Quando
se defende que nada há de errado nas práticas
sadomasoquistas desde que pressuponham consentimento e correspondam ao desejo
da pessoa que vai estar no lugar de ‘vítima’, esquece-se que de facto essas práticas
são eticamente condenáveis, pelo menos à luz de duas das mais consideradas teorias éticas, a utilitarista e a rawlsiana,
pois estas duas teorias, embora divergentes em muitos aspetos, concordam
na consideração de que “o bem é a satisfação de um desejo racional” e que qualquer
comportamento eticamente valioso tem de perseguir o bem.
Se
nós acordarmos em que o ser humano é um agente racional e é capaz de escolhas
racionais, temos de aceitar que não é racional alguém desejar sofrer violência
física ou violência simbólica, por exemplo, querer ser degradado e humilhado; portanto, as práticas sado masoquistas, independentemente do consentimento e do desejo, têm
de ser avaliadas negativamente do ponto de vista ético.
Um
outro aspeto tem a ver com o desejo e com o facto dele nem sempre ser racional
porque pode acontecer que decorra de uma construção social, conseguida através
de mecanismos subtis e com objetivos que nos escapam. Corremos sempre o risco
de formarmos desejos que só aparentemente são nossos, se estivermos desatentos e
não exercermos uma atitude crítica/racional. Ora, se
temos desejos irracionais é nossa obrigação moral combatê-los em vez de tentar
satisfazê-los sob a alegação de que são nossos, gostamos e não prejudicam ninguém,
porque de facto prejudicam e nós somos a primeira vítima pois a nossa autoestima
vai ser duramente atingida.