quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

A ditadura da aparência

As palavras de Shulamith Firestone acerca do vestuário e adereços usados pelas jovens mulheres do seu tempo, ressoam hoje aos meus ouvidos plenas de atualidade, quando revejo as imagens femininas que constantemente nos são apresentadas na TV mas também em diferentes lugares públicos, mesmo onde menos esperaríamos encontrá-las, isto é, nos locais de trabalho. Firestone escreveu estas considerações nos finais da década de sessenta nos Estados Unidos, mas é constrangedor perceber como cerca de quatro décadas depois muito pouco, se é que alguma coisa, parece ter mudado.

“As mini saias não são práticas, requerem atenção constante à postura das mulheres, ênfase constante na sua natureza sexual. Saltos altos, cintos de ligas, nylons e todos os outros acessórios da mulher moderna chique podem parecer mais naturais, mas de facto são quase tão desconfortáveis como eram os corpetes e os espartilhos Porque embora as mulheres lutem por uma aparência mais natural, elas ainda lutam. Hoje as jovens estão tão preocupadas com a imagem como sempre estiveram. Continuam a ser objetos sexuais; apenas os estilos mudaram.” (S. Firestone, in The New York Radical Women, 1968)

É frequente vermos mulheres jovens, e mesmo menos jovens, que se apresentam nos lugares públicos com saltos altíssimos que seguramente lhes tolhem os movimentos, além dos danos que provocam à saúde; com roupas demasiado justas, com os mesmo inconvenientes e que passam a imagem de que as mulheres se aceitam como objetos sexuais já que não desdenham, bem pelo contrário, evidenciar as caraterísticas sexuais que são apelativas para os homens.

Será que estas mulheres não percebem que afinal estão a ser muito pouco modernas?
Não percebem que estão a repetir estereótipos antiquíssimos? Que estão a aceitar "alegremente"o estatuto de objetos sexuais?

2 comentários:

  1. Tempos atrás eu vi uma pequena história em quadrinho que trazia uma mulher usando burca e outra usando uma roupa curtíssima. Uma apontava a outra e a fala das duas era a mesma - "Olha só aquela mulher, a pobrezinha é oprimida".
    Fica mesmo difícil de saber quem é mais manipulada afinal - as que se cobrem totalmente ou as que nao cobrem praticamente nada?

    Fran

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  2. Mesmo assim, Fran, as que não se cobrem sempre têm maior "capacidade negocial", se não a aproveitam é outra coisa. Enfim os jogos de poder continuam e, apesar de tudo, não somos nós, mulheres, que temos os trunfos.
    Abraço, Adília

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