Na estrutura familiar clássica, mãe e pai gozam de estatuto diferente, a mãe ainda aparece como dependente do pai e o seu reconhecimento enquanto sujeito depende do poder do pai; o pai é centro de poder e a mãe depende dele. Por isso, os filhos, menino ou menina – que precisam de um modelo para se desenvolverem psicologicamente e para construírem a sua subjetividade – não se vão identificar com ela e em alternativa vão procurar identificar-se com o pai.
O drama é que o pai vai rejeitar a tentativa da menina em se identificar com ele e a partir dessa rejeição ela percebe certas características, como por exemplo assertividade/autoafirmação e independência/autonomia como caraterísticas que não deve querer para si, de que deve desistir se quiser ter o amor do pai.
Se o pai não pode ser o modelo para a menina, então só lhe resta identificar-se com a mãe, para assim conseguir a aprovação do pai, e é deste modo que ela vai aprender “as virtudes” da submissão e da dependência. Mas esta aprendizagem implica necessariamente frustração porque qualquer ser humano, mulher ou homem, quer afirmar-se, ama a liberdade e a independência. Como poderá ela compensar esta frustração?
Aqui entra o amor romântico com o ideal de entrega e de desistência de si mesma que, mais tarde, muitas mulheres vão abraçar, convencendo-se de que são elas próprias que se querem submeter, que se querem entregar ao homem que escolheram, ou que as escolheu e que por isso são livres.
Só há um pequeno pormenor insignificante e desagradável: é que quem escolhe submeter-se deixa de ser livre e mesmo essa escolha pode não ter sido uma escolha livre.