Diferentemente
das agressões interpessoais, a agressão de gênero não ocorre na sequência de um
conflito perceptível e incapaz de ser resolvido por outro meio que não seja o
recurso à força; além disso é uma agressão extremamente desproporcionada que
visa marcar uma posição – a daquele que manda. O seu objectivo é dar uma lição:
“é para aprenderes a não desobedecer ao dono!”
O recurso a este
tipo de violência no decorrer de uma relação heterossexual funciona como
mecanismo de controlo para manter a mulher no seu lugar e, se a relação se
rompe, o agressor destila a sua frustração, magoando a mulher, deixando uma
espécie de marca.
Se há filhos, magoar os filhos é uma forma indirecta
de magoar a mãe, por isso não podemos também esquecer as vítimas colaterais
deste crime, as crianças que assistem aos maus tratos a que as mães são
submetidas e que por vezes são elas próprias vítimas de agressão ou até de
morte. Assim, é legítimo questionar se um companheiro que maltrata a mulher
pode ser um bom pai. É difícil aceitar que o seja porque ele deve de alguma
maneira perceber que o dano que inflige à mãe vai ter repercussões graves sobre
os filhos.
Por tudo isto, devemos
exigir tolerância zero contra a violência de género e a tolerância zero começa
com o evitar desculpabilizar o agressor, evitar encontrar razões para o compreender,
deixar de comentar quão boa pessoa ele é para os colegas de trabalho ou para os
vizinhos; como a mulher é preguiçosa, desmazelada, ou respondona, etc; enquanto
não mudarmos esta cultura, nada vamos conseguir. Mas, infelizmente, em muitos sectores
e sectores com grandes responsabilidades, como o das hierarquias religiosas, é
frequente encontrarmos pronunciamentos que vão no sentido de mais uma vez
culpabilizar as mulheres e desculpabilizar os agressores.