Para quem defende a legalização da prostituição com o argumento de que se trata de uma prática sexual a que as mulheres decidem livremente dedicar-se, um simples contrato, como qualquer outro, em que elas prestam serviços aos seus clientes e, em alguns casos, até uma prática libertadora para as mulheres - de uma maneira geral sexualmente reprimidas, as palavras de Catherine Mackinnon deveriam merecer alguma reflexão, pois de uma forma eloquente e breve ela desconstrói, com fina ironia, essa argumentação:
«Pode ser que haja qualquer coisa que me esteja a escapar, mas não vejo por aí, advogadas, feministas ou outras mulheres do género, a venderem-se pelas ruas ou a procurarem um pornógrafo de câmara na mão a fim de conseguirem a sua realização sexual e não me consta que isso aconteça porque elas são sexualmente reprimidas.» (Catherine Mackinnon: Feminism Unmodified, a Discourse on Life and Law)
O que de facto acontece, e toda a gente sabe, mas muitos querem fazer de conta, é que a maioria das prostitutas é «arrebanhada» para essa actividade por motivações em que a situação de vida miserável em que se encontram ou a falta de opções credíveis são uma componente muito forte, diria mesmo decisiva. O facto de haver um número reduzido de prostitutas, mais dotadas fisicamente ou mais inteligentes, que aparentemente conseguem “dar a volta ao texto”, não invalida que o «exército» de prostitutas seja constituído pelas mulheres mais vulneráveis e desprotegidas do planeta. Precisamente porque são as mais desprotegidas e vulneráveis é que elas «escolhem» a prostituição, isto quando sequer «escolhem» e não são simplesmente forçadas pelas máfias que trabalham no pedaço. Claro que as prostitutas são gente como qualquer uma de nós, e até é compreensível que algumas procurem mistificar-se a elas próprias e que, recusando o papel de vítimas, façam da necessidade virtude: são prostitutas, sim, porque querem. É isso o que dizem e até podemos conceder que é o que sentem; mas nós hoje, em pleno século XXI, temos instrumentos conceptuais para perceber que esse sentimento funciona como uma carapaça que elas utilizam para resistirem à adversidade, para preservarem o seu «eu», já que, como noutro contexto, disse Amanda Marcote: não se pode sair da selva, a única hipótese é tentar sobreviver.
Olá Adília,
ResponderEliminarPlenamente de acordo em rejeitar a legalização da prostituição. Como defendes, e como muito bem refere Catherine Mackinnon, a prostituição não é uma prática sexual a que as mulheres decidem livremente dedicar-se. Para algumas, infelizmente não passa de um meio de sobrevivência que instrumentaliza e despe de encanto o próprio sexo.
Bom trabalho!
bem que eu gostaria de que voltassem a ter hieródulos, mas para isso acontecer seria necessário que a sociedade deixasse de degradar tanto a mulher, o prazer, o sexo e o corpo.
ResponderEliminarpor enquanto a situação e a profissão dessas mulheres é mais um resultado de um sistema social decadente [por ser patriarcal e monoteísta]. eu nunca conheci uma "profissional do sexo" sequer que esteja feliz com seu trabalho ou que veja nele algum "plano de carreira" ou futuro profissional, reconhecimento social, etc.
meu ultimo tópico [em pleno Natal!] vai para você, a Hanabi, o grupo do blog Maçãs Podres e para a Musa Nana Odara.
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