A sociedade ateniense do tempo de Platão - que podemos entender como uma espécie de modelo do mundo grego - discriminava profundamente as mulheres: os jovens recebiam educação específica, mas o mesmo não acontecia com as jovens, destinadas exclusivamente ao casamento e à maternidade.
A prática do infanticídio feminino era tolerada e em consequência dessa prática, o número de mulheres era muito inferior ao dos homens. As mulheres casavam muito jovens, por volta dos dezasseis anos, com homens muito mais velhos. e eram como que sequestradas no gineceu, impedidas sequer de socializarem com os maridos na altura das refeições.
O tipo de casamento instituído não pressupunha companheirismo, alias impossível de implementar numa relação profundamente assimétrica de homens adultos cultos e ativos na esfera pública com mulheres jovens, ignorantes e confinadas à monotonia da esfera privada.
Numa cultura em que o casamento não pressupunha companheirismo, a homossexualidade e a prostituição não levantavam qualquer problema, as esposas não esperavam fidelidade dos seus maridos e como não tinham o escape do adultério investiam a sua afetividade nos filhos; os maridos por sua vez, procuravam em outras paragens o que não encontravam em casa.
Neste contexto, não surpreende que muitos homens jovens e adultos se vissem privados de manter relações heterossexuais durante a fase mais activa da sua vida e por isso fica mais compreensível a prática de um modelo de homossexualidade que se tornou caraterístico da época clássica, um modelo que alguns autores referem como homossexualidade oportunística.
Esse modelo, tal como nos é transmitido pelos diálogos platónicos, nomeadamente o Symposium, apresenta aspetos peculiares que precisamos de conhecer; é entre um homem adulto e um adolescente, uma relação assimétrica em termos de idade e obviamente em termos de poder, vista como uma espécie de iniciação do jovem, protegido, instruído e aconselhado pelo homem mais velho. Previsivelmente, esse jovem, uma vez entrado na idade adulta, retomaria a prática em relação aos mais jovens; também previsivelmente casaria e teria descendência.
Este modelo de relação sexual, aparentemente pouco ortodoxo, tinha a vantagem de reforçar a estrutura hierárquica de poder vigente na sociedade; no sexo como na vida pública cidadãos adultos dominavam jovens, mulheres e escravos, que não gozavam de direitos de cidadania, mantendo-se assim a relação de domínio submissão: a sexualidade, quer a heterossexual quer a homossexual, promovia e reforçava a desigualdade social.
Ao mesmo tempo, permitia salvar ”a honra do convento”, no caso da confraria masculina que se sentia justificada para poder execrar qualquer adulto do sexo masculino que prosseguisse uma prática homossexual contrária às normas aceites, desempenhando por exemplo, um papel “passivo” na relação sexual
Posta cruamente a questão, a escassez e o sequestro das mulheres bem como o facto de serem companhias intelectualmente pouco estimulantes “empurrava” os cidadãos gregos para a prática oportunística da homossexualidade, mantendo intacta, pelas caraterísticas que essa prática assumia, a estrutura hierárquica e profundamente desigual da sociedade Todos ficavam contentes, no melhor dos mundos possíveis !!!
A prática do infanticídio feminino era tolerada e em consequência dessa prática, o número de mulheres era muito inferior ao dos homens. As mulheres casavam muito jovens, por volta dos dezasseis anos, com homens muito mais velhos. e eram como que sequestradas no gineceu, impedidas sequer de socializarem com os maridos na altura das refeições.
O tipo de casamento instituído não pressupunha companheirismo, alias impossível de implementar numa relação profundamente assimétrica de homens adultos cultos e ativos na esfera pública com mulheres jovens, ignorantes e confinadas à monotonia da esfera privada.
Numa cultura em que o casamento não pressupunha companheirismo, a homossexualidade e a prostituição não levantavam qualquer problema, as esposas não esperavam fidelidade dos seus maridos e como não tinham o escape do adultério investiam a sua afetividade nos filhos; os maridos por sua vez, procuravam em outras paragens o que não encontravam em casa.
Neste contexto, não surpreende que muitos homens jovens e adultos se vissem privados de manter relações heterossexuais durante a fase mais activa da sua vida e por isso fica mais compreensível a prática de um modelo de homossexualidade que se tornou caraterístico da época clássica, um modelo que alguns autores referem como homossexualidade oportunística.
Esse modelo, tal como nos é transmitido pelos diálogos platónicos, nomeadamente o Symposium, apresenta aspetos peculiares que precisamos de conhecer; é entre um homem adulto e um adolescente, uma relação assimétrica em termos de idade e obviamente em termos de poder, vista como uma espécie de iniciação do jovem, protegido, instruído e aconselhado pelo homem mais velho. Previsivelmente, esse jovem, uma vez entrado na idade adulta, retomaria a prática em relação aos mais jovens; também previsivelmente casaria e teria descendência.
Este modelo de relação sexual, aparentemente pouco ortodoxo, tinha a vantagem de reforçar a estrutura hierárquica de poder vigente na sociedade; no sexo como na vida pública cidadãos adultos dominavam jovens, mulheres e escravos, que não gozavam de direitos de cidadania, mantendo-se assim a relação de domínio submissão: a sexualidade, quer a heterossexual quer a homossexual, promovia e reforçava a desigualdade social.
Ao mesmo tempo, permitia salvar ”a honra do convento”, no caso da confraria masculina que se sentia justificada para poder execrar qualquer adulto do sexo masculino que prosseguisse uma prática homossexual contrária às normas aceites, desempenhando por exemplo, um papel “passivo” na relação sexual
Posta cruamente a questão, a escassez e o sequestro das mulheres bem como o facto de serem companhias intelectualmente pouco estimulantes “empurrava” os cidadãos gregos para a prática oportunística da homossexualidade, mantendo intacta, pelas caraterísticas que essa prática assumia, a estrutura hierárquica e profundamente desigual da sociedade Todos ficavam contentes, no melhor dos mundos possíveis !!!
Gostei deste texto!
ResponderEliminarInformou-me do que não sabia e aclarei algumas duvidas sobre a Grécia Antiga.
Não percebo o que o autor quer dizer com:"eram como que sequestradas no gineceu,"
Gostei de análise, partilhei link de seu artigo na minha páginade Facebook e disse, tb a citei:
ResponderEliminarDo mundo grego herdamos a Racionalidade, por discussão aberta dos mitos, sem fechamento do sentido, excomunhão ou fatwas. Mas nos nossos modos temporais de vida o Absoluto não é alcansável. Julgar que chegamos a ele, cria fechamento de sentido que é o que faz o Religioso.
Gera-se profundas contradições hegelianas, negação, quando se pensa que aquilo que se defende é a Verdade absoluta. Pode haver contudo a popperiana aproximação ao Absoluto, mais próximos da Verdade.
Sim, um ceticismo racional e lógico, nunca a dualidade de critérios bem-pensante de dois pesos e duas medidas, com uma racionalidade para o que convém e outra para o que não convém. A procura de Universalidade nunca pode ser descorada.
«A sociedade ateniense do tempo de Platão - que podemos entender como uma espécie de modelo do mundo grego - discriminava profundamente as mulheres: os jovens recebiam educação específica, mas o mesmo não acontecia com as jovens, destinadas exclusivamente ao casamento e à maternidade.
A prática do infanticídio feminino era tolerada e em consequência dessa prática, o número de mulheres era muito inferior ao dos homens. As mulheres casavam muito jovens, por volta dos dezasseis anos, com homens muito mais velhos. e eram como que sequestradas no gineceu, impedidas sequer de socializarem com os maridos na altura das refeições.
O tipo de casamento instituído não pressupunha companheirismo, alias impossível de implementar numa relação profundamente assimétrica de homens adultos cultos e ativos na esfera pública com mulheres jovens, ignorantes e confinadas à monotonia da esfera privada.»