domingo, 30 de outubro de 2011

Bem vindo à India rural – o patriarcado no seu melhor

“Suponha que se organiza a sociedade de tal modo que apenas os homens são autorizados a trabalhar fora de casa. As mulheres são confinadas ao interior para serem cuidadoras de crianças e donas de casa. Já que as mulheres não podem trabalhar, as suas hipóteses de sobrevivência dependem de serem suportadas primeiro pelos pais e depois pelo marido. Os pais têm de pagar um dote ao homem que tomar conta da filha.

Suponha ainda que não há sistema de segurança social e os pais tem de contar com os filhos para os suportarem quando forem velhos. Se você fosse pai, inevitavelmente preferiria um filho, que receberia um dote quando casasse e tomaria conta de si quando você fosse demasiado velho para trabalhar.

As filhas não têm para si qualquer utilidade e são um encargo para a sua já magra receita. Não surpreende se decidir abortar/matar bébés do sexo feminino. Outros adoptam o mesmo comportamento e assim a proporção de homens em relação às mulheres fica distorcida. Então o que é que acontece quando o seu filho tenta encontrar uma esposa? Não há mulheres suficientes em redor.

Há várias soluções. Pode arranjar uma esposa para um filho que depois será partilhada por outros irmãos. Ou pode raptar uma mulher para ser a esposa do seu filho. Ou pode comprar uma mulher que tenha sido raptada, por vezes, através de um leilão.

Já que as mulheres são percebidas como seres inferiores na sua sociedade – você mata as suas bébés, lembra-se? – as mulheres partilhadas e compradas serão suas para as tratar como se fossem uma propriedade. Bem vindo à India rural!”*

· Texto publicado em Feminist Philosophers

9 comentários:

  1. Que nojo tudo isso. É muito mau o ser humano.

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  2. De facto, Promenade, o ser humano não é brilhante e há que contar com isso. Esta receita da india rural é perfeita para perpetuar o tipo de sociedade que aqui procuro combater, mas o combate é um pouco inglório já que quase toda a gente anda distraída destas questões. Repare na India já começa a denunciar-se o deficit de meninas nas famílias fruto destas tradições dificeis de desalojar.

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  3. E tudo se faz em nome da "tradição". Há sempre que preservar as tradições.
    A tradição nada mais é que uma canga que se põe às costas das pessoas para as forçar a fazer o que não querem e com isso ficarem contentes.
    Por este e por tantos exemplos é que sempre me arrepiam os cabelos quando alguém se sai com "ah mas é tradição fazer assim" ou "na nossa tradição"
    ou ainda pior "é sempre bom manter as tradições". Enfim, um nojo mesmo.

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  4. interessante a imagem da canga, vou aproveitar futuramente.

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  5. As tradicoes, costumes e religioes sao armas altamente eficazes para a manutencao desse tipo de barbárie. Nao há limites quando se fala em "cultura" ou em "deus". Tudo é permitido. Tudo é justificável. Fazer algo contra é "perseguicao religiosa", protestar é fascismo, dizer uma única palavra em favor dessas pobres vítimas é "preconceito".

    Fran

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  6. Promenade e Fran
    otimos comentários e algumas dicas para eu tratar o tema da tradição enquanto critério valorativo.
    Abraço, Adília

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  7. "Não surpreende se decidir abortar/matar bébés do sexo feminino."


    Sim, é uma tragédia que o aborto mate mais mulheres do que homens.
    Pior, quem promove o aborto são as feministas mas são elas as mulheres quem mais sofre com ele.

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  8. Lamento só hoje, muitos meses depois, ter tido conhecimento deste ultimo comentário de seu Lucas que além de não ter percebido nada do que estava em causa ainda resolveu verter fel sobre as feministas.
    Meu caro, meta bem nesse bestunto, as feministas não promovem o aborto, apenas defendem que as mulheres que a ele recorrerem não devem ser criminalizadas e defendem a educação sexual e o uso de anticoncecionais que pessoas como você normalmente não aceitam nem promovem, achando que as mulheres devem submeter-se de qualquer maneira ao que lhes acontecer.
    Já conheço esse tipo de discurso hipócrita que visa algo que não declara, visa dominar as mulheres e restringir a sua liberdade em nome da "sagrada" vida do feto, borrifando-se completamente para a vida da mulher.
    Adília

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    1. Excelente resposta Adília. Parabens pelo seu trabalho, conte comigo como homem feminista, antimisogino e pela total libertação da humanidade de preconceitos seculares ou religiosos.Está a circulat um abaixo assinado em inglês sobre este tema, não é facil a tradução deste tema complexo, par quem não domine eficazmente a língua inglesa, daí a minha busca. Estou disponivel nesta luta, como em muitas outras.

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