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domingo, 30 de outubro de 2011

Bem vindo à India rural – o patriarcado no seu melhor

“Suponha que se organiza a sociedade de tal modo que apenas os homens são autorizados a trabalhar fora de casa. As mulheres são confinadas ao interior para serem cuidadoras de crianças e donas de casa. Já que as mulheres não podem trabalhar, as suas hipóteses de sobrevivência dependem de serem suportadas primeiro pelos pais e depois pelo marido. Os pais têm de pagar um dote ao homem que tomar conta da filha.

Suponha ainda que não há sistema de segurança social e os pais tem de contar com os filhos para os suportarem quando forem velhos. Se você fosse pai, inevitavelmente preferiria um filho, que receberia um dote quando casasse e tomaria conta de si quando você fosse demasiado velho para trabalhar.

As filhas não têm para si qualquer utilidade e são um encargo para a sua já magra receita. Não surpreende se decidir abortar/matar bébés do sexo feminino. Outros adoptam o mesmo comportamento e assim a proporção de homens em relação às mulheres fica distorcida. Então o que é que acontece quando o seu filho tenta encontrar uma esposa? Não há mulheres suficientes em redor.

Há várias soluções. Pode arranjar uma esposa para um filho que depois será partilhada por outros irmãos. Ou pode raptar uma mulher para ser a esposa do seu filho. Ou pode comprar uma mulher que tenha sido raptada, por vezes, através de um leilão.

Já que as mulheres são percebidas como seres inferiores na sua sociedade – você mata as suas bébés, lembra-se? – as mulheres partilhadas e compradas serão suas para as tratar como se fossem uma propriedade. Bem vindo à India rural!”*

· Texto publicado em Feminist Philosophers

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Olha par eles a protegerem as mulheres ... acobertando o casamento infantil

Uma lei internacional, cujo objectivo era proteger crianças do sexo feminino, foi derrotada recentemente nos Estados Unidos quando o partido republicano resolveu retirar-lhe o seu apoio com o argumento de que a medida iria custar dinheiro ao erário público. Tal lei, a ser aprovada, reconheceria o casamento de crianças como uma violação dos direitos humanos e permitiria a partir daí desenvolver estratégias para evitar esse tipo de casamento.

A prática do casamento de crianças encontra-se disseminada a nível mundial e basicamente permite que as famílias utilizem as filhas, meninas ainda ou adolescentes, como moeda de troca. Desse modo, as crianças do sexo feminino, muitas vezes com apenas dez anos de idade, são «dadas» - leia-se vendidas - em casamento a homens que geralmente têm mais do dobro da sua idade. É a educação dessas crianças que fica comprometida, é a sua saúde que corre um risco sério, é o ciclo infernal de pobreza que não vai ser quebrado.
E tudo isto acontece sem que a comunidade internacional consiga intervir, com um país tão poderoso como os Estados Unidos a eximir-se de responsabilidades através de um partido que revela nestes pequenos pormenores a sua identidade reaccionária.

sábado, 24 de julho de 2010

A desigualdade sexual na origem da feminização da Sida

Na conferência internacional sobre a Sida (HIV), realizada em Viena em Julho de 2010, reconheceu-se que a violência sexual contra as mulheres e as jovens é a principal causa da feminização da Sida.

A desigualdade entre os sexos e a falta de poder das mulheres e das jovens para recusarem relações sexuais não protegidas constitui um autêntico atentado aos direitos humanos e é assim que deve ser entendida. É preciso diminuir a pressão cultural e religiosa que conforma as mulheres a submeterem-se e, ao mesmo tempo, é preciso publicar legislação e adoptar medidas que permitam o acesso das mulheres a cuidados de saúde e à informação indispensável, porque, como diz Brigitte Schmied:

«Negar a uma mulher os meios e a informação de que necessita para proteger e cuidar da sua saúde e da das suas filhas e filhos é negar o valor das suas vidas.»

Para além da expansão de medidas preventivas e de tratamento, é muito importante que as mulheres tomem consciência dos seus direitos enquanto direitos humanos e isso só será possível com o acesso à informação e com a diminuição da pressão cultural e religiosa; neste caso os líderes religiosos poderiam de facto utilizar o prestígio de que gozam junto das populações para ajudarem a mudar mentalidades e para exercerem uma função civilizadora que um entendimento mais humano da religião pode permitir. Mas não sei se será possível ir por aí quando é por demais conhecido o potencial misógino das diferentes religiões que apenas se limitam a mudar os nomes aos deuses, mantendo-se muito semelhantes no essencial.


Li esta importante matéria, que aqui abordo, num post do blog Genero con Clase

terça-feira, 22 de junho de 2010

Cristãos conservadores e misoginia

Mike Huckabee (1950) é um político norte-americano, filiado no partido republicano, ex-governador do Arkansas e apresentado em 2008 como possível candidato a vice-presidente de MacCain; é ainda pastor da igreja baptista e, como não podia deixar de ser, cristão conservador, com larga audiência neste meio. Ora este senhor permitiu-se recentemente a seguinte graçola acerca de Nancy Pelosi (1940) e Helen Thomas (1920), a primeira, líder da maioria democrata no Congresso, a segunda, jornalista, actualmente aposentada, com uma carreira notável na vida publica norte-americana:

«A única coisa pior que um caso tórrido com a doce, doce Nancy seria um caso tórrido com Helen Thomas. Se essas fossem as minhas duas únicas opções, provavelmente eu apoiaria o casamento entre pessoas do mesmo sexo.»

Claro que, como não podia deixar de ser, os media prontamente divulgaram a «graçola», como sempre fazem com notícias que pretendem ridicularizar ou diminuir mulheres que ocupam cargos políticos ou desempenham papeis importantes na esfera pública, a par com os seus colegas masculinos. Acerca desta proclamação não posso deixar de traduzir um comentário de uma leitora que me parece muito lúcido:

«Minhas senhoras, aprendam a lição: não interessa quanto vocês consigam realizar na vida, há-de haver sempre um cara de cu que consegue cobertura nos media para dizer que ele não vos quer f… »

A proclamação merdosa do sr. Huckabee mostra que ele e muitos outros como ele continuam a olhar com hostilidade para as mulheres sempre que elas se destacam e revelam capacidade para ser outra coisa que não esposas dedicadas (a eles próprios!) e mães devotadas (da sua prole!); aí então vem a misoginia ao de cima e revelam o «cavalheirismo» que gostam tanto de cultivar.
De resto é esta mesma misoginia que está presente quando, face a candidatas femininas a cargos públicos, os comentários dos media se focam nos atributos físicos das mesmas ao invés de escrutinarem as suas aptidões para o lugar que pretendem vir a desempenhar e isto tem de ser denunciado com firmeza como aquilo que realmente é: o velho, estafado, mas nunca ultrapassado, preconceito machista.
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domingo, 6 de junho de 2010

Futebol ... pelas piores razões!!

Do blog da Lúcia, transcrevo um excerto do texto aí publicado, revelador de como a violência contra as mulheres se exprime a todos os níveis e em todas as arenas, começando pelo próprio discurso linguístico e pelo futebol.
O futebolista que proferiu tão infelizes expressões, devia pensar - mas mão pensou - que com esse linguajar está a trivializar e consequentemente a aceitar e a legitimar a violência contra as mulheres.

«Como na música, “todo dia a cidade vem e nos desafia...” e é assim mesmo, todos os dias somos provocadas em nossa dignidade e não é de hoje as lutas dos movimentos e das organizações ligadas ao combate da violência contra as mulheres. Constantemente enfrentamos “ferrenhas” batalhas contra as campanhas publicitárias que utilizam a imagem da mulher em seus produtos e as oferecem como objeto de consumo. A coisificação tá escancarada e o desrespeito cada vez maior.
Esta semana fomos surpreendidas com a deplorável declaração de um desportista, jogador de futebol da Seleção Brasileira, Felipe Melo, ao falar sobre a sua insatisfação com a Jabulani, a bola oficial da Copa do Mundo:

"A outra bola é igual a mulher de malandro: você chuta e ela continua ali. Essa de agora é igual a uma patricinha, que não quer ser chutada de jeito nenhum".

O que nos leva a várias interpretações podendo entender que tanto a “mulher de malandro”, como “a patricinha”, (sem contar a ofensa dos rótulos) mesmo as duas não querendo, serão vítimas de violência, a diferença é que uma é agredida e se cala e a outra mesmo resistindo e reclamando será agredida também.
O fato é: a famigerada declaração vem carregada de machismo e nas entrelinhas revela a cultura de violência “velada” que existe no “mundo das personalidades” (o que não é nenhuma novidade pra nós), nos levando a uma reflexão sobre a postura do referido e o quanto isso nos transtorna.»

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Virtudes da misoginia

Hoje não é frequente encontrar homens que exprimam ou verbalizem sentimentos misóginos porque em certo sentido isso deixou de ser politicamente correcto. Afirmar que as mulheres são inferiores aos homens e que a relação entre os sexos é uma relação de domínio/ submissão, pelo menos em público e no Ocidente, deixou de ser aceitável, mas isso não impede que esse verniz estale na primeira e mais leve oportunidade e que a prática e a realidade do quotidiano desmintam essa postura teórica.

De qualquer modo já avançamos um pouco, e esse pouco é significativo, se lembrarmos que ainda nos fins do século XVIII, Kant podia estabelecer e defender, sem se sentir minimamente perturbado, a necessidade das mulheres serem dominadas pelos homens:

«A natureza requer, explicou Kant, que a espécie se propague. Para esse propósito, é necessária a união entre homens e mulheres, uma união na qual é requerida diferença para assegurar uma adaptação coesa. Para que tal união seja estável, uma das pessoas tem de submeter-se à outra e, correspondentemente, uma deve ser superior à outra de modo a dominar ou governar» (Kant, Antropologia, citado por Andrea Nye in Feminism and Modern Philosophy.)

Deste modo, a filosofia pela voz de um dos seus mais autorizados pensadores deu expressão a um preconceito corrente na época e ainda hoje largamente difundido - Kant não se limitou a exprimir o preconceito, também o reforçou, acrescentando-lhe justificação, fornecendo-lhe o racional. Não passou pela cabeça de Kant que a união entre homem e mulher pudesse ser fundada na cooperação; a relação de domínio/ submissão é por ele vista como inevitável, porque fundada na natureza, e desejável, porque necessária para a perpetuação da espécie.

Afinal a misoginia sempre tem as suas virtudes!!

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Defender os trabalhadores crucificando as mulheres?!

Mais uma vez se prova como sacrificar os interesses das mulheres aos interesses da classe trabalhadora, como propõe o feminismo de inspiração marxista, pode redundar no atropelo dos mais elementares direitos das mulheres, enquanto direitos humanos.
Vem isto a propósito do que se passou recentemente na Nicarágua em que o governo de Daniel Ortega, ex-combatente pela liberdade e pelos direitos dos trabalhadores, para se manter no poder, pactuou com a igreja católica e com as forças de direita, dando ocasião a que se banisse no país o acesso legal a todo e qualquer tipo de aborto, incluindo o aborto terapêutico ou por motivo de violação.

Temos assim, meninas, ainda crianças, vítimas de abusos de vária ordem, a criarem outras crianças, num círculo infernal de sofrimento e pobreza; temos assim mulheres, correndo o risco de perderem a própria vida, obrigadas a levarem a termo uma gravidez de alto risco; temos assim crianças a nascerem com malformações congénitas, num país em que os recursos e as possibilidades de sobrevivência digna são mais do que problemáticas. (1)

Estamos habituados ao cinismo político, mas que podemos esperar quando nos dizem que se serve a causa das mulheres servindo-se a causa da classe trabalhadora e quando, de todos os quadrantes e de todos os meios, desde os religiosos aos de entretenimento e espectáculo, nos vendem o mito do amor materno incondicional, e nos forjam a imagem da mulher cujo mérito maior será o de se esquecer de si própria, colocando-se ao serviço da espécie e … obviamente dos machos complacentes que lhe hão-de prodigalizar adulações tão balofas quanto hipócritas.

Todas estas malfeitorias, este controlo abjecto sobre a sexualidade das mulheres, se cometem em nome da vida, dos valores cristãos e, porventura agora também, em nome dos valores revolucionários. Que mais queremos? Parece que toda a gente fica feliz! As mulheres não devem ser gente, afinal já no Concílio de Niceia se discutiu se elas teriam alma e pelos vistos continua a considerar-se que não têm, basta que sejam máquinas a serviço da propagação da espécie.

(1) veja neste outro blog a abordagem deste tema com dados estatísticos que interessa conhecer.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Má reputação

O inefável Rousseau, pseudo-feminista, sexista benevolente, e às vezes nem tanto, a quem Voltaire chamava, com propriedade, amigo ingrato, pai desnaturado e hipócrita, afirmava que a opinião pública era o túmulo da virtude do homem e o trono da virtude da mulher, querendo significar com esta bombástica frase, tão ao jeito da sua persuasiva retórica, que os homens podiam e deviam ignorá-la, mostrando assim a sua autonomia e assertividade, mas as mulheres tinham a estrita obrigação de se lhe submeterem sem darem azo a que a sua reputação fosse minimamente beliscada.

Rousseau limitava-se a dar voz a um preconceito antiquíssimo que muitas mulheres, a maioria, ainda não se atrevem a questionar. Nos nossos dias, é altamente improvável que qualquer mulher em situação de poder, independentemente do seu comportamento sexual, não tenha sido mimoseada com o adjectivo de «puta», pronunciado mais ou menos enfaticamente. Ainda hoje, «filho da puta» ou «bastardo» como eufemísticamente dizem os ingleses, continua a ser um grave insulto, mesmo que a «puta» em questão se tenha limitado a parir um filho fora de uma relação convencional. Isto para não falar das mulheres que decidem assumir a sua liberdade sexual; para estas, o duplo padrão de conduta, que permite aos homens o que proíbe às mulheres, continua a ser implacável como a imagem sarcasticamente sugere.

Resumindo, continua a presidir às nossas vidas uma moral sexual hipócrita para a qual as virtudes femininas são as de um comportamento sexual de acordo com os «bons costumes» que, além disso, não deve ameaçar a hegemonia masculina.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Evitar o aborto ou controlar a sexualidade feminina!?

Gosto quando as pessoas têm a coragem de pôr o dedo na ferida e chamar os bois pelos nomes. Foi assim, hoje, com o congressista norte – americano Tim Ryan que abandonou a sua posição pelo «Democrats For Life of America».

Nos Estados Unidos, algumas organizações Pró-Vida, democratas e republicanas, não só se opõem à legalização do aborto, como também contestam o controlo de nascimentos pelo uso de contraceptivos, único meio seguro de evitar uma gravidez indesejada e de, desse modo, reduzir significativamente o número de abortos.
Ora, o congressista Tim Ryan chegou à conclusão óbvio: estas organizações não querem pôr termo ao aborto, querem controlar o corpo da mulher e a sexualidade feminina.

São os novos cruzados dos tempos modernos. Mais um quotidiano da misoginia!

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Carta aberta a todos aqueles que defendem a secundarização da causa das mulheres

Vou transcrever excertos de um post do Reclusive Leftist blog que me parece responder precisamente àqueles que não percebem que as mulheres são oprimidas tão simplesmente e apenas por serem mulheres e por os homens não quererem partilhar com elas o poder, temendo perder os seus ancestrais privilégios.

O texto, que a seguir traduzo e adapto, refere um artigo que foi publicado no Vanity Fair sobre Sara Palin que, como todos sabemos, foi candidata a Vice Presidente dos E.U. pelo Partido Republicano. Palin é uma mulher de direita e conservadora, mas mesmo assim não foi poupada nem pelo seu próprio partido e mesmo as críticas que os democratas lhe fizeram foram dirigidas à mulher, não à conservadora de direita.

Isto prova, em minha opinião, que as mulheres, de esquerda, de direita ou do centro, lésbicas, heterossexuais ou bissexuais, o melhor que têm a fazer é definirem uma agenda com o maior denominador comum possível e empreender a luta pela igualdade de direitos e pela partilha do poder. Todos conhecemos o ditado: dividir para reinar e, enquanto estivermos divididas, vai ser difícil derrotar o inimigo comum.

Na revista Vanity Fair, Steve Schmidt, estratega da última campanha presidencial republicana, dá uma entrevista a Todd Purdum, editor da revista, que descreve Palin como uma «mulher indubitavelmente fértil», a expressão utilizada é “indisputably fertile female” (dificilmente se encontraria qualquer referência à fertilidade, se o candidato fosse macho) cuja vida se assemelha a uma «amálgama profana de Donas de Casa Desesperadas e Nortistas Exibidas. Os comentários que os dois tecem a Sara Palin denunciam um sexismo chocante que não conseguem reprimir.

Segundo Violet Socks há várias lições atirar deste incidente:

Lição nº 1: Mulheres que concorrem a cargos políticos precisam de ficar longe dos estrategas de campanha masculinos. Se tem um pénis não o contrates (… ). Ele pode dizer que o trabalho dele é fazer com que sejas eleita e até pode acreditar nisso, mas no fundo, bem no fundo do seu frágil cérebro pode alojar-se um ressentido porco sexista que se sente compelido a sabotar «pessoas com partes de mulher». O patriarcado é forte.

Lição nº 2: Os media não são teus amigos. Odeiam-te. Não importa que sejas republicana ou democrata, liberal ou conservadora, pró-escolha ou anti-aborto, brilhante ou medíocre, jovem ou velha, bonita ou feia. Tu tens «partes de mulher», eles odeiam-te. …

Lição nº 3: Isto não tem nada a ver com política. Os chamados progressistas não odeiam Sara Palin por ela ser republicana; odeiam-na porque ela é mulher. Confirma com os blogs liberais que jubilosamente citam Vanity Fair e se mostram compreensivos para com o seu novo melhor amigo, o republicano Steve Schmith...

Lição nº 4: Feministas de recente persuasão, que ainda não aprenderam as lições de 1 a 3, precisam de ir à escola. Juntares-te aos que sovam Palin ou outras mulheres que historicamente têm sido sovadas não te dá um passe; não te torna homem honorário. Continuas a ser mulher e os gajos em breve te destruirão como fizeram com Sara Palin."


terça-feira, 23 de junho de 2009

Burka e cidadania (engaiolada?!)

Num post anterior, manifestei a minha aprovação face à possibilidade de as autoridades francesas proibirem o uso da burka nos espaços públicos. Entretanto o anúncio desta eventual medida tem gerado enorme polémica e são muitas as vozes, algumas delas femininas, que se insurgem.
Alegam os contestatários que o Estado não tem o direito de interferir no tipo de vestuário que as mulheres usam ou deixam de usar e que o uso da burka deve portanto ser deixado ao critério das mulheres. Mas esta posição, do meu ponto de vista, é pura expressão de má – fé, pois ignora um facto óbvio: o uso da burka resulta de pressões sociais, religiosas e familiares fortíssimas que na prática impedem as mulheres de fazer qualquer escolha na matéria, e isto é algo que todos nós sabemos e que nem sequer é contestado.
Por outro lado, considerar que o Estado (opressor) não deve intrometer-se nestas questões é esquecer que a opressão começa no seio das famílias e que, para proteger os direitos dos indivíduos, o Estado tem o direito, e sobretudo o dever - de que não pode demitir-se, de se intrometer. Neste aspecto, saúdo as palavras do Presidente Sarkozy:

«No nosso país não podemos aceitar que as mulheres sejam prisioneiras por detrás de um biombo, isoladas de toda a vida social, privadas de toda a identidade, (…) A burka não é um símbolo religioso, é um sinal de subserviência, um sinal de degradação – quero dizê-lo solenemente – ela não será bem aceite no território da República Francesa.

Depois de tudo isto ainda há uns pândegos que proclamam: Com esta medida, a França nega a cidadania às mulheres muçulmanas. Que alguns homens insistam nesta tecla, ainda vá que não vá, mas que as mulheres também colaborem, não há pachorra: Deixem de ser trouxas!

domingo, 31 de maio de 2009

Até onde pode ir a estupidez humana!

A JBS, fabricante dinamarquesa de roupa interior masculina, receando que os seus eventuais clientes não gostassem de ver as suas roupas exibidadas por corpos masculinos mais ou menos despidos, resolveu mudar o cenário. Pelos vistos, não lhes pareceu correcto explorar a nudez masculina; mas com a feminina, tudo bem, por que não?!

Solução original é certo, mas também bastante estúpida e até insultuosa!

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Mulheres hostis ao feminismo! Como é isso possível?

Quando vejo mulheres dizerem que o feminismo vendeu ilusões, mais do que espantada fico indignada. É como se, por exemplo, homens e mulheres negras criticassem negativamente aqueles seus irmãos e irmãs que se bateram pela libertação. Não percebo como é que não se pode ter consciência da afronta que se está a fazer!
Essas mesmas senhoras têm ainda o desaforo de associar o feminismo à perda dos valores sociais; não sei bem o que entender por isso, e elas se calhar também não. Mas insinuar que a entrada das mulheres no mundo do trabalho as tornou más mães, além de injusto, é fazer o jeito aos elementos machistas da sociedade que desde sempre pretenderam limitar o papel da mulher ao de mãe e de esposa, e confiná-la à casa enquanto seu lugar natural. Com mulheres destas não são precisos machistas para nada.
Falam ainda com grande pompa e circunstância na possibilidade da mulher escolher entre carreira e maternidade e optar por uma ou por outra. Não se dão conta de que esse é exactamente o movimento que convém aos defensores das estruturas de opressão. Passo a explicar: o que interessa às mulheres é exactamente o contrário, o que importa é que cada vez mais mulheres ocupem lugares de poder, tanto no mundo da economia e da finança como no da política; essas e todas as mulheres que trabalham devem ainda exigir que os respectivos consortes partilhem realmente a mesma sorte e que também se ocupem das tarefas que até ao momento tem estado exclusivamente às costas delas. Se isso acontecer, eles irão ser os primeiros a querer mudar as regras do mundo do trabalho que, como sabemos, foi até há pouco um mundo de homens e para homens e por isso ignora completamente as novas circunstâncias.
O feminismo foi e é um movimento que apenas pretende que sejam reconhecidos às mulheres direitos que durante séculos lhes foram negados e que ainda hoje ou são ignorados ou estão longe de completo reconhecimento, mas há muito boa gente que pretende fazer passar a falsa ideia de que o feminismo é o machismo ao contrário para assim melhor o denegrir e combater; em lógica esta falácia é conhecida por falácia do espantalho e costuma resultar muito bem.
Pelos motivos acima explicados, depois de ter lido um blogue de uma anti feminista que enche a boca com liberdade de escolha, não resiti a publicar este post que ilustro com um video bem conseguido sobre o que é ser feminista:

terça-feira, 5 de maio de 2009

Porque é que este anúncio é sexista?

Sabemos que o sexismo está implícito em muitos anúncios publicitários, como aqui podemos observar.
Porque é que este anúncio é sexista?

Fica o desafio esperando a V. resposta nos comentários.

domingo, 26 de abril de 2009

Quando a Igreja Católica colhe o que semeia

Na República Dominicana, país de forte tradição católica, foi votada uma emenda à Constituição que no artigo 30 estabelece: «O direito à vida é inviolável desde a concepção até à morte» - impondo-se assim a proibição radical do aborto.
Do alto do púlpito, o Cardeal de S. Domingos, Nicholas de Jesuz Lopez Rodriguez na missa que semanalmente oficia voltou a reafirmar a oposição da Igreja Católica ao aborto em qualquer circunstância. O movimento pró-vida exultou com o novo quadro legal.
Estranho nome este de movimento pró-vida; estranha Igreja esta do inviolável direito à vida, porque para ambas, de facto, a única vida que importa é a do feto, a da mulher é dispensável; de outro modo, no mínimo teriam considerado uma excepção: o risco de vida para a mulher, ou seja, o aborto terapêutico que as autoridades médicas do país são unânimes em defender.

Não satisfeitos com a ilegalização total do aborto, em qualquer circunstância, também os anticoncepcionais estão na mira dos legisladores, proibindo-se desde já o recurso aos dispositivos intrauterinos.

É uma infelicidade que, num país com índices alarmantes de pobreza e em que 39% dos lares são constituidos por mães solteiras e seus filhos, se castiguem os pobres com filhos não desejados, condenados a repetirem o ciclo de sofrimento e pobreza.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Talibans: o terror continua


Em Swat valley, no Paquistão, numa região fronteiriça com o Afganistão, na qual as autoridades legais apenas detêm um poder formal, uma jovem de 17 anos foi flagelada pelos talibans sob o pretexto de que teria mantido relações sexuais com um homem com o qual não era casada.
O governo decidiu mandar abrir um inquérito, mas a jovem recusou comparecer e negou ser ela a protagonista passiva da selvática cena!!


quinta-feira, 9 de abril de 2009

Anticoncepcionais, heroína e armas letais …

Uma aluna de um liceu de Virgínia - Estados Unidos, foi suspensa por duas semanas e corre o risco de vir a ser expulsa por ter sido «apanhada» a tomar um comprimido anti-concepcional. A penalização é equivalente à prevista para a entrada na escola com uma arma carregada e superior à prevista para quem for encontrado com heroína.
Ora o comportamento da aluna é responsável, sobretudo quando se defende a necessidade de prevenir uma gravidez altamente indesejada por toda a sociedade e de diminuir drasticamente o número de mães adolescentes. Mas, mesmo se não fosse esse o entendimento da Administração da Escola, não deixa de ser surpreendente a comparação entre o castigo aqui aplicado e o previsto nas outras duas situações acima referidas.
Parece que falta alguma dose de bom senso ou então, numa interpretação menos generosa, parece que se continua a pretender penalizar a mulher, exigindo que assuma a responsabilidade do seu «pecado». Neste último caso, mais um quotidiano de misoginia.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

A invisibilidade das mulheres na política

Descubra as diferenças.

São apenas duas, mas mesmo assim incomodam muita gente!
Em Israel, uma fotografia do gabinete governamental foi manipulada por dois jornais ultra-ortodoxos de modo a apagar as imagens das mulheres. Uma autêntica metáfora para o que se passa pelo mundo fora no que respeita à representatividade das mulheres na política e, neste específico caso, também, para a interferência da esfera religiosa no mundo laico.
Argumento: Publicar na imprensa imagens de mulheres fere gravemente a virtude da modéstia e do recato que estas devem respeitar.

segunda-feira, 23 de março de 2009

África, o Papa e o preservativo

A visita do Papa a África e a insistência na proibição do uso do preservativo enquanto meio que poderia ajudar a prevenir a Sida vai à revelia de todos os conselhos das autoridades em saúde pública e pode ser vista como uma sentença de morte para as mulheres africanas.
Sabendo-se que 62 por cento das pessoas infectadas neste continente são mulheres - cifra que representa praticamente o dobro do número de homens, pode perguntar-se mais uma vez se a Igreja, como no caso da menina de Recife estuprada pelo padrasto, cultiva a compaixão e os sentimentos de benevolência e ternura pelos mais fracos ou se continua agarrada a princípios abstractos que pecam por serem retrógrados e se revestirem de consequências nefastas para a humanidade.
Como escreveu o director executivo da UNFPA (Fundo das Nações Unidas para a População) «As mulheres e as jovens são vulneráveis à Sida, não por causa do seu comportamento individual, mas por causa da discriminação e da violência que enfrentam e da desigual relação de poder em que se encontram.»
Mulheres e jovens dependem economicamente dos homens e são vítimas de práticas tradicionais baseadas na violência de género que se reflectem em violência sexual, violência doméstica, casamentos de crianças e de jovens raparigas com homens muito mais velhos, práticas poligâmicas e mutilação genital feminina. Deste modo as mulheres têm mais probabilidade de serem infectadas pelo HIV, mas não têm poder para exigir sexo seguro ou rejeitar relações sexuais.
Neste contexto, o encorajamento ao uso do preservativo poderia ser uma ajuda preciosa, mas o que vimos não foi isso: mais uma vez as entidades religiosas optaram por fazer ouvir uma voz, e o que é pior, uma «voz autorizada» que opina exactamente em sentido contrário.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Violação correctiva merece punição exemplar

Li no Guardian um artigo com o título «Raped and killed for being a lesbian» que relata casos frequentes de «violações correctivas» que nos últimos tempos têm ocorrido na África do Sul. Só nos faltava mais este jargão que remete para um crime de violência extrema cometido contra as mulheres.
Na África do Sul - por enquanto o crime parece estar localizado - gangues de homens, inseguros da sua masculinidade (?!), atacam jovens lésbicas: violam-nas, espancam-nas e, em casos extremos, chegam mesmo ao assassínio. O motivo é manifestarem o seu repúdio por uma orientação sexual da qual de tal modo discordam que, não querendo deixar o assunto em mãos alheias, resolvem puni-la. Como? Ensinando as jovens a «apreciarem» devidamente os atributos e a potência masculina.
É ainda igualmente grave a complacência das autoridades policiais - que pouco fazem para pôr cobro a crime tão revoltante, e o à vontade com que jovens rapazes entrevistados encaram o assunto e o justificam. Ora crimes desta natureza deviam ser previstos nas constituições dos países civilizados, encarados como crimes de ódio e, sobretudo, punidos de forma exemplar de modo a desencorajar drasticamente eventuais seguidores. Isto para não falar da necessidade de mudar mentalidades e atacar a cultura machista na qual radicam atitudes deste teor.
Estes e outros casos levam-me a pensar que legalizar o casamento de homossexuais pode ser uma boa estratégia para quebrar a dentuça a esta cultura machista, intolerante e fanática, que não aceita o outro e que, incapaz de compreender a diferença, procura anulá-la.