sexta-feira, 20 de julho de 2012

Ser sexy - projeto de vida


No meu último texto, abordei o tema da alienação feminina, considerando que a objetificação sexual era um dos fatores que exprimia e contribuía para essa alienação. Um estudo recente fornece evidência empírica neste mesmo sentido.

Nas nossas sociedades, o que é natural, porque habitual, é que as jovens se percebam a elas mesmas como objetos sexuais. Continuam a ser estimuladas a preocuparem-se excessivamente com a aparência física como se o seu valor residisse precisamente em serem bonitas, atraentes e sobretudo sexy. Os modelos que os media lhes apresentam são sobretudo de cantoras, atrizes e manequins, nada de cientistas, muito menos astronautas ou sequer simples técnicas em qualquer campo profissional. Aparentemente ninguém vê nada de mal nem de mais nisso e, desse modo tão simples, tão natural e “inevitável”, sem qualquer intervenção direta ou proibição, o futuro continua eternamente adiado.

O mais espantoso ainda é observar-se como a idade em que as mulheres são convidadas a objetificarem-se tem recuado espantosamente. Investigações recentes mostram que desde os seis anos a maior parte das meninas tendem a pensar-se a si mesmas como objetos sexuais. Um estudo levado a cabo em Galesburg, no Knox College, revelou que, confrontadas com dois modelos de bonecas, uma, vestida com mini-saia, decote, sapatos altos e outros adereços, era preferida pela larga maioria das inquiridas a outra boneca vestida bem mais simplesmente com jeans e sapatos confortáveis. Na maioria dos casos, as meninas tendiam a identificar-se com a boneca sexy, aquela com a qual gostariam de parecer-se. É de supor que essa identificação era motivada pela crença de que ser sexy as tornaria mais populares, com as vantagens sociais que daí adviriam.

Ser popular é desejo de meninas, mas também de meninos; todavia, enquanto o caminho aberto às meninas para atingir esse objetivo passa por ser sexy, o mesmo não acontece com os meninos, para os quais ser popular é ser bom jogador, atleta, ou brilhante em outra qualquer atividade.

Neste mesmo estudo, composto por três amostras de meninas, duas recrutadas em escolas públicas e outra num estúdio de dança local, verificou-se que, para as meninas deste terceiro subgrupo, a boneca não sexy era a mais frequentemente escolhida; Como hipótese explicativa apontava-se o facto de que o dedicarem-se a uma atividade física, no caso a dança, estimulava uma maior apreciação pelo próprio corpo e uma autoimagem mais positiva, com a perceção de que ser sexy não é a única função do corpo e, porventura, não é a função mais importante.

Muitos fatores parecem explicar a tendência das meninas a valorizarem o corpo enquanto objeto sexual. Para começar os media e os modelos que propõem, mas também o exemplo das próprias mães. Em qualquer dos casos, um contexto extremamente difícil de mudar.

5 comentários:

  1. Buen texto, Adilia.

    Esta entrada me ha recordado a una alumna mía, que me contó que una vez una profesora hizo salir a la pizarra a dos niñas que estaban empatadas en un concurso de matemáticas que hicieron. Como no sabía la profesora a qué niña darle el premio, le pidió a la clase que decidiese cuál era la más guapa, y que a ella le daría el regalo.

    Una forma de hacer que las niñas que se vean a sí mismas como objetos sexuales y de agrado; como simples úteros con piernas, y no como personas.

    Un abrazo.

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  2. De facto, Enrique, faltava falar nas propfessoras como instrumentos ao serviço do statu quo. Uma verdadeira miséria moral.
    abraço, adília

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  3. Eu acho que a grande falha do movimento de mulheres e não atacar as mulheres que colaboram com o sitema,é aceitar como "escolha" a resistência feminina atoda e qualquer investida do movimento feminista,seja qual for esta investida.Se isso nõa for problematizado,nada vai mudar como vc mesma disse....

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  4. Acho engraçado que ao meninos parece que nada de mal é feito... a missândria existe também, e está causando efeitos MUITO maléficos nos garotos, nos EUA o número de garotos que não concluem a escola é cada vez maior.

    Fora essa incongruência de discurso que vocês tem, por um lado acho a sensualização da mulher ruim, por outro defendem a "marcha das vadias", é complicado, não ?

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    1. É por essa e mais outras que muitas mulheres,incluindo eu,não acredita mais no movimento.É muita hipocrisia,contradição.Por um lado reclamam que os homens nos vêem e nos tratam como objetos sexuais,e por outro,fazem marchas como esta,alogiam livros que enaltecem a cultura do estupro,só porque foi escrito por uma mulher,como este tal de 50 tons de cinza.Ficam enaltecendo poliamor,casamento aberto e depois reclamam que os homens não querem nada sério...elas mesmas reforçam o machismo.Mas isso eu vejo mais no Brasil,no exterior a divisão entre feminista hipócrita pro-hedonismo e feministas sérias é bem nítido.

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