De
Flávio Gikovate parece-me interessante o livro: “A Libertação Sexual: rompendo
o elo entre o sexo, o poder e a agressividade”. De entre aqueles que recentemente
têm refletido sobre sexo, eis-nos perante um dos poucos que abandona o tipo de análise
politicamente correta para ir ao cerne das questões, mostrando que, afinal,
como diz o ditado, “o rei vai nu” e que a tão propalada revolução/emancipação sexual
está muito perto de mais uma mistificação, cujo propósito terá sido o de “mudar
alguma coisa para que tudo pudesse ficar na mesma.
A
ligação sexo, poder e agressividade continua presente na relação heterossexual,
genericamente falando, e sobretudo nas práticas sadomasoquistas que “alguém”
parece querer revitalizar, vide a publicidade do filme mais recentemente badalado.
Diz
Gikovate, citando Ortega y Gasset, que, sendo uma das capacidades mais importantes
da inteligência humana a de dissociar, está mais que na hora de dissociar sexo
de agressividade. Todavia essa dissociação só será possível a partir do momento
em que os justos, que constituem uma minoria de pessoas, se sobrepuserem aos
generosos e aos egoístas. Repare-se que Flávio Gikovate está a ir contra o
senso comum que tem a tendência a associar generosidade a justiça; ora não é
preciso nem desejável que haja generosos porque são estes que alimentam os egoístas;
o que é preciso é que haja pessoas justas e um princípio básico de justiça é o
de respeitar a autonomia, logo a liberdade de cada um. Deste modo, a velha,
consolidada e alimentada propensão das mulheres para serem generosas –
masoquistas - (a fim de agradarem aos mais poderosos: pais, irmãos, filhos, maridos),
é aquilo que alimenta o egoísmo dos sádicos que tiram prazer do domínio que têm
sobre elas, julgando-se fortes na justa medida em que conseguem exercer esse poder.
Por
tudo isto, as mulheres precisam começar a gostar de si mesmas, a satisfazerem
os seus legítimos direitos, nomeadamente o direito a serem autónomas, nos
vários domínios das suas vidas e, particularmente, no domínio da autonomia
sexual.
Será importante que não
deixem que as coisas lhes aconteçam. Mas que façam as coisas acontecerem! Todavia, não
esqueçam que, embora a liberdade seja poder para se autodeterminarem, as
escolhas que venham a fazer não são neutras, não têm todas o mesmo valor pois há escolhas que podem limitar a liberdade da pessoa humana.