Augusto Comte (1798 - 1857), o fundador do Positivismo e da Sociologia, um dos mais prestigiados intelectuais do século XIX, também não mostrou grande apreço pelas mulheres e pela justeza das suas reivindicações, embora tenha sido mais ambivalente e ambíguo em relação ao assunto do que Proudhon, como se pode constatar pelas atitudes variáveis e contraditórias que assumiu ao longo davida.
Comte considerava essenciais as diferenças entre homens e mulheres, mas vacilou entre a valorização dessas diferenças e um outra entendimento que implicava inferiorização. Segundo Mary Pickering, essas mudanças de opinião “reflectem, por um lado, o seu próprio relacionamento com a esposa e outras mulheres … ; por outro, apontam para tensões no culto da domesticidade do século XIX. Tais inconsistências de pensamento, particularmente no que respeita à representação das mulheres, revelam um foco de contestação na cultura em geral.”*
Comte oscilou entre uma atitude de devoção e de enlevo em relação as mulheres, que revelou quando jovem adulto, influenciado por Olympes de Gouges autora da Déclaration des Droits de la Femme (1791) e por Condorcet, o único filósofo que aberta e declaradamente assumiu posição a favor dos direitos da mulher. Nessa época da sua vida, considerou as mulheres vítimas da opressão masculina e do abuso de poder do mais forte, reduzidas, quando pobres, à opção entre vender o próprio corpo ou trabalhar nas profissões mais mal pagas. Chegou mesmo a condenar o Código Napoleónico por legalizar o sistema patriarcal e negar direitos de cidadania às mulheres. Mais tarde, no fim da vida parece ter reassumido esta postura.
Em consonância com as ideias que perfilhava na juventude, casou, contra a vontade dos pais, com uma mulher inteligente e determinada, Caroline Massin, filha ilegítima de dois actores, mas em breve mostrou que na prática não conseguia aceitar as implicações da igualdade, defendidas em teoria, de modo que, para ultrapassar aquilo que hoje designamos de dissonância cognitiva, acabou modificando a teoria.
Numa carta a um amigo, exprime a opinião de que homens de mérito deviam casar com donas de casa, intelectualmente medíocres, mas com um carácter obediente, condições que considera indispensáveis para assegurarem a felicidade no matrimónio; estas advertências parecem revelar que o casamento com Caroline não corria bem e que Comte atribuía tal facto ao carácter forte e determinado da esposa, insubmissa e «controladora».
Comte ainda lamentou e criticou as mulheres independentes que revelavam, em sua opinião, moralidade duvidosa e escassos hábitos domésticos e até mesmo tendências para o ateísmo. Quer dizer o criador do positivismo e defensor da independência de pensamento achava que tais atitudes nas mulheres eram muito inconvenientes e em paralelo promoveu o ideal da mulher como um anjo, submissa, generosa e sempre pronta a sacrificar-se pela família e a suportar o seu «homem», na qual a inteligência e o conhecimento eram qualidades irrelevantes ou até mesmo nocivas.
Paralelamente ao anti-feminismo, Comte reagiu contra o liberalismo na convicção de que esta corrente política implicaria o individualismo e, por uma lógica interna, a própria emancipação das mulheres. Desse modo, enfatizava que a igualdade sexual e o individualismo acabariam por minar a família que considerava ser o fundamento da vida social.
Com estas posições nitidamente conservadoras e apostadas na manutenção do statu quo, Comte foi mais um intelectual de esquerda a defender arranjos sociais que implicavam que a mulher mantivesse o seu ancestral estatuto de apêndice e subsidiária do homem.
*Mary Pickering, Angels and Demons in the Moral Vision of Auguste Comte, in Journal of Women's History. Volume: 8. Issue: 2. 1996, p. 10
Comte considerava essenciais as diferenças entre homens e mulheres, mas vacilou entre a valorização dessas diferenças e um outra entendimento que implicava inferiorização. Segundo Mary Pickering, essas mudanças de opinião “reflectem, por um lado, o seu próprio relacionamento com a esposa e outras mulheres … ; por outro, apontam para tensões no culto da domesticidade do século XIX. Tais inconsistências de pensamento, particularmente no que respeita à representação das mulheres, revelam um foco de contestação na cultura em geral.”*
Comte oscilou entre uma atitude de devoção e de enlevo em relação as mulheres, que revelou quando jovem adulto, influenciado por Olympes de Gouges autora da Déclaration des Droits de la Femme (1791) e por Condorcet, o único filósofo que aberta e declaradamente assumiu posição a favor dos direitos da mulher. Nessa época da sua vida, considerou as mulheres vítimas da opressão masculina e do abuso de poder do mais forte, reduzidas, quando pobres, à opção entre vender o próprio corpo ou trabalhar nas profissões mais mal pagas. Chegou mesmo a condenar o Código Napoleónico por legalizar o sistema patriarcal e negar direitos de cidadania às mulheres. Mais tarde, no fim da vida parece ter reassumido esta postura.
Em consonância com as ideias que perfilhava na juventude, casou, contra a vontade dos pais, com uma mulher inteligente e determinada, Caroline Massin, filha ilegítima de dois actores, mas em breve mostrou que na prática não conseguia aceitar as implicações da igualdade, defendidas em teoria, de modo que, para ultrapassar aquilo que hoje designamos de dissonância cognitiva, acabou modificando a teoria.
Numa carta a um amigo, exprime a opinião de que homens de mérito deviam casar com donas de casa, intelectualmente medíocres, mas com um carácter obediente, condições que considera indispensáveis para assegurarem a felicidade no matrimónio; estas advertências parecem revelar que o casamento com Caroline não corria bem e que Comte atribuía tal facto ao carácter forte e determinado da esposa, insubmissa e «controladora».
Comte ainda lamentou e criticou as mulheres independentes que revelavam, em sua opinião, moralidade duvidosa e escassos hábitos domésticos e até mesmo tendências para o ateísmo. Quer dizer o criador do positivismo e defensor da independência de pensamento achava que tais atitudes nas mulheres eram muito inconvenientes e em paralelo promoveu o ideal da mulher como um anjo, submissa, generosa e sempre pronta a sacrificar-se pela família e a suportar o seu «homem», na qual a inteligência e o conhecimento eram qualidades irrelevantes ou até mesmo nocivas.
Paralelamente ao anti-feminismo, Comte reagiu contra o liberalismo na convicção de que esta corrente política implicaria o individualismo e, por uma lógica interna, a própria emancipação das mulheres. Desse modo, enfatizava que a igualdade sexual e o individualismo acabariam por minar a família que considerava ser o fundamento da vida social.
Com estas posições nitidamente conservadoras e apostadas na manutenção do statu quo, Comte foi mais um intelectual de esquerda a defender arranjos sociais que implicavam que a mulher mantivesse o seu ancestral estatuto de apêndice e subsidiária do homem.
*Mary Pickering, Angels and Demons in the Moral Vision of Auguste Comte, in Journal of Women's History. Volume: 8. Issue: 2. 1996, p. 10
Muito bom!
ResponderEliminarcoloca nosso realismo a prova1