sábado, 5 de dezembro de 2009

Transformar a linguagem é transformar a realidade


Detectar o sexismo na linguagem é o primeiro passo, o segundo tem de ser o de encontrar os mecanismos que permitam superá –lo. Teresa Meano Suarez, citando o livro Nombra, elaborado pela Comissão Assessora para a Linguagem do Instituto da Mulher (Espanha), apresenta algumas sugestões que nos podem ajudar.

«As possibilidades que (o Nombra) nos coloca são realmente variadas, criativas e diversas. Frente aos difíceis e contínuos (o/a, o (a), o-a) nos oferecem: a utilização de genéricos reais (vítimas, pessoas, vizinhança - e não vizinhos, 'população valenciana' - e não 'valencianos'). Também o recurso aos abstratos (a redação e não os redatores, a legislação e não os legisladores). Mudanças também nas formas pessoais dos verbos ou dos pronomes (no lugar de Na Pré-história os homem viviam... podemos dizer os seres humanos, as pessoas, as mulheres e os homens e também na Pré-história se vivia... ou na Pré-história vivíamos...).

Outras vezes podemos substituir o suposto genérico homem ou homens pelos pronomes nós, nosso, nossa, nosso ou nossos (É bom para o bem-estar do homem... substituído por É bom para o nosso bem-estar...). Outras vezes podemos mudar o verbo da terceira para a segunda pessoa do singular ou para a primeira do plural sem mencionar o sujeito, ou colocar o verbo na terceira pessoa do singular precedida pelo pronome se ('Se recomenda aos usuários que utilizem corretamente o cartão' ... substituído por 'Recomendamos que utilize seu cartão corretamente...' ou 'Se recomenda o uso correto do cartão'). Ou ainda as mudanças do pronome impessoal ('Quando um se levanta' ficaria 'Quando alguém se levanta' ou 'Ao levantarmos' e também mudaríamos 'O que tenha passaporte ou Aqueles que queiram...' por 'Quem tenha passaporte...' ou 'Quem queira...').
Também temos recomendações para corrigir o uso androcêntrico da linguagem e evitar que se nomeiem as mulheres como dependentes, complementos, subalternas ou propriedades dos homens (Os nômades se transportavam com seus utensílios, gado e mulheres, Se organizavam atividades culturais para as esposas dos congressistas. Às mulheres lhes concederam o voto depois da Primeira Guerra Mundial), oferecendo-nos múltiplas e variadas soluções. E assim mais, muito mais.»
http://www.envio.org.ni/articulo/1149

10 comentários:

  1. um feminista no séx XXI5 de dezembro de 2009 às 07:35

    Bravo! Depois de identicar na pornografia a raíz de todo o sexismo (ignorando o carácter polissémico da mesma e esquecendo convenientemente que é precisamente nas sociedades mais livres e abertas onde há maior produção e procura da dita), a Adília lança-se agora sobre a linguagem, a qual é necessário vigiar, punir, alterar... Bravo, Orwell teria gostado, os ayhatolas também.

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  2. Meu caro
    Você tem muitas confusões na sua cabeça e parece perder o foco daquilo que eu digo ou escrevo. De resto, como pode ver, o texto de hoje até nem é meu e o Nombra é uma iniciativa de um país que procura combater o sexismo nas suas diversas versões.
    Quanto à pornografia, claro que nos países que refere ela realmente em princípio não circula e você sabe porquê? porque nesses países a religião sai-se melhor e é tão intolerante que faz o serviço que nos mais avançados, onde perdeu clientes, cabe à pornografia que dá uma ajuda
    muito moderna para manter o status quo. De resto eu já disse e repito se é que não ouviu, que eu não sou contra a pornografia , mas sou contra a pornografia sexista que se calhar é a única que voce conhece e que acha muito bem.
    Já agora se não fosse pedir muito gostava de saber porque é que voce se entende como feminista, ou será que esta agozar com a malta?!

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  3. Só mais um pormenor, agora a propósito da linguagem. Eu sou cidadã de um país que em pleno século XXI me atribui um «Cartão de Cidadão». Faça um exercício de imaginação, se não é pedir muito: como é que você, como cidadão de um país, se sentiria se lhe entregassem, para se identificar,um «cartão de cidadã»? Será que ia achar irrelevante e passava à frente sem qualquer reparo? E este até nem é um dos aspectos mais graves do discurso linguístico, lembre os inúmeros provérbios que menorizam e insultam as mulheres, mas se calhar você acha-lhes graça e reprova a minha falta de «fair play».
    Enfim,maneiras de estar e ver o mundo ...
    Claro que pornografia (sexista) e linguagem sexista são reflexos da sociedade sexista em que vivemos, mas são reflexos que a reforçam e ajudam a consolidar, por isso é que a denúncia é necessária.

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  4. Adília,

    Penso que a linguagem sexista é muito mais evidente quando se verifica a ausência de outros valores... éticos, espirituais.

    Eu toda a vida disse que não sou feminista porque o importante não é separar as águas... a grande resposta está na complementaridade... quando existe tolerância.

    Romei a liberdade de abrir um gadget com o seu blogue no meu
    http://corujaenlaventana.blogspot.com/

    Se não for do seu agrado, eu elimino.

    Um abraço.

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  5. Sabe, sensata coruja, eu coloco muitas reservas à complementaridade que em tese seria ideal, mas que na prática se tem revelado um poderoso instrumento para discriminar e inferiorizar as mulheres. Percebo a sua ideia mas afirm-me como feminista porque entendo que as mulheres continuam a ser injustamente tratadas em muitas situações e em muitas partes do mundo e defendo direitos iguais para mulheres e homens.
    Quanto ao gadget, fiquei encantada com a ideia, obrigada pela iniciativa.
    abraço adília

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  6. Eu é que agradeço, Adília.
    E acho que tem toda a razão ao afirmar que as mulheres continuam a ser injustamente tratadas em muitas situações... ah! que diferença! Imagina o que seria de algumas situações se algumas mulheres que fossem homens?

    Fico consigo. Abraço

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  7. um feminista no séc. XXI7 de dezembro de 2009 às 04:22

    Ok, para que não diga que não me explico, vá lá então à insuspeita wikipedia...

    http://en.wikipedia.org/wiki/Sex-positive_feminism

    Se quiser mais dados deixe recado, caso contrário siga os diversos links da wiki, verá que há mais feminismo para além do seu radicalismo puritano.

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  8. um feminista no séc. XXI7 de dezembro de 2009 às 04:30

    Olhe, e já agora, como é uma notícia do dia, veja bem o que se passa na Dinamarca, provavelmente uma das sociedades mais abertas e tolerarantes do mundo...

    http://www.spiegel.de/international/zeitgeist/0,1518,665182,00.html

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  9. Nem me vou dar ao trabalho de seguir os links dado que você nem sequer se deu ao trabalho de se explicar pelas suas próprias palavras.
    Passe bem.

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  10. Um feminista no séc. XXI7 de dezembro de 2009 às 11:40

    Faz mal Adília, faz mal.

    Como bem sabe, a curiosidade é a chave de todo o conhecimento e a ignorância a de todo o dogma.

    Por isso também, tenho-me dado ao trabalho de a ler e de seguir os seus links, referências, autor@s... O que a assusta tanto nas referências, hiperligações, autor@as que lhe proponho» ao ponto de excluir de imediato qualquer consulta às ditas?

    Não se esqueça nunca das condições sine qua non do conhecimento e do dogma, não se esqueça disso, Adília.

    Cps

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