Não é por acaso que quando a mídia aceita apresentar homossexuais, particularmente em novelas ou seriados televisivos, «escolhe» personagens que evidenciam, muitas vezes de forma exagerada e ridícula, características femininas, seja através da postura, do modo de falar ou comportamento, pois assim eles são socialmente «aceitáveis». Toda a gente sabe que há muitos homossexuais, provavelmente a maioria, que não se enquadram neste estereótipo, mas esses nunca aparecem.
Esta é uma maneira de diminuir o status dos homossexuais – apresentá-los como femininos é desvalorizá-los porque também sabemos que o estatuto das mulheres ainda hoje é percebido como inferior ao dos homens. Isto acontece porque os homossexuais põem em causa a identidade masculina, tal como ela tem sido construída, e o grupo dos homens, sentindo-se ameaçado, encontra neles o bode expiatório que pode ser punido e para não punir homens opta por punir «mulheres».
Um homem feminino, embora objecto de medo, é ridicularizado, fingindo-se que não vale a pena temê-lo porque afinal é uma mulher, não é verdadeiramente um homem. Em contrapartida, uma mulher masculina, ao assumir traços que são valorizados socialmente, embora temida e execrada, não é tão frequentemente ridicularizada, ao invés do ridículo, para ela, recorre-se pura e simplesmente ao insulto torpe.
O excerto que a seguir transcrevo chama a nossa atenção para estes aspectos, nem sempre compreendidos quando se faz uma leitura superficial da situação:
“ Uma das razões por que os homossexuais perdem em estatuto é porque são percebidos como femininos, e como sabemos as mulheres enquanto classe gozam de um prestígio relativamente baixo. Além disso, ‘as ovelhas negras’ – membros de um grupo que, por se desviarem das normas do grupo, ameaçam o sentido de status ou de identidade de todo o grupo – podem ser especificamente vilipendiados. … por contraste, as mulheres podem sentir orgulho nos atributos masculinos porque estes favorecem o seu status natural.”
(Laurie A. Rudman and Peter Glick: The Social Psychology of Gender)
Bacana o post, Adília. Concordo com você.
ResponderEliminarAbraço,
Rapha