sábado, 6 de julho de 2013

Sado- masoquismo - caraterísticas e função

 Qualquer prática sexual que envolva a erotização da relação de domínio/submissão pode designar-se, com propriedade, de “sadomasoquista”.
O sadomasoquismo puro e duro não é, nos nossos dias, politicamente correto pois, ao nível da consciência, as mulheres têm dificuldade em aceitar que retiram prazer de serem dominadas sexualmente pelos homens. Mas uma análise crítica da questão revela que o sadomasoquismo é mais pervasivo do que queremos reconhecer; as investigações neste domínio mostram que as fantasias sexuais de muitas mulheres envolvem humilhação, degradação e violência sexual e há mesmo estudos que referem que 25% das mulheres têm fantasias de violação.
Cumpre, todavia, referir que, embora o instinto sexual seja inato, o desejo sexual e a forma como se expressa é socialmente construído e resulta do processo como mulheres e homens são educados; por exemplo, o cinema veicula constantemente modelos de homens dominadores e de mulheres submissas; o padrão mais típico foi fornecido já há bastantes anos por um clássico do cinema: “E tudo o vento levou”. Neste filme, que encantou gerações de mulheres jovens e menos jovens, no casal constituído por Scarlett O’ Hara e Rhet Butler, o sex-appeal do protagonista reside na sua brutalidade, Butler, como se diz na cultura brasileira, é um “pegador”, é aquele que se apropria da mulher, como alguém que se apropria de um bem apreciado.
Por outro lado, o sadomasoquismo é a expressão, ao nível da vida sexual, de uma cultura misógina que reforça poderosamente, isto é, decorre dessa cultura e ao mesmo tempo reforça-a, pois liga as estruturas de domínio social às estruturas do desejo sexual, mostrando quão poderosas e inevitáveis elas são. Esse desejo, identificado com o instinto, parece natural e, portanto, inevitável e aceitável.
Quando uma mulher aceita este modelo sexual - culturalmente o único que está à sua disposição - passa a ser conivente com a sua própria subordinação; pode estrebuchar, rebelar-se, mas na estrutura profunda ela está lá e se é profunda há-de manifestar-se em níveis mais superficiais. Sandra Lee Bartky em Feminism and Domination resume exemplarmente esta ideia: “ A estrutura do desejo sexual amarra a mulher ao seu opressor.”
O sadomasoquismo puro e duro só é estigmatizado socialmente e considerado politicamente incorreto porque rasga o véu e mostra quanto o modelo heterossexual prevalecente é realmente pouco respeitável. Ora a sociedade, nomeadamente os homens não gostam de reconhecer que no fundo, bem no fundo não respeitam as mulheres e estas também não gostam de reconhecer que no fundo bem no fundo até “gostam” que os homens não as respeitem.
A partir do momento em que se reconhece que o desejo sexual é culturalmente construído e um produto do condicionamento social poderia dizer-se que a sexualidade feminina também poderia ser substituída por outro tipo de sexualidade recondicionada e reprogramada. Mas ocorre perguntar: qual é a mulher que isolada e contra ventos e marés é capaz de empreender tal tarefa?
De acordo com uma posição idealista e voluntarista, norteada pelo simpático mas ilusório mote de que querer é poder, qualquer mulher, uma vez consciente do caráter construído de uma sexualidade que a envergonha poderia lutar e reprogramar-se. Mas é caso para perguntar: como é que uma mulher sozinha e isolada é capaz de desfazer o que a cultura levou séculos, milénios, a construir?

Assim, as mulheres podem ter vergonha das suas fantasias sexuais porque aos seus próprios olhos elas lhes mostram que são pessoas de menor valor, mas nem sempre, quase nunca, lhes conseguem resistir, isto é, não conseguem deixar de as ter porque foram interiorizadas numa fase, diríamos, em que prevalecia o cérebro primitivo e depois, na fase do cérebro evoluído, não as conseguem desalojar. Além disso, os modelos que lhes servem de suporte estão constantemente a ser reforçados, através dos mais variados instrumentos culturais. Portanto tudo se conjuga para a manutenção do status quo.

15 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderEliminar
  2. Pois, dominar, dominar toda a gente gosta, a questão é poder...
    de resto parece ser uma caraterística básica de qualquer ser humano. Claro que socialmente o feminino é construido para "amar" a submissão e o masculino para amar dominar, mas a "drive" é tão profunda que pelo menos nas mulheres se manifesta através dos mais variados recalcamentos.

    ResponderEliminar
  3. As mulheres que gostam de dominar apenas estão reproduzindo o modelo patriarcal que lhes é imposto e em que são 'autorizadas' no sadomasoquismo a expressar de uma maneira não convencional, pois subverte a ordem do passivo feminino e ativo masculino, um outro modo de agir. Só que a dominação sadomasoquista é apenas uma ilusão, pois acabado o teatrinho, o jogo, a mulher volta a ocupar perante a sociedade o seu lugar de inferior, subordinada e passiva. Não muda em NADA as estruturas da sociedade.

    Dominação, poder, hierarquia são constructos culturais do patriarcado.

    Relações de poder nas relações: prostituição/pornografia, estupro, bdsm, casamentos patriarcais forçados e pedofilia.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Pergunta isso para os escravos de minha Dona, que tiveram suas vidas e essências destruídas pelo seu sadismo. ;-)

      Eliminar
  4. em comentário ao ultimo comentário só gostaria de dizer que em minha opinião as estruturas económicas e sociais existentes não criam a drive de dominação apenas a reforçam; o ser humano predador parece ser um facto iniludível, o problema é construir uma outra mentalidade e aí concordo as estruturas capitalistas não ajudam, bem pelo contrário.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. posso pegar esse texto seu? darei os devidos créditos! É a primeira vez que vi esse assunto ser escancarado e e desmitificado!

      Eliminar
  5. Realmente foi muito interessante esse texto. Vou confessar que me encontro dentro dessa categoria de mulheres que gostam de ser dominadas na cama, embora eu não suporte a ideia de receber qualquer tipo de ordem fora dela. A tal trilogia 50 tonz de cinza me fascinou pela ideia da dominação na cama, excluindo alguns pontos que existiam violência (algumas situações no livro eu dispenso). Ainda planejo abordar sobre esse livro no meu blog...Se me permitir, eu gostaria de colocar o seu blog nos favoritos do meu, assim que eu descobrir como (primeira vez que eu crio um blog, ainda estou me familiarizando com algumas ferramentas). Achei seu blog extremamente interessante, se quiser conhecer o meu, aqui está o link: http://conflitossinceros.blogspot.com.br/

    ResponderEliminar
  6. Quanta miscelânia de ideias! Fiquei até atônito...

    ResponderEliminar
  7. bom,podemos começar negando essa idéia de que machismo feminino é escolha.Estou farta de ouvir isso da boca de "feministas": tudo a mulher escolhe.

    ResponderEliminar
  8. acabei de colocar no site o trailer do 50 tons de cinza https://www.vintagesexshop.com.br/loja/feminino/estimuladores-femininos/cinquenta-tons-de-cinza-trailer-do-filme

    ResponderEliminar
  9. Gostar de ser dominada é aquilo a que qualquer dominador aspira. Mas atenção os papeis sexuais até podem ser apenas simbolicos mas não se esqueçam, os simbolos tem sempre uma função e reforçam as estruturas existentes. Enquanto a diferença sexual for interpretada como hierarquia, há inferiores e superiores, ora é isso que queremos para as nossas vidas e para as nossas sociedades?

    ResponderEliminar
  10. kkkk, alguém ai quer ser submisso(a).

    ResponderEliminar
  11. eu quero ser submisso e tambem gosto de sado duro faz parte do sexo

    ResponderEliminar