Na estrutura familiar clássica, mãe e pai gozam de estatuto diferente, a mãe ainda aparece como dependente do pai e o seu reconhecimento enquanto sujeito depende do poder do pai; o pai é centro de poder e a mãe depende dele. Por isso, os filhos, menino ou menina – que precisam de um modelo para se desenvolverem psicologicamente e para construírem a sua subjetividade – não se vão identificar com ela e em alternativa vão procurar identificar-se com o pai.
O drama é que o pai vai rejeitar a tentativa da menina em se identificar com ele e a partir dessa rejeição ela percebe certas características, como por exemplo assertividade/autoafirmação e independência/autonomia como caraterísticas que não deve querer para si, de que deve desistir se quiser ter o amor do pai.
Se o pai não pode ser o modelo para a menina, então só lhe resta identificar-se com a mãe, para assim conseguir a aprovação do pai, e é deste modo que ela vai aprender “as virtudes” da submissão e da dependência. Mas esta aprendizagem implica necessariamente frustração porque qualquer ser humano, mulher ou homem, quer afirmar-se, ama a liberdade e a independência. Como poderá ela compensar esta frustração?
Aqui entra o amor romântico com o ideal de entrega e de desistência de si mesma que, mais tarde, muitas mulheres vão abraçar, convencendo-se de que são elas próprias que se querem submeter, que se querem entregar ao homem que escolheram, ou que as escolheu e que por isso são livres.
Só há um pequeno pormenor insignificante e desagradável: é que quem escolhe submeter-se deixa de ser livre e mesmo essa escolha pode não ter sido uma escolha livre.
Perfeito.
ResponderEliminarJulieta
ResponderEliminarObrigada pelo seu comentário, espero que volte.
Abraço, adília
Adília, estou entrando em contato com o feminismo há pouco tempo e ficaria agradecida se pudesse me indicar referências bibliográficas que exponham da forma mais imparcial possível a história do movimento. Já li vários artigos, mas quero estudar de forma mais aprofundada. Inicialmente eu tinha essa ideia ingênua de que o feminismo era um movimento relativamente coeso, mas aos poucos percebo que há várias divergências importantes dentro do movimento. Eu, que não sou socialista, estou encontrando uma certa dificuldade para identificar espaços de discussão feminista que não me enxerguem como reacionária, conservadora, etc. mas sinto uma imensa necessidade de discutir uma série de temas com outras mulheres feministas. Admito que a minha ignorância sobre o assunto é muito grande e no momento sou toda entusiasmo e pouco conhecimento. Pode me ajudar de alguma forma?
ResponderEliminarA propósito, "conservadora" é o último adjetivo que poderia ser usado para definir quem eu sou ou as minhas ideias...
ResponderEliminarMarina
ResponderEliminarDesculpe só hoje responder mas tenho andado muito arredada do blog.
Neste espaço mesmo, se fizer pesquisa, pode encontrar o feminismo tratado a apartir de diferentes perspetivas.
Além disso posso referir-lhe um livro que publiquei "O Inimigo no Gineceu" onde entre outras coisas identifico pretensos movimentos feministas que de facto são antifeministas.
Sobre diferentes tipos de feminismo, pode centrar-se no feminismo liberal que insiste sobretudo na igualdade de direitos e o feminismo radical que considera isso insuficiente ou no feminismo marxista que pretende integrar o movimento num contexto mais amplo.
espero ter dado algumas dicas. abraço adilia
Só discordo no fato de que a mãe tenha apenas esse papel pouco relevante na estruturação do psiquismo infantil, apenas como uma figura representativa de submissão. Acredito sim que ela tenha um papel também ativo nessa história. Por ela, na maioria dos casos, ter uma participação maior na educação dos seus filhos, seus valores morais, sua ideologia e sua visão de mundo são repassadas e boa parte absorvidas.
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