domingo, 3 de outubro de 2010

Proudhon - Intelectuais progressistas e misoginia

“A tradição de todas as gerações mortas sobrecarrega como um pesadelo o cérebro dos vivos” (Karl Marx)

Esta observação de Marx vale para intelectuais politicamente progressistas, mas socialmente conservadores, com horizontes tacanhos no que as mulheres diz respeito e aplica-se como uma luva a homens considerados na época tais como Pierre Joseph Proudhon (1809-1875).
Proudhon, o fundador do anarquismo francês, expôs com minúcia e sem qualquer rebuço ideias profundamente reaccionárias em relação as mulheres, mesmo se levarmos em conta as coordenadas da época.
As mulheres, dizia, eram fisicamente inferiores aos homens e sexualmente passivas. Os seus atributos físicos, ancas largas e seios volumosos, predestinavam-nas para a tarefa da procriação que seria definidora da sua identidade e função social. O cérebro menos volumoso demonstraria inferioridade intelectual; por isso, tudo apontava para a necessidade de protecção e, consequentemente, de obediência ao homem: “ O génio “é virilidade” de espírito acompanhada de poder de abstracção, generalização, criatividade e capacidade de formar conceitos; a criança, o eunuco e a mulher são carentes destes dotes em igual medida.”

Segundo Proudhon, o papel da mulher esgota-se na função reprodutiva, ela é o instrumento de que a natureza se serve para preservar a espécie; socialmente a sua responsabilidade é cuidar da saúde e do bem estar das crianças e essa é a razão de ser da sua existência, o homem tem de se sacrificar para a manter e fá-lo apenas para assegurar essa função que ela deve cumprir.

Para qualquer mulher apenas se apresentam duas opções: ou mãe ou prostituta: “Qualquer mulher que sonha com a emancipação perdeu por esse facto a saúde da sua alma, a lucidez do seu intelecto, a virgindade do seu coração.”
Assim Proudhon reconhece ao marido o direito de matar a esposa em determinadas circunstâncias que podiam incluir adultério, impudência, traição, alcoolismo ou devassidão, gastos perdulários, furto e persistente insubordinação.” Como se vê um leque de tal modo amplo que parece dar carta branca ao marido para dispor a seu bel prazer da vida da esposa.
Àqueles que defendiam os direitos das mulheres, Proudhon chamava “eunucos literários” e dizia que: “as consequências inevitáveis (da emancipação das mulheres) são o amor livre, a condenação do casamento e da feminilidade, inveja e ódio secreto aos homens e, para coroar o sistema, inextinguível lascívia: tal é invariavelmente a filosofia da emancipação da mulher.”

Estas observações foram proferidas por alguém que aprendemos a estimar a partir dos bancos da escola como um benfeitor da humanidade, só se esqueceram de nos dizer que nós, mulheres, não estávamos incluídas nessa humanidade!!

14 comentários:

  1. Infelizmente lemos coisas estúpidas e lamentáveis sobre mulheres e vindas de pessoas que em outros assuntos são considerados gênios...
    Platão, Aristóteles, Freud, Nietzche, e tantos outros...
    Chega a dar desânimo...

    ResponderEliminar
  2. Pois é, esses intelectuais quase sempre agnósticos e/ou ateístas se esquecem de que Paulo (Novo Testamento) disse a mesma coisa, em nome de Deus. - Hoje o famoso escritor americano contemporâneo Philip Roth apareceu numa entrevista e qdo lhe foi perguntado sobre Deus ele disse que o mundo seria infinitamente melhor se ninguém acreditasse em Deus... vai sabê!!!!
    LisbeL

    ResponderEliminar
  3. longe de mim apoiar a ditadura do homem pela mulher e todas as medidas repressivas que o texto diz que o Proudhon apoiava.
    Mas ca entre nós: Ele acertou ou não acertou nas consequencias?
    “as consequências inevitáveis (da emancipação das mulheres) são o amor livre, a condenação do casamento e da feminilidade, inveja e ódio secreto aos homens e, para coroar o sistema, inextinguível lascívia: tal é invariavelmente a filosofia da emancipação da mulher.”
    Eu admito uma serie de irritações da minha parte com o feminismo. E não acho que seria justo que eu fosse chamado machista por não gostar do feminismo.
    Ele é exatamente isso: A igualação da mulher ao homem. Nele o que se quer é transformar os dois generos em um só.
    Ele não só prega a ideia de genero como quer fazer um genero unico para todas as pessoas.
    Alguém poderia debater comigo?
    Não. O homem que ataca a mulher não é mais homem. Não é mais gente. Não tem mais voz. E melhor mesmo é que fosse morto.
    Mas como eu não sou dessa corrente de pensamento, mesmo descrente da possibilidade de resposta, mantenho meu convite.

    ResponderEliminar
  4. Olá anônimo. A emancipação feminina não é a causa do " amor livre, a condenação do casamento e da feminilidade, inveja e ódio secreto aos homens". Historicamente, tais fenômenos manisfestaram-se em sociedades da Antiguidade como Grécia Antiga e Roma Antiga -e as mulheres não eram emancipadas nestas sociedades, muito pelo contrário, pode acreditar!!!!- e foram solapados pelo Cristianismo. É de uma covardia intelectual, ao meu ver, culpar o Feminismo por tais coisas e prova cabal de que, desde Proudhon, nossa sociedade quer culpar o Feminismo pela "lascividade e fim da família". Sua opinião não têm suporte histórico e cultural.

    Saudações a todas e a todos.

    Flávia Ahlmann - Niterói - RJ - Brasil

    ResponderEliminar
  5. Fico feliz com a resposta!
    No entanto eu não acho que é um bom uso da história pegar um fenomeno e buscar os momentos onde ele se manifeste. É uma displicencia com a totalidade das sociedades que produziu tais fenomenos.
    Eu estou falando de uma transformação histórica especifica. A que se deu com a revolução francesa. A passagem da sociedade tradicional para esta aqui.
    Olha aí no seu raciocinio a afirmação do gênero! Vc pega um indiduo do sexo feminino e ignora o contexto em que ele esta inserido! Pra vc é tudo a mesma coisa! É mulher, mulher e apenas mulher, em todos os momentos da historia! É o genero mulher sendo submetido pelo genero homem!
    E esse conhecimento é o bastante para o seu odio.
    Entende o que eu digo?
    O que é o casamento num periodo historico e outro? O que é a familia num periodo historico e outro? Não acho uma boa usar a historia a torto e a direito.
    Para se usar a historica tem que se mostrar o sentido de usa-la.
    Me diga o que pensa do meu comentario?
    Sou covarde? Por pensar algo, raciocinar esse algo e querer discutir esse algo? Não pode? Porque que não pode? Porque sou homem? Ou sera pq o feminismo é uma coisa sagrada e intocavel como a mulher, sera isso?
    E gostaria deixar bem claro que não sou mais avesso ao feminismo que sou ao machismo. O que eu não gosto é todo tipo de discurso da verdade universal e impessoal. Esse discurso que não lida com as coisas do mundo em sua particularidade e resume tudo em gênero, formula os grandes axiomas e submete tudos a sua lei.
    É errado da minha parte pensar assim?

    ResponderEliminar
  6. Caro anónimo
    Está na altura de conhecermos o seu nome, mas adiante…
    O que a Flávia mostrou foi que o seu argumento é falacioso porque parte de um princípio não provado de que um acontecimento conduz necessariamente a outro. Chama-se a esta falácia falácia ad consequentiam ou falácia da bola de neve. Invocar consequências nefastas que podem, ou não, ter decorrido do feminismo, como recurso para o refutar, não é correcto, não é logicamente válido.
    O feminismo é basicamente a afirmação de que as mulheres são pessoas e têm os direitos que as sociedades reconhecem às pessoas, é uma questão de elementar justiça, se você não gosta disto é consigo, não pode é refutá-lo de forma falaciosa.
    Agora quanto a eventuais consequências –:
    Você dá como definido o conceito de amor livre, mas este está longe de ser um conceito pacífico, parece que aquilo em que você está a pensar é em promiscuidade sexual e aí parece-me, corrija-me se eu estiver errada, você aceita-a nos homens, mas acha-a deplorável nas mulheres.
    Quanto à família também se fica com a impressão de que está a pensar na família patriarcal heterossexual, ora como é bom de ver a família está longe de ter desaparecido, a sua estrutura é que se modificou, embora de facto ainda haja nostálgicos do antigamente.
    Quanto à lascívia, o exemplo mais flagrante que me ocorre é o da pornografia machista que mostra as meninas ansiosas e gratas só à simples visão dos atributos do macho, mas francamente esta pornografia foi sempre objecto da crítica das feministas é e mesmo entendida como um recurso sexista para continuar a oprimir as mulheres.
    Além de que você está equivocado quando coloca machismo e feminismo em paralelo, machismo defende a supremacia de um sexo sobre o outro, feminismo defende a igualdade entre os sexos, e não se equivoque novamente, igualdade não é identidade.
    Assim sendo, resta saber com que outros argumentos você pode sustentar o seu ataque ao feminismo. Fica a bola do seu lado.
    Saudações feministas, Adília

    ResponderEliminar
  7. Ola adilia, eu ainda vou responder a sua mensagem. Eu já comecei a escrevê-la só que faltou inspiração e tempo para chegar até o final.
    Se vc me der o seu email eu te aviso quando postar minha resposta aqui nesse site
    PS: Não disse o meu nome pq eu não entendo o proposito disso. Para mim em uma discussão o importante mesmo são apenas os argumentos e eu abro mão de toda cortesia e simpatia não por mal, mas em nome disto.

    ResponderEliminar
  8. Não sei onde vc conseguiu o texto sobre proudhon, dentro de um contexto capitalista, fica muito fácil combater um autor maldito por seu posicionamento contra a propriedade privada.

    De qualquer forma, fica difícil analisar um indivíduo sem contextualizar o seu momento histórico.
    Ninguem nasce sabendo, certamente esse Proudhon, não é o mesmo que se recusou a assinar a nova Constituição apos a Revolução Francesa, ou daquele que proclamou a célebre fraze, "a propriedade é um roubo".

    E se for, tanto faz, pois posso não concordar sobre o seu posicionamento sobre as mulheres, mas entender que em termos de revolução e sociologia, contribuiu muito para a criação da Associação Internacional dos Trabalhadores, que veio a expadir as conquistas sociais e os direitos dos trabalhadores no mundo inteiro.

    Por outro lado, por mais genial que vc foi ao citar uma frase de Marx, para ilustrar o seu texto, esqueceu de dizer que este levou sua filha ao suicídio por seu relacionamento sexual, fora do casamento, com o Paul Lafargue.

    No hoje pelo hoje, Marx também não era limpo.

    ResponderEliminar
  9. A posição de Proudhon em relação às mulheres é sobejamente conhecida e caracterizada mesmo por não ser nada ambígua nem deixar margem para duvidas.
    De resto vou dar-lhe um mote para reflexão: ser politicamente de esquerda é uma coisa, ser socialmente de esquerda é outra e nem sempre as duas coincidem na memsma pessoa, é a tal história do santo de pau oco ou do génio com pés de barro, assim vai a natureza humana.

    ResponderEliminar
  10. Fico muito triste, em confirmar que homens tão sábios como Proudhon, que eu tanto admirava foram tão limitados.

    Fiquei sem chão.[:(]

    ResponderEliminar
  11. Marx não era muito diferente: a mulher dele servia como dona de casa aos amigos em conversas intermináveis na sala sobre política, passava fome com os filhos e aguentou chifre debaixo do próprio teto, ninho de amor. Até hoje mulher é desprezada por homens ditos sábios, o que prova sermos todos ignorantes.

    ResponderEliminar
  12. Proudhon falava muita merda quando o assunto beirava a moral, etica e socialogia... Porem suas criticas ao capitalismo e o comunismo deu ignição na vertente que mais lutou pelas pelo feminismo anarco-individulismo. Vale lembrar que proudhon, ao contrario do marx e seu amigo caca ouro, de origem humilde, e era levada com facilidade por ondas moralistas sem fundamento. Algumas frases do majestoso Proudhon são até engraçada.

    ResponderEliminar
  13. Oi, Adília, tudo bem? será que vc pode me dizer em que obra do Proudhon eu posso encontrar essas declarações misóginas? Tô fazendo um trabalho de literatura em que quero abordar a questão feminina. No texto que eu vou analisar, o autor cita Proudhon. Desde já, agraciada!

    ResponderEliminar