quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Votemos em mulheres para cargos políticos

Vem este texto a propósito do livro de Anne Kornblut, recentemente publicado, «Notes from the Cracked Ceiling», referido pelo blog guerillawomen, no qual a autora debate as razões que podem explicar por que candidatas femininas fortes, carismáticas e por vezes bem preparadas, perdem no confronto político com candidatos masculinos, nem sempre tão fortes, tão bem preparados ou sequer carismáticos. Ora, dada a distribuição por género da massa eleitoral, seria de esperar que, se as mulheres votassem massivamente nessas candidatas, elas tenderiam a ganhar e não a perder; mas isso não tem acontecido.

Em primeiro lugar, o eleitorado feminino jovem parece mais interessado em agradar aos namorados do que em assumir atitudes de independência ou defender as posições de quem teria qualquer contributo a dar no sentido dos seus interesses. As ideias que essas jovens mulheres têm do feminismo é a que os media passam e elas não procuram ir mais além; ora, como sabemos, os media são dominados por uma elite masculina que não é propriamente adepta fervorosa da causa das mulheres. Acresce ainda que toda a cultura popular continua dominada pelo paradigma sexista: não vemos filmes ou novelas ou seriados em que as heroínas sejam mulheres que tenham furado o bloqueio masculino ou que se tenham distinguido por qualquer intervenção positiva na área da esfera pública; as mulheres continuam a ser apresentadas fundamentalmente nos papéis de mães, esposas ou amantes e, para além disso, não parecem ter nada de especial a dizer às pessoas. Em flagrante contraste, o mito de que os homens é que têm coisas importantes a dizer subsiste e reforça-se pela ausência do papel feminino, de modo que na cultura popular, que modela a mentalidade das jovens, tudo lhes diz que devem ouvir, respeitar e … votar em homens.

Quanto às mulheres menos jovens, é de supor que o fenómeno seja equivalente e não tenha uma explicação muito diversa: seguir a posição política adoptada pelo marido deve ser bem mais fácil do que sustentar uma candidata que ele não veja com especial simpatia. Deste modo, sem grandes convulsões, sem parecer sequer que são afrontadas, nestas conivências e cumplicidades, perdem todas as mulheres, as jovens e as menos jovens, uma oportunidade única de interferirem na vida pública.

Está na hora de começarmos a perceber que assim como foi imprescindível adquirir o direito de voto para se alcançarem conquistas que hoje damos por adquiridas, também é imprescindível a participação activa das mulheres no poder político para mudar a regra do jogo sexista em que ainda vivemos.…

2 comentários:

  1. Acrescente tudo isso ao mito da rivalidade feminina,criado pelos homens desde o início do patriaracado e fomentado pela mídia...

    Até que aqui no Brasil temos mulheres sendo eleitas e em cargos significativos do governo,um número ainda baixo,mas temos.Muitos pensam em votar em mulheres para ver se dá jeito na corrupção alarmante que temos aqui,mas volta e meia pegam uma participando,infelizmente...mas de qualquer forma,o eleitorado brasileiro é aberto para a candidatura de mulheres.

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  2. yumehayashi
    Bem vamos conferir essa abertura quando das proximas eleiçoes presidenciais brasileiras. vamos ver se o pardacento José Serra apesar de tudo não irá levar a melhor sobre a candidata feminina, esperemos que não.

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