Erotismo, erótico e erotizar são
termos que tem um origem etimológica comum e essa origem radica em “eros”,
termo que designa o deus grego do amor e do prazer sexual.
Podemos dizer que o erotismo é a
exploração, normalmente através da imagem e da palavra, de sentimentos e
desejos despertados pelo sexo, e funciona como reforço desses sentimentos e
desejos. Assim, por exemplo, um objeto ou uma situação revestem-se de erotismo
- assumem uma dimensão erótica – se estimularem o desejo sexual.
Um pouco de atenção aos vários
exemplos de expressão de erotismo divulgados e apresentados na literatura, cinema, publicidade,
pornografia e muitas outras formas difusas de transmitir e comunicar mensagens,
revela que o alvo privilegiado dessas expressões eróticas é o homem, não a
mulher. E digo isto porque nessas expressões o objeto erótico visa a atenção
dos homens aos quais é oferecido um estereótipo: o da mulher normalmente jovem
e bela, mas também lânguida, passiva e expectante, cuja postura revela sex appeal - que suscita o desejo do
homem.
Logo aqui se define e constrói a
sexualidade masculina e a sexualidade feminina, o homem sujeito sexual, a
mulher objeto sexual; o homem ativo, a mulher passiva, ou seja define-se e constrói-se
modelos de comportamento masculino e de comportamento feminino.
Não há um erotismo dirigido diretamente
para a mulher, provavelmente porque os criadores de literatura, cinematografia,
publicidade, pornografia ainda são, em números avassaladores, homens;
provavelmente porque o mundo ainda é o lugar dos homens e são eles que definem
a “porção” que as mulheres podem ocupar.
Não tendo acesso a um erotismo que
se lhes dirija que podem fazer as mulheres? Nelas, como nos homens, o desejo sexual
é forte e, por isso, é apenas natural que sintam prazer não em desejar os
homens – não é esse o modelo que lhes fornecem – mas em serem desejadas pelos
homens. A partir daí, também naturalmente vão investir na sua aparência física,
vão exacerbar se possível aquelas caraterísticas que sentem que os homens
valorizam, vão colaborar na sua própria objetificação, sem perceberem bem o que
lhes está a acontecer e, sobretudo, sem perceberem que estão a “apostar no
cavalo errado”.
(para continuar)