quarta-feira, 14 de março de 2012

As jovens e o feminismo

Encontrei aqui um post interessante sobre a velha rejeição do feminismo por jovens mulheres que são ignorantes da história, o que não admira muito porque se tem feito tudo para apagar do passado o que não interessa ao statu quo. Mas mesmo assim não deixa de ser lamentável essa ignorância, sobretudo vinda de uma jovem que cursou uma universidade e até tirou um curso de filosofia, pergunto-me para que lhe serviu? A jovem em questão é Talyta Carvalho e o texto a seguir de Lélia Almeida é escrito a pensar nela:

Marcelo Mirisola publicou hoje, dia 8 de março, no Facebook, a matéria de Talyta Carvalho, uma filósofa de 25 anos onde ela diz que não deve nada ao feminismo e às feministas. A frase não é original, quem a disse assim, tal e qual foi Margaret Thatcher quando chegou ao poder. Não sei se a moça sabe o que a Dama de Ferro significou na história da Inglaterra e no aniquilamento das políticas de direitos humanos, trabalhistas e outros daquele país. O GNT está passando esta semana um documentário canadense que se chama "Quem Quer Ser Feminista?" falando sobre os diferentes momentos da história da luta das mulheres e entrevistando algumas feministas famosas. Naomy Wolf diz que o grande problema do feminismo hoje é para quem passar o bastão da luta já que as mulheres jovens não se interessam pelo ideário feminista numa falsa ilusão de que tudo já foi conquistado. Germaine Greer diz que a tendência de uma nova onda feminista sempre tende a negar a anterior e que, portanto, é compreensível que as jovens mulheres neguem o feminismo. O que é legítimo, elas que inventem o feminismo que bem entenderem ou que nunca mais falem neste assunto.
Marcelo Mirisola diz que a moça é corajosa, pergunta ás leitoras do face o que achamos de fazer uma entrevista com a jovem e publicá-la no Congresso em Foco, veículo onde ele é colunista e propõe que enviemos perguntas para a entrevista. Sugiro que ele entreviste a moça, e que possibilite que ela vire uma celebridade e, quem sabe, a candidata a calendário de oficina mecânica, como sói acontecer.
Mas vou fazer o meu dever de casa. Seguem as minhas sugestões de perguntas: Você já fez um aborto? Você já se sentiu constrangida, desconfortável, impotente junto a um parceiro que se negou terminantemente a usar camisinha com você? Você sabia que houve um momento na história do mundo em que as mulheres tiveram de se rebelar contra normas e padrões muito rígidos para poder estudar, dirigir um carro, não querer casar e ter filhos e fazer qualquer coisa que achassem mais interessantes? Você se sente inteiramente feliz e confortável com o seu corpo, sua sexualidade e isenta do bombardeio midiático que preconiza a beleza feminina jovem e bela e que trata as mulheres como retardadas e infantis? Você sabia que milhares de mulheres no mundo inteiro morrem na mesa de abortos mal feitos, de mutilação genital e nas mãos de homens que dizem matar por amor ou para defender a própria honra? Você acha que as mulheres devem votar e defender suas demandas, interesses, e os das suas filhas? O que você acha dos índices relativos á saúde mental que provam que as mulheres são supermedicadas por depressão e outras moléstias modernas por viverem situações de sobrecarga cada dia mais insuportáveis para grande parte delas? Você acha que os maridos devem sustentar suas mulheres? Você acha que as mulheres devem ficar em casa cuidando dos filhos? Você acha que em briga de marido e mulher não se mete a colher e que as mulheres que são estupradas, no fundo, provocaram esta situação?

4 comentários:

  1. Obrigado pela explicação. Esta ignorância é fato.As pessoas se fixam a uma informação única,extremada que impõe a idéia dominante do status quo.Fato.
    Est ignorância aliada a arrogância é fatal ao conhecimento e as novas mudanças. Triste saber que uma jovem tão jovem renega a historia e as lutas sociais ,feministas.Como poderá pensar com liberdade? Talvez venha de uma famila conservadora e estudou em universidade conservadora! Triste. Esta elite poderá estar nopoder amanha e o que será?porta voz de idéias atrasadas. Se a INTERNET divulga tolices ,também faz o oposto.Trazer estas questões para debate é o bom caminho.Ela dirá por que nega a historia feminista e seus avançoes e nos diremos dos avançoes que ela ainda não viu!Iniciativa necessária,Todos ganharão! Se o comunismo faliu,o capitalismo vai para o abismo também..o que ficará? Novas ordens a serem debatidas.mas defender o velho (esquerda ou direita)é atrasar o processo da evolução mental e intelectual. Mas o mundo se mexe!Que bom! Abraço

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  2. Eu tive o desprazer de ler o que ela escreveu. Mal sabe ela que se ela está escrevende para um jornal sem usar um pseudônimo masculino é por que houve mulheres antes dela que lutaram pelo direito de expor suas idéias!!!
    Eu faria as mesmas perguntas que você fez, Adília.
    Eu (e nós todas) devemos agradecer muito ao feminismo pelo que foi alcancado até hoje, mas acima de tudo temos que perceber que nossos direitos ainda nao sao plenos e muitos deles estao ameacados...

    Fran

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  3. Oi Adília,
    gostaria de saber sua opinião sobre uma ala do movimento feminista que propõe a dissolução dos gêneros, a abolição dos mesmos, baseado numa minoria transgênera...
    isto seria uma forma de misoginia?
    fui chamada de cissexista e transfóbica apenas pq disse q sou mulher e amo ser mulher, e não abro mão disso de jeito nenhum...
    Nana Odara

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  4. Querida Nana
    Gostaria de lhe dar uma resposta direta e sem ambiguidades mas a questão é complexa e a resposta não é simples.
    Não podemos esquecer que foi insistindo na específica condição da mulher enquanto mulher e não enquanto ser humano que as mulheres foram remetidas para lugares de submissão e de subserviencia em relação aos homens, daí o pensar-se que enquanto se acentuarem as diferenças e não se insistir nas semelhanças o perigo permanece.
    A condição especifica da mulher, nomeadamente enquanto mãe, poderia ter sido valorizada mas o facto é que historicamente não foi e serviu apenas para a limitar; isto é objetivo e quando fazemos qualquer analise nao devemos esquecer as condições objetivas.
    Pelo que conheço de si não tenho nada a ideia de que a Nana seja sexista, bem pelo contrario.
    Onde podemos discordar será nas estrategias a priorizar para defender os direitos das mulherees enquanto direitos humanos e aí eu acho que não é por exemplo pela valorizaçaõ da maternidade que lá vamos.
    Beijo. Adília

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