O sentimentalismo romântico - que goza de acolhimento extremamente favorável nos Media - é um poderoso instrumento de socialização das mulheres que se torna tanto mais importante quanto mais se caminha para a sua emancipação previsível.
Com o sentimentalismo romântico pretende-se reduzir o horizonte das mulheres ao amor, levando-as a abdicarem voluntariamente de qualquer outro tipo de realização, ou, pelo menos, a secundarizarem-no.
O sentimentalismo romântico apresenta três componentes que se interligam e reforçam mutuamente: o erotismo; a privatização sexual e o ideal de beleza; os três, atuando subrepticiamente, visam a que as mulheres não ponham em causa o lugar que desde sempre ocuparam na sociedade.
Do erotismo, o homem é o beneficiário e a mulher o objeto de culto; o erotismo funciona no sentido de despertar o desejo sexual do homem pela mulher, mas apenas se espera que ela sinta prazer em ser desejada. É um erotismo de um só sentido e confirma a mulher como objeto sexual que se sente encantada por o ser e que não aspira a firmar-se como sujeito.
A privatização sexual das mulheres tem como objetivo o estabelecimento de identidade entre individualidade e sexualidade; com ele pretende-se que as mulheres não sejam capazes de distinguir a sua própria personalidade individual do seu sexo, são reduzidas ao sexo e assim ignoram os seus interesses comuns enquanto pessoas.
O ideal de beleza imposto conduz a que todas as mulheres pareçam iguais, se despersonalizem, sujeitando-se à tirania da moda.
Com tudo isto, como diz Shulamith Firestone, na sua linguagem corrosiva, as mulheres “parecem iguais; pensam igual e, pior que tudo, são tão estúpidas que acreditam que não são iguais”.