sexta-feira, 27 de maio de 2011

Esposa ou prostituta honoris causa?!


A história recente do escândalo sexual que envolveu o diretor do FMI Dominique Strauss Kahn é uma boa oportunidade para mostrar mais uma vez como o papel da mulher no casamento a «obriga» a alimentar o ego do marido e a sarar as suas feridas, muitas vezes com graves prejuízos dos seus (dela) legítimos interesses. Neste caso concreto, logo após a detenção do marido por alegada violação da camareira do hotel em que se hospedara, a esposa deslocou-se para os Estados Unidos e colocou-se incondicionalmente ao seu lado, prestando-lhe apoio e solidariedade, num contexto em que o ego dela estava a sair bastante maltratado.
Se repararmos, este caso ilustra de forma exemplar os três perigos que espreitam as mulheres no desempenho do papel de curadoras de maridos e família, como referimos no texto atrás publicado, «Alimentar egos e sarar feridas». Esses perigos são: (1) o desempoderamento epistémico, (2) o desempoderamento ético e (3)a mistificação da real situação da mulher. Vejamos cada um destes aspetos nesta concreta situação.


(1)A senhora em questão viu-se obrigada a perceber a situação de acordo com a perspetiva que o marido forneceu; a isso a obrigava o papel que tinha de desempenhar. Qualquer atitude crítica e de dúvida estava completamente vedada e a sua autonomia intelectual seriamente comprometida.


(2) A mesma senhora tornou-se necessariamente cúmplice dos atos dele pela aprovação tácita que teve de lhes dar.

(3) No fim ainda vai ficar convencida de que cumpriu o seu dever e que prestou um serviço muito meritório ao esposo e à sociedade, não percebendo como está a ser manipulada e encerrada numa autêntica ratoeira.

Claro que se não tivesse procedido da maneira esperada, teria sido alvo de críticas da parte não só da generalidade dos homens como de muitas mulheres, assim evitou o embaraço e tornou-se o exemplo da esposa abnegada; mas ao fim ao cabo ela está a usar a categoria de má fé para não assumir uma posição crítica ou pelo menos para não se remeter ao silêncio e afastamento temporário, e está a cair na inautenticidade.
O problema desta mulher, como de um número incalculável de outras é que, de demissão em demissão, acabou por ver-se confrontada com uma situação limite da qual só conseguiria sair com um ato de extraordinária coragem. Mas desta particular mulher, que conhecia provavelmente melhor do que ninguém a «folha de serviço» do marido, rotulado publicamente pelo eufemismo de mulherengo e referido como consumidor frequente de prostitutas, se calhar era impensável esperar sequer outro comportamento, habituada como estaria a ser uma espécie de prostituta honoris causa.

3 comentários:

  1. Um pouco tangencial mas o que me perturba demais não é o possível (e tudo indica provável)assédio sexual já que até provado culpada toda a pessoa é considerada inocente. O que me incomoda mesmo é que quando a notícia apareceu nos jornais fazia-se uma pequena menção (muito de passagem)que o ex-presidente do FMI estaria alojado numa suite de $3500 por noite. Fico enojado com isto. Primeiro, porque diabo precisa ele de ficar nesse luxo quando um décimo desse valor lhe consegue um quarto muito adequado na mesma cidade. Segundo, com que direito é que o FMI, que apesar de tudo é uma instituição pública que faz uso do nosso (sim, nosso) dinheiro tem a pouca vergonha de o esbanjar assim e depois ter a lata de vir impor medidas da austeridade a Portugal, Grécia etc.
    Convenhamos, é uma caso sério de duplo standard não é?

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  2. Pois, isso são outros quinhentos. Por isso fico possessa quando me vêem falar em portugueses ou gregos calaceiros ... O velho truque para justificar a injustiça do tratamento a que a maioria das pessoas é sujeita e o terrível fosso entre ricos e pobres.

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  3. Talvez vc não tenha atentado que por tras da atitude da senhora Kahn esteja a velha filosofia "chumbo trocado não doi", e se for assim por mim esta apoiadissima.

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