quinta-feira, 22 de setembro de 2022

 

Imperialismo e Capitalismo combinam muito bem

Os Estados Unidos são o símbolo maior do capitalismo. O capitalismo tende a ser imperialista. Se pelo caminho, um país capitalista sentir necessidade de eliminar outro ou outros, não hesitará em fazê-lo. Aqui não há solidariedade que seria até contranatura já que ao fim ao cabo aplica-se a nível dos estados o princípio da concorrência e da competitividade que se aplica a nível dos indivíduos: perecem os mais fracos ficam os melhores e há sempre um que é melhor que os outros.

O capitalismo é imperialista porque só assim pode continuar o processo de acumulação de recursos que lhe é inerente - que faz parte do seu ADN. Os recursos não são inesgotáveis e os defensores do sistema já o devem ter percebido, mas como a ganância predomina, o que percebem com mais força é que, independentemente das consequências, enquanto houver recursos, a (sua) festa deve continuar. Quem vier por último que feche a porta.

Para a festa do capitalismo triunfante continuar, as guerras também têm de ser promovidas até porque o complexo industrial militar que foi preciso construir tem de dar vasão ao produto fabricado, quando não, por falta de consumidores, entra-se numa crise do próprio sistema pois este deixa de ser rentável. Por outras palavras, para acumular recursos é preciso espoliar outros povos, para o conseguir é preciso armamento poderoso, este uma vez produzido tem de ser vendido, se não for cria-se um problema extra não menos grave. Por isso, o sistema retroalimenta-se.

Convém, todavia, perceber que na base disto tudo está a psicologia ou melhor o psiquismo humano. Enquanto as pessoas se virem como inimigas umas das outras, se sentirem ameaçadas pelo inimigo humano próximo ou mesmo distante - e hoje mais do que nunca a distancia é relativa - vai ser muito complicado resolver o problema. Por isso o capitalismo favorece o individualismo, porque este isola as pessoas e dificulta que se unam para derrubar o sistema; mas também não é refratário aos nacionalismos, porque estes acicatam povos contra povos e são imprescindíveis para que as criaturas humanas se empolguem estupidamente e apoiem e participem nas ações bélicas.

A resposta encontra-se numa diferente organização económica e numa organização social e política que reconhecendo este problema crie condições para o resolver, mas para isso é preciso por um lado desestimular o individualismo e por outro os nacionalismos e ainda as alianças ofensivas, seria bom que retomássemos o velho slogan da esquerda dos anos 70: NEM NATO NEM PACTO DE VARSOVIA que pode ser atualizado: PACTO DE VARSÓVIA JÁ FOI, NATO TEM DE LHE IR FAZER COMPANHIA

Por outro lado, é preciso perceber que a democracia liberal ocidental funciona como uma fachada para defender interesses obscuros e para justificar crimes hediondos frequentemente cometidos em seu nome como aconteceu na guerra do Iraque na qual os Estados Unidos alegavam que o objetivo era tornar este um pais democrático. O resultado está à vista.

Seria bom que nos perguntássemos como é que um país que diz defender a liberdade acima de tudo quer obrigar outros países e outros povos a adotarem o seu regime político, ainda por cima à lei da bala? Ninguém vê a contradição? Ninguém vê que essa justificação para a guerra é uma fachada para esconder interesses que não quer revelar?  

Extrapolando para atual situação de guerra na Ucrânia, desvelemos os mecanismos ideológicos postos em ação:

- O Putin é um autocrata, a autocracia é o contrário da democracia. - A democracia é boa, a autocracia é má;

- Então vamos fazer guerra a um pais que tem um regime mau para que ele adote um regime bom;

Mas, como houve já quem tivesse denunciado este esquema, podemos ser ainda mais espertos e fazer outra coisa:

- Criar condições tais ao Putin e ao país que ele lidera de modo a conseguir que seja este a tomar a iniciativa de invadir o outro;

- Aí ninguém nos pode acusar, pois nós apenas fomos em auxílio do outro, vulnerável face a autocrática Rússia.

- Logo nos só queremos libertar a Ucrânia e também a Rússia, não queremos mais nada, o que nos move é a liberdade e os nobres valores da civilização ocidental que é preciso preservar a qualquer custo – Maquiavel no seu melhor!

A partir daqui, é plausível concluir que a politica é uma espécie de biombo com o objetivo de esconder que o que está em jogo é a economia, ou melhor interesses económicos e rivalidades entre potencias económicas capitalistas, bem como a necessidade de escoar os produtos do complexo industrial militar norte americano e de continuar o processo de acumulação capitalista não já dentro do próprio pais – que já deu o que tinha a dar  - mas permitindo aos capitalistas com mais força do seu lado apoderarem-se dos recursos de outros povos e países, neste caso e para já da Rússia, depois logo se verá.

O que é de realçar aqui é que toda a guerra económica é reduzida à guerra política: quer-se fazer crer que o que está em causa é a democracia a defender contra a autocracia. Isto é falso, mas é uma mentira muito conveniente porque atrai a simpatia das pessoas e torna-as recetivas à guerra inadiável e aos sacríficos que esta impõe e as pessoas comem isto tudo e anda pedem mais porque o complexo mediático corporativo também funciona no seu melhor.

2 comentários:

  1. Estamos cansados, muito cansados de ser peões de um jogo de cegos. De que nos serve ter olhos, se no jogo é suposto ninguém ver? Obrigada pela lucidez.

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  2. Ana, conhece de certeza a história de 'O rei vai nu'. É importante que cada vez mais pessoas descubram que a vestimenta é falsa. é esse o nosso papel, o mínimo que podemos fazer. Baixar os braços não é opção..

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