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domingo, 12 de fevereiro de 2012

Sequestrar as mulheres para que os homens não pequem?!

O Rabi Dov Linzer, em artigo publicado recentemente no New York Times, reflete sobre o caso de um menina de 8 anos que foi cuspida e chamada de puta por um grupo de homens adultos – judeus ortodoxos, escandalizados com a “impropriedade” do seu vestuário, não compatível, em sua opinião, com as exigências de discrição e modéstia que o sexo feminino deve observar. Vale a pena ler as palavras sábias que este corajoso rabi escreveu:

”O que se encontra por detrás de acontecimentos tão perturbantes? Dizem-nos que resultam de uma preocupação religiosa com a modéstia; que as mulheres devem ser cobertas e sequestradas de modo a que os homens não tenham pensamentos sexuais impróprios. Parece pois que uma doutrina religiosa que começa com os pensamentos sexuais dos homens acaba com os homens a controlarem os corpos das mulheres. …

Os homens ultra ortodoxos de Israel que estão a exercer controlo sobre as mulheres afirmam que estão a honrar as mulheres. De facto dizem: Nós não tratamos as mulheres como objetos sexuais, como acontece no Ocidente; as nossas mulheres são mais do que corpos e é por isso que os seus corpos devem ser cobertos.”

Todavia as suas acções objetificam e hiper-sexualizam as mulheres. Pensem nisto. Ao dizerem que as mulheres devem esconder os seus corpos, estão a dizer que a mulher é um objeto que pode perturbar os pensamentos sexuais dos homens. Assim qualquer mulher que passe ao alcance do seu campo de visão é percebida na base do quanto do seu corpo está coberto. Não é percebida como uma pessoa completa, apenas como uma possível indutora ao pecado.

No fundo estamos a falar da mentalidade de censurar a vítima. Transfere-se a responsabilidade de controlar os impulsos sexuais do homem para a mulher que ele pode ou não encontrar. Esta é afim da mentalidade pressuposta na afirmação: ela estava a pedi-las … Por isso a responsabilidade é da mulher; para proteger os homens dos seus pensamentos sexuais as mulheres devem remover a sua feminilidade da presença pública, libertando-se da mais pequena evidência da sua própria sexualidade.”

quarta-feira, 23 de março de 2011

A persistência da cultura patriarcal

Publicado aqui vale a pena dar atenção a este texto de Boaventura Sousa Santos: “Celebrou-se esta semana o Dia Internacional da Mulher. Os dias ou anos internacionais não são, em geral, celebrações. São modos de assinalar que há pouco para celebrar e muito para denunciar e transformar. Não há natureza humana assexuada; há homens e mulheres. Falar de natureza humana sem falar na diferença sexual é ocultar que a "metade" das mulheres vale menos do que a dos homens. Sob formas que variam consoante o tempo e o lugar, as mulheres têm sido consideradas como seres cuja humanidade é problemática quando comparada com a dos homens. À dominação sexual que este preconceito gera chamamos patriarcado e ao senso comum que o alimenta e reproduz, cultura patriarcal.
A persistência histórica desta cultura é tão forte que mesmo nas regiões do mundo em que ela foi oficialmente superada pela consagração constitucional da igualdade sexual, as práticas quotidianas continuam a reproduzir o preconceito e a desigualdade. Ser feminista significa reconhecer que tal discriminação existe e é injusta e desejar ativamente que ela seja eliminada.
A cultura patriarcal vem de longe e atravessa tanto a cultura ocidental como as culturas africanas, indígenas e islâmicas. Para Aristóteles, a mulher é um homem mutilado e para São Tomás de Aquino, sendo o homem o elemento ativo da procriação, o nascimento de uma mulher é sinal da debilidade do procriador.
Esta cultura, ancorada por vezes em textos sagrados (Bíblia e Corão), tem estado sempre ao serviço da economia política dominante que, nos tempos modernos, tem sido o capitalismo e o colonialismo. As Novas Cartas Portuguesas, publicadas em 1972 por Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, denunciavam o patriarcado como parte da estrutura fascista que sustentava a guerra colonial. "Angola é nossa" era o correlato de "as mulheres são nossas (de nós, homens)" e no sexo delas se defendia a honra deles. O livro foi imediatamente apreendido porque justamente percebido como um libelo contra a guerra colonial e as autoras só não foram julgadas porque entretanto ocorreu o 25 de Abril, a revolução que tantos hoje desejam nunca tivesse acontecido.

A violência que a opressão sexual implica ocorre sob duas formas, hardcore e softcore. A versão hardcore é o catálogo da vergonha e do horror do mundo. Em Portugal, morreram 43 mulheres em 2010, vítimas de violência doméstica. Na Cidade Juarez (México) foram assassinadas nos últimos anos 427 mulheres, todas jovens e pobres, trabalhadoras nas fábricas do capitalismo selvagem, as maquiladoras, um crime organizado hoje conhecido por femicídio. Em vários países de África continua a praticar-se a mutilação genital. Na Arábia Saudita, até há pouco, as mulheres nem sequer tinham certificado de nascimento. No Irão, a vida de uma mulher vale metade da do homem num acidente de viação; em tribunal, o testemunho de um homem vale tanto quanto o de duas mulheres; a mulher pode ser apedrejada até à morte em caso de adultério, prática, aliás, proibida na maioria dos países de cultura islâmica.
A versão softcore é insidiosa e silenciosa e ocorre no seio das famílias, instituições e comunidades, não porque as mulheres sejam inferiores mas, pelo contrário, porque são consideradas superiores no seu espírito de abnegação e na sua disponibilidade para ajudar em tempos difíceis. Porque é uma disposição natural não há sequer que lhes perguntar se aceitam os encargos ou sob que condições. Os cortes nas despesas sociais do Estado atualmente em curso vitimizam em particular as mulheres. As mulheres são as principais provedoras do cuidado a dependentes (crianças, velhos, doentes, pessoas com deficiência). Se os doentes mentais são devolvidos às famílias, o cuidado fica a cargo das mulheres. A impossibilidade de conciliar o trabalho remunerado com o trabalho doméstico faz com que Portugal tenha um dos valores mais baixos de fecundidade do mundo. Cuidar dos vivos torna-se incompatível com desejar mais vivos.”


Boaventura Sousa Santos é sociólogo e professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (Portugal).

domingo, 2 de janeiro de 2011

Um feminismo para o século XXI - homens embaixadores da igualdade de género


Se nos anos setenta do século XX as mulheres tiveram de cerrar fileiras para entrar no mundo dos homens - aceder à educação e ao mercado de trabalho -, hoje, em pleno século XXI, como escreve Katrin Bennhold, é importante que os homens entrem no universo feminino, «enquanto pais presentes, iguais colaboradores nas ocupações domésticas e embaixadores da igualdade de género».
Numa época em que os rapazes parecem ter pior desempenho escolar e em que os homens perdem postos de trabalho com a crise, mantém-se as assimetrias entre homens e mulheres pois, embora haja mais mulheres com habilitações académicas, os lugares de chefia e o poder económico ainda se encontram nas mãos dos homens. É que, embora em teoria haja direitos iguais, na prática a maternidade e a família continuam a sobrecarregar as mulheres. Uma vez casadas e com filhos pequenos, tendem a desistir da carreira, a trabalhar a tempo parcial, ou a tentar compatibilizar carreira e vida familiar, uma existência stressante que não facilita promoções a nível profissional.
Em alguns países do Ocidente, particularmente nos países nórdicos, começa a perceber-se que é preciso fazer qualquer coisa para contrariar esta real desvantagem que as mulheres sofrem pelo facto de serem mulheres; começa a perceber-se que é preciso concentrar-se nos homens e criar condições para que eles entrem no universo feminino. É esse o sentido das férias obrigatórias por paternidade, intransferíveis para a mãe, que em alguns países já são de três meses. E foram ministros homens que tomaram esta medida e foi também um primeiro-ministro homem que num país meridional, Espanha, tomou a decisão de converter a paridade formal em paridade real, constituindo um governo com um número de mulheres equivalente ao dos homens. Isto significa que os homens são sensíveis ao problema e que se encontram em boa situação para o resolverem porque como diz Celia de Anca, da Escola de Negócios de Madrid, «Quando se quer mudar a cultura é mais fácil para um representante dessa cultura vender a mudança.» Assim, os homens são feministas mais efectivos porque a sua voz é ouvida pelos outros.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Casamento, família patriarcal e prostituição

Friedrich Engels (1820-1895) em A Família, a Propriedade Privada e o Estado defende a ideia, verdadeiramente revolucionária para a época, de que o Casamento e a Família Patriarcal, embora tenham um passado antiquíssimo, têm também uma história – uma origem no tempo, e, portanto, não são realidades eternas e imutáveis que seria preciso aceitar sem discussão; retira-lhes, desse modo, o carácter sagrado e intocável, abre o domínio à crítica e levanta a hipótese de ele poder ser reorganizado.

Na génese do casamento e da família patriarcal Engels encontra a dominação e a apropriação das mulheres pelos homens e a constituição da propriedade privada, inicialmente do gado e das mulheres, incluindo em seguida as terras e, posteriormente, o capital.
Engels apoia a ideia, que tinha sido já defendida por Stuart Mill, do casamento como escravatura doméstica, que Mill supunha decorrente da brutalidade original dos homens e que Engels entende como uma inovação opressiva que se iria transformar no modelo de outras formas de opressão, estando assim na base de todas as desigualdades e injustiças posteriores.
Na organização da família patriarcal, a propriedade privada e o sistema de heranças com o favorecimento da primogenitura teriam sido os elementos determinantes: a fim de garantir que os seus bens vão ser herdados pelos seus legítimos filhos, o pai de família tem também de garantir a sua dominação sobre a mulher, controlando a sua sexualidade, exigindo-lhe recato absoluto e punindo brutalmente qualquer eventual transgressão à regra; todavia, irá reservar para si um outro padrão de conduta mais consentâneo com as urgências da «natureza». É neste contexto que surge o casamento monogâmico que afinal não é tão virtuoso como os seus partidários defendem porque, na prática, à conta do duplo padrão de conduta, a monogamia só funciona para as mulheres.

Ainda segundo Engels, é na instituição do casamento monogâmico que é preciso procurar as raízes da prostituição. Se as mulheres – esposas - têm de ser castas, se o adultério feminino é severamente punido e, portanto desencorajado, os homens só poderão ter outras relações sexuais fora do casamento com um tipo de mulheres que não estejam sujeitas a esses constrangimentos. Serão as mais fracas, as mais pobres e as menos educadas que irão constituir a reserva para a exploração sexual masculina.
Numa cultura em que a dominação masculina é elemento essencial, a prostituição transforma-se numa necessidade que decorre naturalmente dessa supremacia; mas, dado o contexto em que surge, com a proclamação oficial dos valores femininos da castidade, da fidelidade e do recato, ela tem de ser moralmente condenada pela moral hipócrita daqueles que, servindo-se das prostitutas, não têm qualquer pejo em marginalizá-las e em desprezá-las.
Foi assim que Tomás de Aquino, o grande e inefável Doutor da Igreja pode escrever com toda a tranquilidade do mundo:

«O que é que pode ser mais sórdido, mais desprovido de modéstia, mais vergonhoso do que prostitutas, bordeis e todos os outros males deste tipo?! Todavia, remove a prostituição dos assuntos humanos e poluirás todas as coisas com luxúria; estabelece-a entre as matronas honestas e desonrarás todas as coisas com desgraça e torpeza.»

quinta-feira, 19 de março de 2009

Obama e as mulheres


Em 11 de Março, o Presidente Obama criou o «White House Council on Women and Girls» cujo objectivo declarado é o de fornecer uma resposta federal coordenada aos desafios enfrentados pelas mulheres e pelas jovens e de levar em conta o impacto que políticas e programas propostos pelos diferentes gabinetes têm na vida das mulheres e famílias.


O objectivo desta nova instituição, diz Obama, é «garantir que as mulheres e as jovens americanas sejam tratadas de modo justo em todas as questões que dizem respeito às políticas públicas (…). Questões como salário igual para trabalho igual, licença de família, cuidados das crianças, e outros, não são apenas assuntos que dizem respeito às mulheres, mas são assuntos da família e assuntos económicos. O nosso progresso nestas áreas é um índice importante para saber se estamos verdadeiramente a realizar a promessa da nossa democracia para todo o nosso povo.»


Os objectivos específicos que este novo instituto deve perseguir são : Melhorar o estatuto económico das mulheres; estabelecer equilíbrio entre o trabalho e a vida familiar; encontrar caminhos para prevenir a violência contra as mulheres; ajudar a construir famílias mais saudáveis e melhorar os cuidados de saúde das mulheres.


A assinatura deste decreto foi acompanhada de um magnífico discurso do Presidente, cujo impacto se perde um pouco com a minha tradução, mas de que, de qualquer maneira, vou apresentar um breve excerto:


«Assino este decreto não apenas como um presidente, mas como um filho, um neto, um marido e um pai, porque, ao crescer, vi a minha mãe ir ela própria para a escola e segui a sua paixão em ajudar os outros. Mas também vi como lutou por me educar a mim e à minha irmã, preocupando-se em como iria pagar as contas, em educar-se a ela própria e em prover para nós.
Vi a minha avó lutar para se tornar a primeira mulher vice-presidente de um banco no Hawai, mas também vi como ela embateu num tecto de vidro – como homens não mais qualificados do que ela continuaram a subir a escada corporativa à sua frente.
Tenho visto Michelle, o rochedo da família Obama – fazendo malabarismo entre o trabalho e os cuidados com a família com mais habilidade e graça do que qualquer outra pessoa que conheça. Mas também vi como por vezes isso a dividiu. Como, por vezes, quando estava com as miúdas se preocupava com o trabalha, e quando estava no trabalho se preocupava com elas. É um sentimento que eu partilho todos os dias….»


Até que enfim: um presidente de um país como os Estados Unidos honestamente preocupado com os problemas que afectam as mulheres, entendendo que estes são problemas que a todos dizem respeito e que todos devem ajudar a resolver. Um exemplo que outros deviam seguir!