Surgido no Império Romano, o cristianismo era inicialmente apenas um entre muitos outros movimentos religiosos em que a época era fértil e não tinha quaisquer ligações com o poder político.
Desde muito cedo, os cristãos, procurando fazer a diferença em relação ao paganismo e ao judaísmo, advogaram uma moralidade sexual austera que acabou por se tornar uma marca identitária do novo credo. Assim, a ética sexual cristã foi-se formando com a nítida pretensão de se demarcar da moral sexual pagã e judaica; apresentou-se como uma moral sexual muito mais exigente e muito menos permissiva que considerava a abstinência sexual uma virtude e via no celibato um estado mais perfeito do que o próprio casamento heterossexual.
Curiosamente era uma moral muito mais igualitária do que a pagã ou judaica pois que, por uma questão de coerência interna, tinha de rejeitar a poligamia e o divórcio (que favoreciam os homens), o adultério, tanto de esposas como de maridos, e a instituição da prostituição (também favorável aos homens). Segundo o ensinamento religioso, Cristo tinha condenado a prostituição mas não culpara as prostitutas
Inicialmente o cristianismo era um movimento milenar que pregava a salvação das almas. Para se prepararem para o juízo final, que não viria longe, muitos abandonavam bens, profissões, não casavam para se juntarem ao movimento, juravam castidade, ou mesmo, quando casados, levavam vidas de abstinência sexual.
Não foi por mero acaso que as hostes cristãs foram engrossadas sobretudo por mulheres e escravos, socialmente marginalizados, eram quem tinha mais a ganhar com este tipo de moralidade sexual. Para mulheres de todas as classes sociais o celibato era quase uma bênção pois representava uma possibilidade de liberdade que, de outro modo, não podiam antever. Se a sexualidade impunha e reforçava a hierarquia social e um estatuto desigual, evitar a sexualidade, negá-la, equivalia em certo sentido a negar essa desigualdade:
” Para escravos e mulheres de todas as classes, no mundo antigo, a escolha do celibato significava uma liberdade que de outra maneira não conseguiriam. Escapar à sexualidade significava libertar-se de um estatuto servil no qual mulheres e escravos viviam para conveniência dos maridos, pais, senhores, e governantes.” (Hard Bargaisn)
Claro que, como a autora de Hard Bargains insiste, o celibato só apresentou esta vantagem para as mulheres porque era defendido num contexto de desvalorização do físico e de enaltecimento do espiritual, se este não tivesse sido o contexto, as mulheres seriam desvalorizadas e ainda ficariam mais a mercê dos homens porque só seriam vistas como necessárias no contexto do casamento heterossexual.
Mas esta moral igualitária veio a ter de fazer concessões à sociedade real, afinal o mundo não acabava, como os milenaristas profetizavam, e os sacríficos perdiam sentido. Assim, quando finalmente o cristianismo se transformou na religião oficial do Imperio Romano do Ocidente, teve de fazer concessões políticas e de se harmonizar com os interesses da sociedade patriarcal, retirando completamente às mulheres alguma autonomia que inicialmente lhes conferira.
Não deixa todavia de ser interessante saber que potencialmente, até em relação às mulheres, o cristianismo se assumiu como uma ideologia progressista, pena é que rapidamente tenha degenerado, colocando-se ao serviço dos senhores de sempre.
Desde muito cedo, os cristãos, procurando fazer a diferença em relação ao paganismo e ao judaísmo, advogaram uma moralidade sexual austera que acabou por se tornar uma marca identitária do novo credo. Assim, a ética sexual cristã foi-se formando com a nítida pretensão de se demarcar da moral sexual pagã e judaica; apresentou-se como uma moral sexual muito mais exigente e muito menos permissiva que considerava a abstinência sexual uma virtude e via no celibato um estado mais perfeito do que o próprio casamento heterossexual.
Curiosamente era uma moral muito mais igualitária do que a pagã ou judaica pois que, por uma questão de coerência interna, tinha de rejeitar a poligamia e o divórcio (que favoreciam os homens), o adultério, tanto de esposas como de maridos, e a instituição da prostituição (também favorável aos homens). Segundo o ensinamento religioso, Cristo tinha condenado a prostituição mas não culpara as prostitutas
Inicialmente o cristianismo era um movimento milenar que pregava a salvação das almas. Para se prepararem para o juízo final, que não viria longe, muitos abandonavam bens, profissões, não casavam para se juntarem ao movimento, juravam castidade, ou mesmo, quando casados, levavam vidas de abstinência sexual.
Não foi por mero acaso que as hostes cristãs foram engrossadas sobretudo por mulheres e escravos, socialmente marginalizados, eram quem tinha mais a ganhar com este tipo de moralidade sexual. Para mulheres de todas as classes sociais o celibato era quase uma bênção pois representava uma possibilidade de liberdade que, de outro modo, não podiam antever. Se a sexualidade impunha e reforçava a hierarquia social e um estatuto desigual, evitar a sexualidade, negá-la, equivalia em certo sentido a negar essa desigualdade:
” Para escravos e mulheres de todas as classes, no mundo antigo, a escolha do celibato significava uma liberdade que de outra maneira não conseguiriam. Escapar à sexualidade significava libertar-se de um estatuto servil no qual mulheres e escravos viviam para conveniência dos maridos, pais, senhores, e governantes.” (Hard Bargaisn)
Claro que, como a autora de Hard Bargains insiste, o celibato só apresentou esta vantagem para as mulheres porque era defendido num contexto de desvalorização do físico e de enaltecimento do espiritual, se este não tivesse sido o contexto, as mulheres seriam desvalorizadas e ainda ficariam mais a mercê dos homens porque só seriam vistas como necessárias no contexto do casamento heterossexual.
Mas esta moral igualitária veio a ter de fazer concessões à sociedade real, afinal o mundo não acabava, como os milenaristas profetizavam, e os sacríficos perdiam sentido. Assim, quando finalmente o cristianismo se transformou na religião oficial do Imperio Romano do Ocidente, teve de fazer concessões políticas e de se harmonizar com os interesses da sociedade patriarcal, retirando completamente às mulheres alguma autonomia que inicialmente lhes conferira.
Não deixa todavia de ser interessante saber que potencialmente, até em relação às mulheres, o cristianismo se assumiu como uma ideologia progressista, pena é que rapidamente tenha degenerado, colocando-se ao serviço dos senhores de sempre.