Nos países do Ocidente, a opressão das mulheres não reveste uma forma imediatamente económica ou política e por isso, não sendo facilmente reconhecida, a tendência é negar a sua existência. Mas não há apenas opressão económica ou política, também existe opressão psicológica e é essa que precisamos de compreender, se queremos perceber como é que as mulheres continuam a ser oprimidas.
A opressão psicológica é obtida através da diminuição da auto-estima das mulheres; quando isso acontece elas vão interiorizar sentimentos de inferioridade e naturalmente, vão ter de si mesmas a percepção de que, de alguma maneira, são inferiores. Quando alguém se considera inferior, não lhe passa pela cabeça revoltar-se e, desse modo, aceita todos as limitações e constrangimentos que lhe quiserem impor; a partir daí, esse estatuto encontra-se justificado e legitimado, deixando de ser necessário recorrer a violência física para o garantir.
Um dos meios mais seguros para conseguir que uma pessoa ou um grupo tenham um auto-conceito diminuído consiste tão simplesmente em retirar-lhe poder para controlar a sua própria vida e aqui temos de convir que tudo tem sido e continua a ser feito para que as mulheres tenham escasso poder sobre as suas vidas. Não é por acaso ou por um súbito amor pela vida embrionária que se procura limitar o mais possível o acesso das mulheres ao recurso ao aborto e em muitos casos à contracepção. Uma vez garantido que a mulher continuará a ser joguete de uma fatalidade biológica, o resto decorrera naturalmente. Mas para tornar mais palatável esta situação de falta de poder e consequentemente de opressão, é muito conveniente criar ou alimentar mitos culturais que neste caso vão mais uma vez apelar para a sacralidade da vida humana - do feto, pelos vistos não da mulher - e para a sacralidade da maternidade. Reduzir a mulher à função materna e obrigá-la a exercer essa função a qualquer custo é uma outra forma de a transformar em objecto sexual; é uma forma de a inferiorizar pois se percebe bem que qualquer objecto por mais precioso que seja é inferior a qualquer sujeito por menos elevado que seja. É ainda reduzi-la a um estereótipo e penalizar qualquer outra que não se queira encaixar nesse estereótipo. Ora, quando se definem as pessoas por estereótipos, a tendência é desrespeitar os seus interesses se estes não coincidem com aquilo que delas se espera. Além disso quando uma pessoa é definida por um estereótipo, ela tende a ver-se como o estereótipo - que é partilhado por uma comunidade - a vê: se toda a gente a vê dessa maneira, quem é ela para afirmar que é diferente? Nesse contexto, pode ser difícil ou mesmo impossível realizar escolhas autênticas e por isso o estereótipo representa uma ameaça à capacidade de autodeterminação de quem é visado por ele, neste caso, das mulheres.
Por outro lado, a cultura dominante continua a ser sexista e isso significa opressão para as mulheres que estão condenadas a ver-se através dessa grelha cultural e a assimilar valores que funcionam no sentido da sua opressão, veiculados através de filmes, livros, seriados televisivos, publicidade, moda, etc. etc., para não falar já do pano de fundo constituído pela religião a que em desespero se acolhem e pela linguagem que têm de usar para se exprimirem e para se entenderem a si mesmas.
O mais grave ainda é que as mulheres, diferentemente de outros grupos que historicamente têm sido oprimidos - lembremos negros e judeus - não podem recorrer a uma cultura alternativa porque, divididas por laços familiares entre os diversos extractos sociais, nunca tiveram qualquer hipótese de a construir e por isso falta-lhes identidade cultural, cimento indispensável para criar coesão num grupo. Socializadas dentro da cultura patriarcal, ela própria estratificada, as mulheres identificam-se mais facilmente com os homens dos mesmos extractos do que com mulheres de outros extractos culturais.
A opressão psicológica é obtida através da diminuição da auto-estima das mulheres; quando isso acontece elas vão interiorizar sentimentos de inferioridade e naturalmente, vão ter de si mesmas a percepção de que, de alguma maneira, são inferiores. Quando alguém se considera inferior, não lhe passa pela cabeça revoltar-se e, desse modo, aceita todos as limitações e constrangimentos que lhe quiserem impor; a partir daí, esse estatuto encontra-se justificado e legitimado, deixando de ser necessário recorrer a violência física para o garantir.
Um dos meios mais seguros para conseguir que uma pessoa ou um grupo tenham um auto-conceito diminuído consiste tão simplesmente em retirar-lhe poder para controlar a sua própria vida e aqui temos de convir que tudo tem sido e continua a ser feito para que as mulheres tenham escasso poder sobre as suas vidas. Não é por acaso ou por um súbito amor pela vida embrionária que se procura limitar o mais possível o acesso das mulheres ao recurso ao aborto e em muitos casos à contracepção. Uma vez garantido que a mulher continuará a ser joguete de uma fatalidade biológica, o resto decorrera naturalmente. Mas para tornar mais palatável esta situação de falta de poder e consequentemente de opressão, é muito conveniente criar ou alimentar mitos culturais que neste caso vão mais uma vez apelar para a sacralidade da vida humana - do feto, pelos vistos não da mulher - e para a sacralidade da maternidade. Reduzir a mulher à função materna e obrigá-la a exercer essa função a qualquer custo é uma outra forma de a transformar em objecto sexual; é uma forma de a inferiorizar pois se percebe bem que qualquer objecto por mais precioso que seja é inferior a qualquer sujeito por menos elevado que seja. É ainda reduzi-la a um estereótipo e penalizar qualquer outra que não se queira encaixar nesse estereótipo. Ora, quando se definem as pessoas por estereótipos, a tendência é desrespeitar os seus interesses se estes não coincidem com aquilo que delas se espera. Além disso quando uma pessoa é definida por um estereótipo, ela tende a ver-se como o estereótipo - que é partilhado por uma comunidade - a vê: se toda a gente a vê dessa maneira, quem é ela para afirmar que é diferente? Nesse contexto, pode ser difícil ou mesmo impossível realizar escolhas autênticas e por isso o estereótipo representa uma ameaça à capacidade de autodeterminação de quem é visado por ele, neste caso, das mulheres.
Por outro lado, a cultura dominante continua a ser sexista e isso significa opressão para as mulheres que estão condenadas a ver-se através dessa grelha cultural e a assimilar valores que funcionam no sentido da sua opressão, veiculados através de filmes, livros, seriados televisivos, publicidade, moda, etc. etc., para não falar já do pano de fundo constituído pela religião a que em desespero se acolhem e pela linguagem que têm de usar para se exprimirem e para se entenderem a si mesmas.
O mais grave ainda é que as mulheres, diferentemente de outros grupos que historicamente têm sido oprimidos - lembremos negros e judeus - não podem recorrer a uma cultura alternativa porque, divididas por laços familiares entre os diversos extractos sociais, nunca tiveram qualquer hipótese de a construir e por isso falta-lhes identidade cultural, cimento indispensável para criar coesão num grupo. Socializadas dentro da cultura patriarcal, ela própria estratificada, as mulheres identificam-se mais facilmente com os homens dos mesmos extractos do que com mulheres de outros extractos culturais.