quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Do feminismo socialista ao feminismo radical

“Durante os anos setenta considerei-me uma feminista socialista. Resumindo, pensava que a opressão das mulheres decorria primariamente do interesse das relações sociais capitalistas ou das relações sociais ‘económicas’ mais do que do dos homens. Mas os fins dos anos setenta podem ser vistos como um ‘ponto de crise’ da análise feminista socialista e eu não fui excepção.
Nessa época surgiram novas preocupações feministas, em particular as divisões raciais entre as mulheres e a violência masculina, mas as teorias feministas socialistas e marxistas, baseadas largamente ou principalmente na análise das relações de produção capitalista, mostravam-se incapazes de fornecer as respostas adequadas.
(…) Juntamente com outras feministas vi que estas dificuldades em aplicar a análise feminista socialista e marxista eram também acompanhadas pelo comportamento dos homens da extrema-esquerda que proclamavam ser aliados do Movimento de Libertação das Mulheres. Em resposta às críticas feministas, alguns homens estavam a mudar o seu comportamento, mas o resultado era frequentemente mais um meio ínvio e escondido de assegurarem a continuação do seu controlo e poder em relação a mulheres do que de minar a dominação masculina. Outros eram abertamente hostis ao Movimento de Libertação das Mulheres e viam as preocupações feministas como uma distração da ‘ verdadeira luta’ dos conflitos de classe. (…)
Achei que a análise que toma como ponto de partida a produção económica era inadequada para explicar estas complexas relações de género, Em vez disso, um enquadramento teórico com um conjunto diferente de prioridades, em que a opressão das mulheres é vista primariamente no interesse dos homens e suportada por uma ideologia que considera os homens superiores as mulheres, parecia-me mais apropriada.
Neste enquadramento, as mulheres são oprimidas pelos homens enquanto grupo, mais do que pelo sistema económico ou pela sociedade. Este tipo de perspetiva tem sido, desde os inícios do Movimento de Libertação das Mulheres, o das feministas radicais.”
Marianne Hester, Lewd Women and Wicked Witches.

3 comentários:

  1. Interessante. É a mesma conclusão em que chega Simone de Beauvoir ao fim de uma de suas memórias, Balanço Final.

    Ela diz coisa parecida. Na época em que escreveu O Segundo Sexo, acreditava que o destino da mulher estava ligada ao destino do trabalho. Após vários anos e visitas à países socialistas, ela viu que não: que a luta da mulher é independente da luta de classes. Ela conta que, na URSS, após trabalhar tanto quanto o companheiro nas fábricas, a mulher permanecia sendo a única responsável pelo cuidado com o lar e os filhos, entre outras percepções.

    Penso como Simone e Marianne: a opressão de gênero vai além de razões econômicas e não irão se resolver uma vez abolido o capitalismo. E é preciso trabalhar para a libertação feminina (e tantas outras) em qualquer cenário, em qualquer regime econômico.

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  2. Olá. Li o texto e também simpatizo com as ideias da Simone de Beauvoir e também estou no movimento feminista. Movimento a qual procuro exercer no dia-a-dia mesmo.
    Venho lendo muitas coisas sobre e também participo de comunidades no facebook. Gostaria de abrir uma reflexão aqui e não "verdades concretas".
    Acho evidente que há sim presente uma sociedade ainda patriarcal, uma violência com uma pessoa cujo gênero é feminino.
    Pensando um pouco sobre o texto, acho perigoso apenas retratar o machismo adotado por nossa cultura responsabilizando apenas os homens. O machismo não é exercido exclusivamente pelos homens, muitas mulheres também exercem essa prática. Tenho observado isso com muita frequência, por sinal... Agora, será que ao falarmos, com destaque, ao sexo oposto sobre a opressão ao nosso, não estamos também agindo de forma "pré-concebida"? Como disse o machismo não está impregnado apenas em homens... A luta é pelo direito de exercer a nossa liberdade não apenas de gênero, mas de pessoas livres, independente desse gênero. Até mesmo porque, homens também sofrem com o machismo... Sabemos disso.

    Veja, como supracitado, não estou trazendo "verdades concretas", mas apenas uma reflexão simplória.

    De todo modo, o relato de Marianne é muito rico e importante para compreendermos em nível histórico as restrições de liberdade que nós, mulheres, sofremos.

    Abraços.

    Att,
    Sophia

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  3. O que isso significa?
    Significa que em ultima instância os fenômenos sociais, como a "opressão" masculina, não são produtos das relações econômicas como queria Marx, logo Marx errou, logo a perspectiva materialista-dialética não é o suficiente, ou mesmo ainda, necessária para mudar as estruturas sociais da atualidade,ou, em outras palavras, o socialismo é um erro e o capitalismo é o glorioso meio que possibilitou as mulheres ocuparem os espaços tradicionalmente ocupado pelos homens no ocidente, o papel de produtor.
    Viva o capitaismo!!! hurra! hurra! Pena que se esquecem que as mulheres abandonaram a "opressão" masculina, pela opressão burguesa, e com isso não conseguem perceber que a verdadeira luta de emancipação só pode ocorrer com a luta de classes, isto é, o destino da mulher é o destino de qual classe ocupa.

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