A sexualidade é um tema que precisa
de ser debatido num enquadramento feminista. Dado que raramente o é, acontece que
ninguém percebe como é que ela tem funcionado, enquanto instrumento que paralisa
as mulheres nas suas justas reivindicações e as mantém no lugar que o statu quo lhes reserva.
É certo que violência doméstica, violência
sexual, prostituição, pornografia e até práticas sadomasoquistas têm merecido
alguma atenção, mas esquece-se ou não se percebe que afinal estas situações são
simplesmente casos extremos que decorrem da própria estrutura da sexualidade, isto
é, do modo como homens e mulheres vivem o sexo, ou melhor, aprendem e são
condicionados/as a viver o sexo.
Há um número incalculável de
mulheres que julgam que serem liberadas é concordarem e aceitarem alegremente
práticas sexuais que não lhes dão qualquer tipo de prazer ou que lhes dão
prazer à maneira pavloviana (toda a gente, presumo, conhece a história do cão
que saliva ao som da campainha sem precisar do cheiro da comida e toda a gente percebe
que se pode passar algo equivalente com certas práticas sexuais). Ora a
liberdade, sexual ou outra, passa sempre pela capacidade de autodeterminação e
ninguém desenvolve essa capacidade quando alinha só para não ser mal vista, para
não desagradar a um parceiro, para não parecer puritana etc. etc. As mulheres
têm de aprender a dizer não quando não querem, aprender a gostar de si mesmas e
a deixar de se preocuparem com os melindres dos outros.
Mas o que é então a liberdade sexual?
Que condições têm as mulheres para gozarem dela?
É muito difícil responder a estas
questões, todavia, começo por chamar a atenção para um facto: para uma mulher ser sexualmente
livre, nem mesmo basta fazer - na melhor das hipóteses - o que lhe apetece, porque os próprios desejos sexuais são socialmente construídos através de estímulos
de vária ordem nos quais os filmes, a publicidade, os romances, as revistas
chamadas cor-de-rosa etc. têm uma enorme importância e exercem um terrível
condicionamento. Daí que a mulher precise de “policiar” o próprio desejo, pela
simples razão de que afinal não se trata do “próprio desejo”.
Por vezes, as mulheres sentem que a conduta
sexual a que “livremente” se entregam lhes
transmite uma auto imagem negativa; sempre que isso acontecer, precisam de
perceber o que se está a passar, precisam de explicar essa “dissonância
cognitiva”.
Isto que até ao momento referi, nada
tem a ver com os preconceitos de uma moral sexual repressora que advoga pureza
e castidade para as mulheres; bem pelo contrário, penso que a experiência de separar o sexo do comprometimento amoroso é tão importante para mulheres como
o tem sido para homens. Tem a ver sim com assertividade, com autodeterminação,
com atividade e procura.
Se os homens - que me perdoem porque
a culpa não é toda deles - não fossem tão tontos, já teriam percebido que o que
lhes dá prazer a eles não é necessariamente o que nos dá prazer a nós. Já
teriam percebido o porquê das dores de cabeça das “esposas” (que já “laçaram” o
seu homem). Por seu lado, as mulheres, porque não têm poder negocial, em vez de
enfrentarem o problema enveredam por estratégias manhosas de manipulação. No
fim ficam todos/as a perder.
O sexo pode ser bom, mas, muitas
vezes, para as mulheres, mesmo para as tais liberadas ou que se julgam liberadas,
não é! Porquê? Será porque não têm controlo sobre o seu próprio corpo e estão
condenadas a “viver” uma sexualidade falocêntrica?
Começar a debater seria e
serenamente estas questões, em vez de pensar que são apenas os velhos tabus
moralistas que afastam as mulheres de uma vida sexual gratificante seria uma
boa opção. Até lá, a tão propalada revolução sexual não passará de mais um mito.
Claro que há sempre gente que gosta de acreditar em mitos; é mesmo para isso
que eles existem.
Sim, esse assunto é muito interessante. Eu acredito que a sexualidade é algo amplo, não podemos nos focar somente na questão ato sexual em si, nas relações homem e mulher (como fazem muitas adeptas da liberação sexual), mas na questão da própria identidade do ser humano. Eu acho que a mulher é condicionada socialmente pra se esquecer de si, pra se "apagar . Ela não tem identidade, ou seja, ela não é vista como um sujeito afirmativo, que tem vontades, desejos, que fala " sim" ou "não" Os homens falam mal das mulheres mas é como se eles próprios tivessem criado aquilo que eles criticam. Eu acredito que a mulher afirmativa quer transar com alguém que ela gosta, com carinho, amizade. Não acredito que existiriam "cafajestes" se as mulheres fossem incentivadas quando meninas a desenvolver e aceitar o desejo de seu coração. Eu acho que todos nós queremos carinho, sensualidade, amizade, companheirismo.E na vida reconhecimento, participação, qualidade, atividade. Um sexozinho simples de um homem e uma mulher íntegro, autônomos e maduros pega muito mais fogo do que qualquer pornografia - que é uma tentativa desesperada e fracassada de deixar o sexo "quente" (onde não se consegue nada mais que novamente a humilhação da mulher e a negação do desejo feminino). Tem muita mulher que compra revistas que ensinam a "salvar seu casamento apimentando o sexo oral" enquanto a chama só vai mesmo acender quando ela se individualizar. A dominação masculina, o homem do jeito que é e as coisas que acontecem só acontecem devido à permissão feminina. Claro que não sabemos que tipo de violência ou privações as mulheres sofreram no passado para as coisas terem ficado assim, mas agora, oq precisamos é tentar resgatar os cacos de nossa alma , prestar atenção pra que isso nunca mais aconteça e tentar deixar uma perspectiva melhor para nossos descendentes.
ResponderEliminarsabe..graças aos deuses,santos,etc que esses assuntos estão começando a ser questionados no meio feminista...já estava de saco cheio de ser apedrejada por criticar essa pseudo liberdade sexual que só favoreceu o homem.Hoje estamos mais mercantilizadas que nunca,e achamos isso positivo,fruto de uma liberação pautada em valores machistas da pornografia.O curioso é que vejo toneladas de reclamações femininas,inclusive de feministas apoiadoras de todo esse lixo aí citado...mas insistem nesta bodega.
ResponderEliminarPelo menos um pouco de saniodade...mas é aquela velha questão: como fazer a mulherada enxergar isso,sem nos destruirmos? Vocês sabem...o quanto de ofensa a mulher sem senso crítico nos direciona...