas sempre têm sido positivamente discriminadas não é novidade para
ninguém; mas, nos nossos dias, o problema agravou-se significativamente, pelo
papel que os media desempenham na
criação, reforço e ampla divulgação do ideal de beleza, sobretudo criando nas
pessoas, particularmente nas mulheres, o sentimento de que têm sempre qualquer
coisa em falta. Daí o sucesso amplamente reconhecido da indústria de cosmética
e da cirurgia estética com que todos e todas acabamos por perder mais do que
ganhar.
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