As categorias de imanência e de transcendência desempenham um papel fundamental na ontologia existencialista e, particularmente em Simone de Beauvoir, explicam o curso de vida diferente de homens e de mulheres.
A transcendência é o processo através do qual um ser humano ultrapassa – transcende - a condição dada à partida e cria a sua própria vida, fazendo escolhas e tomando decisões. Do ponto de vista metafísico, o sujeito orienta-se para o mundo dos possíveis e não se limita a aceitar o mundo dado como um destino a que passivamente se submete.
A transcendência é o processo através do qual um ser humano ultrapassa – transcende - a condição dada à partida e cria a sua própria vida, fazendo escolhas e tomando decisões. Do ponto de vista metafísico, o sujeito orienta-se para o mundo dos possíveis e não se limita a aceitar o mundo dado como um destino a que passivamente se submete.
Como de Beauvoir refere, os meninos são socializados desde a mais tenra infância no sentido de se tornarem independentes dos adultos, de correrem riscos, fazendo-lhes sentir que se é mais exigente para com eles porque de alguma maneira são superiores: um menino não chora, não se queixa dos outros, não é mariquinhas, etc. etc. São encorajados a serem independentes e punidos se desistirem facilmente do empreendimento. É sempre a sua subjetividade que é estimulada, sob a forma de auto assertividade e autonomia.
Em flagrante contraste, o conceito de imanência tem implicações completamente diferentes. Viver na imanência é permitir que os constrangimentos e as contingências limitem a liberdade do indivíduo, que as assume ao invés de as procurar ultrapassar. O confinamento físico da vida das mulheres é o símbolo do seu confinamento psicológico, se o mundo exterior lhes é vedado, ou significativamente limitado, deixa de existir o mundo dos possíveis e apenas lhes resta a 'opção’ de se submeterem ao que se espera delas, ao mundo dado, percebido como uma necessidade e uma inevitabilidade.
Ora, as mulheres, na medida em que vivem num mundo social que as define como o ‘Outro’ e não essencial, que deixa o protagonismo aos homens, esses sim, definidos como essenciais, ficam condenadas à imanência e a sua subjetividade, embora dificilmente eliminável, já que é definidora de qualquer ser humano, independentemente do sexo, fica extremamente frágil e enfraquecida, condenada na melhor das hipóteses a afirmar-se por vias ínvias e por processos manipuladores.