A vulnerabilidade das mulheres na Turquia
Há sempre algo de arriscado mas ao mesmo tempo de verdadeiro ao
proclamar que as mulheres são particularmente vulneráveis. A proclamação pode
ser tomada como significando que as mulheres têm uma vulnerabilidade definidora
e imutável, e esse tipo de argumento pavimenta o caminho para a proteção
paternalista. […]
E no entanto há boas razões para argumentar pela vulnerabilidade
diferencial das mulheres, elas sofrem desproporcionalmente de pobreza e de
literacia, duas dimensões muito importantes para qualquer análise global da
condição das mulheres.
As mulheres têm estado extremamente ativas nos protestos do passado
mês como se pode ver nas imagens tomadas no parque Gezi, na praça de Taksim em Istanbul, Kizilay or no parque Kuglu em Ankara,
Eskisehir, Antalya, apenas para nomear alguns locais em que a polícia atacou os
manifestantes. […]
A vulnerabilidade nos dois sentidos acima identificados tem estado
sempre muito presente. A degradação da situação das mulheres na Turquia, desde
que o A.K.P. tomou o poder, tem sido um dos principais temas na retaguarda dos
protestos: aumento na violência doméstica, movimentações para ilegalizar o aborto
(e as cesarianas!), relaxe nos esforços para assegurar que todas as raparigas frequentem
as escolas. E obviamente isto colocou o governo na posição de emitir editais
paternalistas: “Mães, levem os vossos filhos para casa”, ao qual as mulheres no
parque Gezi responderam fazendo uma cadeia humana para proteger os jovens no
seu interior.
Certamente que, mesmo na perspetiva dos manifestantes, é difícil
evitar todos os preconceitos de género, e as mulheres são ainda referidas com
muita frequência como mães, tias, irmãs, mais do que como manifestantes. Mas, fundamentalmente, as pessoas lá são pessoas que querem ter alguma
coisa a dizer sobre o modo como devem ser governadas, e que querem proteger os
seus espaços verdes e, apesar de tudo, as barricadas parecem bem mais
equilibradas em termos de representação de género, do que pareciam no quadro de
Delacroix do século XIX em França.”
Texto
publicado no blog Feminist Philosophers, em 29 de Junho de 2013, (tradução de
Adília)
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