domingo, 31 de maio de 2015

Da natureza do desejo sexual


Continuo a explorar ideias sugeridas pelo vídeo de Flávio Gikovate a que assisti há tempos.

Não o acompanho na tese que defende acerca do desejo sexual. Gikovate distingue o desejo sexual masculino do desejo sexual feminino, dizendo, entre outras coisas, que o desejo sexual masculino é visual, isto é, que é despertado pelas caraterísticas visuais do objeto e que o desejo sexual feminino não tem essa componente visual pois a mulher excita-se por se sentir desejada, quer dizer, não deseja ativamente.
Eu não nego que isto seja verdade, só defendo que é assim porque foi, e continua a ser, construído assim. Se dermos atenção aos estímulos eróticos, na publicidade, filmes e outros meios de veicular mensagens, verificamos que têm como público-alvo os homens e são constituídos por mulheres, ou partes de mulheres (estranho, não é?!) apresentadas como lânguidas, recetivas, expectantes, numa palavra passivas. Em contrapartida, não existe (ainda) um erotismo cujo público-alvo sejam as mulheres. Se calhar isso acontece porque os donos da comunicação social são, na sua esmagadora maioria, homens, preocupados muito naturalmente com os seus interesses, não com os interesses das mulheres.
Enquanto mulher, não só não aprecio homens feios, mal cuidados e barrigudos, como aprecio homens bonitos, com corpos bem desenhados e atitude sensual; mas também devo lembrar que sempre ouvi dizer que os homens não precisam de ser bonitos, foi essa a mensagem que me chegou quando era adolescente e jovem e penso que ainda hoje é dominante.

Claro que esta mensagem é muito confortável para os homens que precisam de perder muito pouco tempo com aparências e que desse modo se podem concentrar em adquirir outros bens mais duradouros e eficientes. Só é pena que as mulheres, bloqueadas e manipuladas por mecanismos de vária ordem, não percebam que deviam preocupar-se mais em desenvolver a sua inteligência e em adquirir saberes do que em gastar tempo e energia com ninharias que apenas lhes conferem, quando conferem, um poder efémero.

10 comentários:

  1. Não entendo o porque da reclamação,afinal,os homens são todos bonzinhos e devem ser amados e compreendidos....a falta de empatia que eles tem em relação á nossa opressão deve ser ignorada,assim como toda e qualquer violência masculina;afinal,as verdadeiras vítimas do sistema são eles.

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  2. É um tema que sempre que me vem à mente me dá vontade de rir. É claro que nas mulheres o desejo NÃO é visual e é por isso que existem filas intermináveis delas à porta dos homens feios, gordos, velhos, desdentados, com barriga de cerveja, peludos, porcos e malcheirosos!!! E ao contrário, os jovens, belos, cuidados, cheirosos, agradáveis e de corpinho sarado não têm qualquer sucesso junto de nós!!! Enfim! Mas isto num 'mundinho' que têm a piada masculina que os homens são como o vinho do Porto, quanto mais velhos melhor e que as mulheres são como os iogurtes, têm um prazo de validade muito curto, não é nada de admirar.
    Sonhem, sonhem pois o vosso mundinho está a começar a desabar, estamos a começar a observar o inicio do processo de fazer dos homens objectos sexuais também. O mulherio está ficar mais esperto e a começar ousar gostar daquilo que realmente gosta e não daquilo que lhes dizem para gostar. A cultura machista inventa com cada absurdo para descanso psicológico dos machos que é de ir às lágrimas. lol. Amigos homens vou-vos contar um segredo muito bem guardado. Nós mulheres gostamos de vocês BONITOS e NOVOS. Que me desculpem os feios mas beleza é fundamental!

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  3. " estamos a comecar a observar o início do processo de fazer dos homens objeto sexual também . "
    Ninna, quando a educação não é libertadora, o oprimido sonha em se tornar opressor .

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    1. e qual é solução filho? continuar do jeito que está? aposto que vc não se incomoda nem um poco em nos ver objetificada,e nem faz nada para combater e agora vem dar essa "lição de moraçl" na gente?? o medo dos homens é de serem tratados como nos tratam,seu comentário é a prova disso.

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  4. Ola Adilia,
    gostava de partilhar uma petição que fiz que creio se encaixar no tema do blogue.
    Há uma barbearia em Portugal a proibir a entra a mulheres.Isso é anti-constitucional e deve ser combatido.

    Por favor assina a petição para chamarmos à atenção da comunidade europeia!
    Obrigada,
    Inês
    https://secure.avaaz.org/en/petition/European_Committee_on_Womens_Rights_and_Gender_Equality_Raise_awareness_to_close_down_Figaros_barbershop

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  5. Alexandre, acho que ela só quis provocar uma reflexão, e colocar que a mulher também pode ser sujeito de desejo, e o homem também objeto, nesse jogo que a própria cultura machista criou. Aliás, são conceitos que foram descritos pelas próprias correntes psicanalíticas, onde toda hora eles versam sobre o OBJETO (conceito amplamente usado por eles) de desejo, que aliás, sempre dizem que é o falo no fundo, e que a mulher não deixa de ser algo relacionado sempre ao falo. Tudo isso são os homens que dizem em suas teorias. Então, nada melhor do que usar seus conceitos em outro sentido para mostrar o quanto eles incomodam seus "objetos de análise", agora mudando quem é sujeito e quem é objeto. Em outras teorias e conceitos, nem precisaríamos usar tais significados, pois há outras formas de pensar e existir desejos. Eu mesma não me importo muito com aparência, pois homens bonitos e tais, são geralmente cheios de si e arrogantes, e também só querem saber das mulheres padronizadas pois se acham os tais e precisando de "mulheres a altura". Não vou desejá-los só para romper com um modelo que não compreende meu contexto, minha reflexão e experiência de vida. Muitas mulheres ficam com homens "feios" por inúmeras razões, mas pesa sim os modelos culturais, e o mesmo para os homens. Só não podemos ser ingênuos na análise. Eu não sou bonitona nem mulher padrão, e por isso não atraio os mesmos tipos, e eles nunca me interessaram pela percepção que eu tenho de como muitos deles pensam e se comportam ( é diferente de preconceito, pois o que observo é a força da autopercepção, das orientações, oportunidades e da modelagem cultural que estão atuantes na constituição da personalidade e interesses dos indivíduos, e sempre assumo que não são um estereótipo, mas uma certa tendência culturalmente condicionada). Em suma, não gosto de homens machões de jeito nenhum, mas também não exijo nenhum modelozinho de televisão insípido e que eu não consiga vê-lo mais do que um objeto sexual. Pela cultura e educação, a mulher é coagida a ser sempre atraente, cheia de apetrechos estéticos e de sedução, mesmo em contextos onde isso nem é relevante, ao mesmo tempo que a cultura machista não incentiva os homens à coqueteria mas os incentiva sempre a buscar as "gatas do pedaço", dado óbvio em uma sociedade que distingue homens e mulheres em conceitos de oposições. Então, como que poderíamos encontrar na massa mais homens "bonitos" com mulheres "feias à normais" se nem há uma cultura que produza isso, mas seu contrário? Acho que Foucault, Deleuze e Guattari eram mais felizes quando diziam que os desejos são incessantemente produzidos e são sempre relacionados a uma paisagem. Desejar o homem bonito e jovem ode ser tão coercitivo e alienante quanto desejar o feio e velho, tudo vai depender das relações e outros desejos que estão atuando ali. Desejar o belo e jovem é também desprezar quem está fora do padrão capitalista e eurocêntrico, de culto a eterna juventude, de culto a imagem, a uma certa "pureza" que retira a vida e a existência do que é "sujo, diferente, louco, estranho, problemático", etc.. não poderia ser? Não sejamos ingênuos...

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    1. "Desejar o homem bonito e jovem ode ser tão coercitivo e alienante quanto desejar o feio e velho, tudo vai depender das relações e outros desejos que estão atuando ali."

      tem o mesmo peso e significado se fosse o contrário? No Brasil hoje está uma febre de homens corrererm atrás de "novinhas",esse seu argumento pode até passar pano em pedofilia,sabia? querem abaixar a idade do consenso.

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  6. Gostei especialmente deste post. Ele vem de encontro ao que penso. Se analisarmos a própria anatomia feminina, reparamos que a mulher é o receptáculo, enquanto que o homem decide ou não a penetração nesse mesmo "santuário". Ja na própria anatomia a mulher tem um papel "passivo", que lhe foi depois enraizado ao longo de milénios, é já algo de atávico. Se à própria anatomia, juntarmos esta "herança milenar", é pois muito difícil, e ainda irá demorar algum tempo, até que a Mulher (propositadamente com maiúscula) se consiga libertar de uma vez por todas deste karma e poder também ela, ser quem escolhe e passar da atitude passiva à activa. Na minha opinião, a sexualidade do homem é muito mais "agressiva" do que a da mulher, daí também a necessidade que nós temos de libertação, de sair da passividade e passarmos nós também a ser "predadoras"! Quanto ao aspecto físico versus outras características que despertam o nosso interesse, concordo em absoluto consigo, mas também considero que depende muito da personalidade da mulher. Há quem dê extrema importância aos factores físicos, há quem valorize muito mais os factores psíquicos. Penso que terá de haver uma química inicial que conduz à empatia, que por sua vez conduz à curiosidade em conhecer mais. O desejo sexual para mim não é despoletado pelo físico, mas sim pelas características que refere, mas também já reparei que para muitas mulheres é ainda o contrário. Em suma, cabe à mulher deixar de querer ser vista como um "adereço" e passar do objecto para um ser independente, inteligente e autónomo, com poder de escolha, mas enquanto isso não for um sentimento Mainstream, mas apenas e ainda a mentalidade de um número reduzido, será difícil contrariar uma herança tão pesada! Muito interessante este tópico que levantou aqui neste post!

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    1. sobre desejo feminino,a palavra "socialização" lhe diz algo? creio que não,considerando as besteiras que acabou de escrever algenado ser "naturais".

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  7. Seu blog é muito bom colega. Alguns textos seus, como o da Fusão Romântica e Misoginia e Esquerda e Misoginia, que eu imprimi e guardei.

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