O Marquês de Sade, tão exaltado
por intelectuais ilustres, apodado por alguns como o divino marquês, em “Os 120
dias de Sodoma”, num discurso proferido pelo Duque de Blanchis, que se supõe ser
a personagem com a qual Sade mais se identifica, refere-se às mulheres nestes termos:
“Frágeis e agrilhoadas criaturas destinadas exclusivamente a nossos
prazeres, creio que não vos iludistes supondo que a ascendência igualmente
absoluta e ridícula que vos é dada no mundo exterior vos seria concedida neste
lugar; mil vezes mais subjugadas do que os possíveis escravos, só deveis
esperar humilhação, e a obediência é a única virtude cujo uso vos recomendo:
ela, e nenhuma outra, serve ao vosso estado presente. Acima de tudo, não vos
entre na cabeça depender do mínimo de vossos encantos; somos completamente
indiferentes a essas armadilhas e, podeis acreditar, tais engodos não dão
resultado connosco. Tende incessantemente em mente que faremos uso de vós
todas, mas que nem uma única de vós necessita de se iludir imaginando que é
capaz de nos inspirar qualquer sentimento de piedade. Levantados em fúria contra
os altares que nos conseguiram arrebatar alguns grãos de incenso, nosso orgulho
e nossa libertinagem estilhaçam-nos assim que a ilusão satisfaz nossos sentidos,
e o desprezo quase sempre seguido do ódio assume instantaneamente a preeminência
até então ocupada pela nossa imaginação. O quê, alem disso, nos poderíeis
oferecer que não conheçamos já de cor, que nos ofertareis que não esmaguemos
sob nossos calcanhares, muitas vezes no próprio momento em que o delírio nos
transporta?
Inútil escondê-lo de vós: vosso serviço será árduo, será doloroso, e
rigoroso, e as menores delinquências serão imediatamente retribuídas com
punições corporais e angustiantes; por isso, devo recomendar-vos pronta
obediência, submissão, e uma total auto abnegação que vos permita satisfazer apenas
nossos desejos; deixai que eles sejam vossas únicas leis, correi ao encontro
deles, antecipai-vos, provocai-os. Não que tenhais muito a lucrar com essa
conduta, mas simplesmente porque, não a observando, muito tereis a perder.”
Sade: Os Cento e Vinte Dias
de Sodoma, Hemus, 1969, pp. 56-57
Resumindo, o programa sadomasoquista tem as seguintes
implicações
·
As mulheres apenas existem para o prazer dos
homens: satisfazer os seus desejos e serem usadas por eles;
·
A única virtude que devem cultivar é a
obediência e a auto abnegação;
·
Não vale a pena tentarem tirar partido dos seus
encantos pois estes, uma vez saciado o desejo, nada representam para os homens;
·
Depois de satisfeito o desejo, para as mulheres
só resta desprezo e ódio de que pode mesmo resultar a sua aniquilação no
momento em que o macho atinge o orgasmo.
·
O melhor que podem fazer é adivinhar os desejos
do homem, estarem sempre de prontidão para evitarem outras punições mais
graves.