“Suponha que se organiza a sociedade de tal modo que apenas os homens são autorizados a trabalhar fora de casa. As mulheres são confinadas ao interior para serem cuidadoras de crianças e donas de casa. Já que as mulheres não podem trabalhar, as suas hipóteses de sobrevivência dependem de serem suportadas primeiro pelos pais e depois pelo marido. Os pais têm de pagar um dote ao homem que tomar conta da filha.
Suponha ainda que não há sistema de segurança social e os pais tem de contar com os filhos para os suportarem quando forem velhos. Se você fosse pai, inevitavelmente preferiria um filho, que receberia um dote quando casasse e tomaria conta de si quando você fosse demasiado velho para trabalhar.
As filhas não têm para si qualquer utilidade e são um encargo para a sua já magra receita. Não surpreende se decidir abortar/matar bébés do sexo feminino. Outros adoptam o mesmo comportamento e assim a proporção de homens em relação às mulheres fica distorcida. Então o que é que acontece quando o seu filho tenta encontrar uma esposa? Não há mulheres suficientes em redor.
Há várias soluções. Pode arranjar uma esposa para um filho que depois será partilhada por outros irmãos. Ou pode raptar uma mulher para ser a esposa do seu filho. Ou pode comprar uma mulher que tenha sido raptada, por vezes, através de um leilão.
Já que as mulheres são percebidas como seres inferiores na sua sociedade – você mata as suas bébés, lembra-se? – as mulheres partilhadas e compradas serão suas para as tratar como se fossem uma propriedade. Bem vindo à India rural!”*
· Texto publicado em Feminist Philosophers